Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

Quais são os impactos psicológicos de passar quase 20 dias em uma caverna?

Doze garotos e seu treinador de futebol ficaram mais de duas semanas presos dentro de uma montanha na Tailândia – nove dias isolados, sem luz, comida e água

Por Leticia Fuentes Atualizado em 30 jul 2020, 20h15 - Publicado em 10 jul 2018, 18h29
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Todos os doze garotos e o treinador de futebol presos em uma caverna na Tailândia por mais de duas semanas foram resgatados com sucesso nesta terça-feira (10). Por se tratarem de crianças – com exceção do técnico, de 25 anos, todos tinham entre 11 e 16 anos – os impactos psicológicos dessa experiência podem ser graves, explica a médica Alexandrina Meleiro, da Associação Brasileira de Psiquiatria e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

    “Nessa fase, o cérebro ainda está em formação”, diz a especialista, indicando que este é um fator agravante para os impactos negativos dessa experiência na vida dos jovens. “A principal coisa que pode acontecer é que essas crianças desenvolvam um transtorno de estresse pós-traumático, que as faria reviver o tempo todo aqueles momentos.”

    Os garotos permanecem em quarentena no hospital por mais sete dias, para a verificação de infecções ou de outras doenças que eles possam ter contraído durante a longa permanência na caverna.

    Os jovens desapareceram em 23 de junho e foram encontrados presos dentro da caverna inundada nove dias depois. Durante esse período, eles permaneceram sem água, comida, luz e perspectiva de resgate. Quando o grupo de socorristas britânicos conseguiu chegar até eles, os meninos agiram como se fossem apenas exploradores que os encontraram acidentalmente. Disseram estar com muita fome e precisarem de ajuda.

    As operações de resgate duraram três dias de operações e envolveram mais de 90 mergulhadores tailandeses e estrangeiros. Os primeiros meninos só conseguiriam sair do local seis dias depois, permanecendo um total de 15 dias enclausurados. Os últimos deles, resgatados somente hoje, passaram 18 dias dentro da caverna.

    Continua após a publicidade

     

    Segundo a psiquiatra brasileira, os sintomas do estresse pós-traumático costumam se manifestar de maneira diferente nas pessoas. Segundo a psiquiatra, é possível que jovens apresentem comportamentos de hipervigilância, distúrbios do sono, pesadelos recorrentes, flashbacks (lembranças repentinas) e até desenvolvam fobias relacionadas aos acontecimentos, como claustrofobia (pavor de espaços fechados) ou nictofobia (medo do escuro).

    O episódio também poderia intensificar problemas psicológicos prévios ou disparar o gatilho de alguma pré-disposição genética. Ainda assim, o surgimento desses sintomas depende do preparo psicológico a ser dado às vítimas desses traumas.

    “O mais positivo nesse episódio foi o fato de que, durante todo o resgate, as equipes se esforçaram para manter a esperança. Isso foi positivo para os meninos e também para as suas famílias, que devem manter-se estruturadas para receber esses adolescentes depois de tudo o que aconteceu”, diz Alexandrina.

    Continua após a publicidade

    Mesmo após a morte de um mergulhador tailandês que levava tanques de oxigênio para uma possível rota de fuga dentro da caverna, os socorristas e os familiares se mantiveram otimistas em relação à possibilidade de um resgate bem-sucedido. Além disso, os jovens puderam se comunicar com seus parentes por meio de cartas, o que ajudou a aliviar parte da tensão e da ansiedade dos pais e dos próprios meninos.

    Houve também um esforço por parte das autoridades tailandesas para preservar a identidade dos garotos. A retirada deles da caverna e o transporte ao hospital ocorreram discretamente, e os nomes dos adolescentes permanecem ainda sob sigilo. Isso ajudou a manter as famílias daqueles que ainda permaneciam na caverna igualmente esperançosas e evitou que elas fossem excessivamente assediadas.

    “Todos esses detalhes são importantes para minimizar os impactos emocionais dessa experiência”, afirma Alexandrina. Para a especialista, os meninos ainda devem passar por um acompanhamento psicológico e psiquiátrico para verificar maiores transtornos. Mas, a menos que algum distúrbio sério seja identificado, é pouco provável que eles precisem de atendimento profissional para o resto da vida.

    Continua após a publicidade

    “Graças a toda a ajuda que eles estão recebendo, felizmente, os impactos desse trauma não devem ser tão grandes quanto poderiam ser caso as equipes de resgate não tivessem atuado com esses cuidados”, diz a psiquiatra. “Em casos como o desastre de Mariana, por exemplo, em que as vítimas não receberam todo esse atendimento profissional, os índices de depressão, ansiedade e abusos de substâncias são muito altos por causa do trauma que aquela situação desencadeia.”

    Com o acompanhamento adequado, explica a médica, o mais provável é que aquela experiência sirva para aumentar a resiliência dos meninos tailandeses, que pode ser definida como a capacidade emocional de lidar com situações adversas. Ainda assim, é importante avaliar cada caso separadamente, considerando as experiências particulares dos meninos.

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.