Regime bielorrusso interroga Svetlana Aleksiévitch, Nobel da literatura
Escritora, que compõe conselho da oposição criado para fazer uma transição democrática, se recusou a cooperar com governo de Lukashenko
A ganhadora do Prêmio Nobel da Literatura Svetlana Alexievich foi interrogada na Belarus nesta quarta-feira, 26. O procedimento faz parte de uma investigação do regime de Alexander Lukashenko sobre um conselho da oposição, que considera sua reeleição ilegítima e deseja realizar uma transição política no país.
Apelidado de “último ditador da Europa“, Lukashenko é presidente há 26 anos e enfrenta pressão para renunciar desde que a população iniciou manifestações após sua vitória nas urnas no dia 9, considerada fraudulenta por bielorrussos e pela comunidade internacional. O líder do país descreveu o conselho como uma tentativa de golpe, e promotores abriram um processo criminal.
Aleksiévitch, que ganhou o Nobel em 2015 por seus livros-reportagem sobre a antiga União Soviética, integra o grupo de sete pessoas do conselho e foi intimada a depor como testemunha, segundo o jornal britânico The Guardian.
“Nosso objetivo é unir a sociedade e ajudar a superar uma crise política”, disse ela ao chegar ao prédio do comitê investigativo, no centro da capital, Minsk. “Devemos vencer com nosso espírito e a força de nossas crenças”.
Depois de 40 minutos de interrogatório, ela saiu do edifício dizendo que se recusou a responder as perguntas, porque “não sou obrigada a testemunhar contra mim mesma, e não acho que as ações do conselho sejam ilegais”.
No início deste mês, em entrevista à Radio Free Europe/Radio Liberty, Aleksiévitch pediu que Lukashenko renunciasse. “Saia antes que seja tarde demais, antes de mergulhar as pessoas em um abismo terrível, no abismo da guerra civil … Ninguém quer sangue. Só você quer poder. E é o seu desejo de poder que requer sangue”, disse ela.
Outros membros do conselho, como o ex-ministro da Cultura Pavel Latushko, também foram interrogados, segundo a emissora alemã Deutsche Welle. Já Sergei Dylevsky e Olga Kovalkova, que também compõem o órgão, foram condenados a 10 dias de prisão nesta terça-feira 25, sob a acusação de organização de greve ilegal.
“Pedimos a todos os funcionários que estão tomando decisões sobre o destino do país que parem de enterrar a cabeça na areia. Pressionar os membros do conselho é tão inútil quanto esperar que os bielorrussos se esqueçam do que aconteceu ou perdoem aqueles que cometeram crimes”, comunicou o conselho da oposição.
Após as eleições, nas quais Lukashenko afirmou ter conquistado 80% dos votos, sua adversária, a professora Svetlana Tikhanovskaya, fugiu para a vizinha Lituânia, citando a segurança de sua família. Os contínuos protestos só aumentam devido à violência policial contra os manifestantes.