No comitê de orçamento da Câmara dos Deputados, em Washington, o secretário de Justiça dos Estados Unidos, William Barr, reiterou que entregará o relatório do procurado especial Robert Mueller ao Congresso na próxima semana. Barr havia sido convocado para expor aos deputados no último dia 22, antes da conclusão da investigação sobre o Russiagate, o envolvimento de Moscou na campanha eleitoral de Donald Trump em 2016. Acabou sem ter como escapar da pressão dos democratas, agora maioria naquela casa do Congresso e ávidos para ler as 400 páginas do documento integral.
Barr, entretanto, soube com o irritar deputados democratas ao se recusar a fazer comentários sobre o teor das conclusões de Mueller, que passou quase dois anos investigando o caso. Disse que vai suprimir do texto o material que, sob o critério do Departamento de Justiça, deve ser mantido fora do alcance do público e dos parlamentares. Entre eles, as revelações que possam comprometer agentes ou serviços de inteligência. Mas prometeu ser “transparente” e justificar as linhas que chegarem cobertas por tarja preta.
O anúncio sinaliza uma possível batalha jurídica entre o Departamento de Justiça e os democratas. Se quisesse, Barr poderia pedir permissão judicial para liberar certos conteúdos da investigação, como os depoimentos feitos por testemunhas a corpos de jurados, que decidiram pelo indiciamento de dezenas de pessoas investigadas por Mueller. O líder do Comitê de Justiça da Câmara, o democrata Jerry Nadler, reagiu dizendo que vai intimar Barr a entregar o relatório completo, sem censura.
Embora o presidente Donald Trump tenha dito que não leu o relatório, Barr não respondeu se a Casa Branca teve acesso ao conteúdo integral desde que ele tornou público um curto resumo, no dia 24 de março. No resumo, o secretário de Justiça afirmou que a equipe de promotores de Mueller não encontrou prova de crime de conluio da campanha Trump com a Rússia nas eleições de 2016.
Mas, quanto ao crime de obstrução de Justiça, Barr citou no resumo as palavras de Mueller: “enquanto este relatório não conclui que o presidente cometeu um crime, tampouco o isenta.” A afirmação não impediu o presidente americano de se autodeclarar completamente isento desse delito, em uma onda de tuítes e discursos eufóricos.
O secretário de Justiça anunciou também que está conduzindo uma revisão da investigação de contra-inteligência sobre o esforço russo de influenciar a eleição, iniciada pelo FBI em julho de 2016. A investigação foi o motivo alegado por Trump para demitir o diretor do FBI, James Comey, em maio de 2017. Comey e o FBI se tornaram alvos favoritos de Trump e dos republicanos.
Imigração
Visivelmente defensivo no Comitê de Orçamento, William Barr foi questionado sobre a notícia de que Trump poderia restabelecer a politica de separar crianças de seus pais quando ingressarem nos Estados Unidos, vindos do México, em busca de refúgio. Ele se declarou apenas “a favor da política do presidente”, obrigado a voltar atrás sobre a separação forçada, em junho de 2018, depois da revolta causada até entre republicanos. Cenas de desespero de famílias e de crianças alojadas em jaulas no Texas provocaram a opinião pública dos Estados Unidos.
A insistência em voltar a separar famílias teria motivado, em parte, a demissão da secretária de Segurança Nacional, Kirstjen Nielsen, no domingo, 7. Barr disse não ter conhecimento de planos para reverter a política na fronteira, em claro sinal de que a Casa Branca está no controle do sistema de imigração, liderado pelo assessor político linha dura Stephen Miller, inimigo de Nielsen.