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Reino Unido: a estranha eleição pré-Brexit

Principais líderes partidários fazem uma campanha quase silenciosa e sem debate

Por Verônica Sesti, de Londres
Atualizado em 5 jun 2017, 14h17 - Publicado em 5 jun 2017, 14h17

Na próxima quinta-feira, 8, os britânicos voltarão às urnas após apenas pouco mais de dois anos das últimas eleições gerais no Reino Unido. Apesar de negar inúmeras vezes a possibilidade de tomar tal medida, Theresa May convocou o pleito em abril sob o pretexto de resolver as disputas internas e a desunião em Westminster. May queria fortalecer sua posição diante dos sócios europeus, com quem o novo governo terá de negociar o Brexit. A saída da União Europeia, decidida em referendo em junho do ano passado, deve acontecer até março de 2019.

O receio da premiê era lidar com uma oposição parlamentar que frustrasse seus planos de uma dura saída do bloco, que gere uma ruptura também de circulação de bens e serviços. Mas, poucos dias antes da votação, nada garante que o partido de May saia mais fortalecido. As pesquisas indicam uma diminuição no favoritismo dos conservadores, que em abril, estavam a frente com 48% dos votos, seguidos pelos trabalhistas com apenas 24%. Um estudo da empresa de pesquisas YouGov chegou a apontar que May terá dificuldades até mesmo para manter a maioria no Parlamento e a diferença entre as legendas é de apenas 1%.

A possibilidade de uma vitória trabalhista é muito improvável para os especialistas, assim como a eleição de uma maioria esmagadora de conservadores no parlamento. “Não há grandes esperanças de mudança. O Brexit  já foi decidido e os britânicos estão conformados. Não deve haver grande mudança quanto ao número de assentos de cada partido dentro do Parlamento”, diz o cientista político italiano Marco Gianni, da London School of Economics.

Eleição silenciosa

O clima na capital, Londres, traduz o desânimo dos eleitores até para padrões britânicos. No Reino Unido, o período de campanhas políticas dura por lei apenas 25 dias e, desta vez, está especialmente silenciosa. As ruas se mantém calmas – sem grandes espetáculos na mídia, sem distribuição de santinhos a cada esquina, com entrevistas curtas e diretas na televisão e sem nenhum debate televisionado entre os dois principais líderes partidários.

A decisão de não debater diretamente com seus adversários nestas eleições foi exclusivamente de May, que quis evitar perder apoio em discussões com os demais candidatos. A ausência do debate não foi  bem-vista entre os eleitores e é alvo de ataque de seus adversários, que classificam a estratégia como covardia.

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Como funciona o sistema britânico?

Ao contrário do Brasil, no Reino Unido o voto não é obrigatório. Os indivíduos que desejam participar do pleito precisam se inscrever previamente em registros governamentais. Nesta monarquia constitucional, o sistema eleitoral é baseado em distritos, que são pequenas áreas geográficas com cerca de 60,000 eleitores cada. Isso significa que no dia 8 de junho, eleitores de todo o país não votarão diretamente nos candidatos a primeiro-ministro. Eles votarão em lideranças regionais que tomarão assentos na chamada  House of Commons. Ao todo, são 650 distritos e, portanto, elegem-se 650 membros parlamentares, um para cada região.

Curiosamente, estes políticos não precisam da maioria dos votos para vencer, apenas mais votos do que seus adversários. É o líder do partido com 326 ou mais eleitos que se torna primeiro-ministro. Normalmente, o poder é disputado efetivamente pelos conservadores (ou Tories) e os trabalhistas. Em casos raríssimos, se nenhum deles receber os 326 votos, as duas grandes legendas formam alianças com facções menores para constituir uma maioria parlamentar. Isso aconteceu pouquíssimas vezes na história do país – a última delas em 2010 com o ex-premiê David Cameron. Com predomínio no parlamento, o líder do partido é então convidado pela rainha a se tornar primeiro-ministro e formar seu governo.

Qual a plataforma política dos candidatos?

Ao contrário da eleição de 2015, quando as duas grandes legendas apresentavam propostas mais próximas sobre assuntos internos, nestas eleições enxergam-se drásticas mudanças nos posicionamentos e programas políticos. De um lado, os trabalhistas conduzidos por Jeremy Corbyn cada vez mais à esquerda, são contrários a uma dura saída do bloco europeu e focam a campanha em ideias como a estatização das ferroviárias, estudos universitários gratuitos para os jovens e maior investimento no sistema de saúde publica. Na outra ponta,  May e os conservadores miram o discurso em um Brexit rígido, com posições nacionalistas sobre política externa e outras, mais moderadas, em aspectos econômicos e sociais. Alguns dos planos são  inusitados para a legenda, como por exemplo a Dementia Tax – que cobraria tratamento de saúde de idosos de classes mais altas com doenças crônicas,  que supostamente poderiam pagar por despesas de saúde.

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“Antes tínhamos um programa econômico e de taxação mais próximos da direita tradicional e muito menos preocupado com temas como a imigração. A política externa se tornou mais nacionalista e, ao mesmo tempo, a plataforma é menos de direita em termos de políticas econômicas e sociais. Não está em seu programa cortar taxas existentes para os ricos, por exemplo, ou retirar benefícios de desempregados”, diz Gianni.  “A maioria dos eleitores do partido nacionalista mais radical, UKIP, votarão nos Tories devido ao Brexit. A estratégia de promover medidas mais esquerdistas na política interna é uma manobra para ganhar os votos dos moderados e daqueles que estão descontentes com as propostas radicais de Corbyn”.

Durante a campanha, Corbyn e os trabalhistas se empenham em aparições na televisão e em campanhas online, em busca dos votos dos jovens nas redes sociais. Com hashtags como a #grime4corbyn, por exemplo, distribuiu ingressos de festas para jovens que inscrevessem no sistema eleitoral.

Resta saber se o plano dará resultado. “Corbyn está tentando atrair o voto dos jovens e dos indecisos. É uma estratégia nova, difícil de saber no que resultará”, esclareceu o britânico Jean-Paul Salter, cientista politico da Kings College London.  “Por um lado, movimentando-se mais para esquerda, ele atrai os jovens e aqueles que nunca se sentiram representados. Por outro, acaba afastando seu eleitorado antigo, assustado  com suas políticas mais radicais”, diz.

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