O presidente da Rússia, Vladimir Putin, apresentou nesta terça-feira, 3, uma proposta de emenda à Constituição que proíbe o casamento entre pessoas do mesmo sexo. No texto, a definição do matrimônio seria restrita à união de um homem e uma mulher.
Putin há muito se conchava com a Igreja Ortodoxa Russa, que o apoia, e promove o distanciamento dos valores liberais do Ocidente. Em 2013, aprovou uma lei que bane a disseminação de “propaganda gay”, com mensagem de legitimação da homossexualidade, para menores de idade. Antes disso, a homossexualidade era oficialmente criminalizada até 1993 e considerada uma doença mental até 1999.
No mês passado, Putin afirmou que o país não veria a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo enquanto permanecer no poder. “Enquanto eu for presidente, isso não acontecerá. Haverá um pai e uma mãe”, disse o líder russo, de acordo com o jornal britânico The Guardian.
A proposta está entre as várias emendas constitucionais apresentadas por Putin, que devem ser postas em votação pública em 22 de abril, mas antes disso ela deve obter a aprovação final do parlamento e do Tribunal Constitucional. Entre elas está a que fortaleceria o poder do primeiro-ministro, cargo que deverá assumir a partir de 2024.
No documento de 24 páginas, o presidente também nomeia a Rússia como sucessora da União Soviética. Mas, em contradição com o ateísmo do período comunista, menciona explicitamente a “fé em Deus” dos russos. Também garante a “defesa da verdade histórica” em relação ao papel soviético na Segunda Guerra Mundial, criticado também por perseguições aos judeus e por outros crimes.
Enquanto muitos russos se identificam como cristãos ortodoxos, o estado russo é oficialmente secular. A constituição atual é de 1993, quando o então presidente Boris Yeltsin, o responsável pela ascensão política de Putin, promoveu a aproximação dos valores ocidentais.
O pacote também inclui a proibição de ceder qualquer território, o que fortaleceria a ocupação russa na Crimeia – região da Ucrânia anexada em 2014 – e nas Ilhas Curilas, disputadas com o Japão desde a Segunda Guerra Mundial, segundo a emissora britânica BBC.
Críticos enxergam nas propostas uma jogada de Putin para manter o poder depois do fim de seu mandato em 2024. Presidente pela quarta vez consecutiva, ele já é a figura dominante na política russa há 20 anos.