Milhares de manifestantes se reuniram no domingo 18 nos entornos da Praça Itália, no centro de Santiago, para comemorar o primeiro aniversário dos grandes protestos do ano passado contra a desigualdade no Chile. A noite, no entanto, foi marcada pelo incêndio da Igreja de Assunção e por confrontos com a polícia, que resultaram na prisão de cerca de 600 pessoas.
“Queimar igrejas é uma expressão de brutalidade”, afirmou o ministro do Interior e Segurança, Víctor Pérez, ao destacar que durante o dia a polícia protegeu as estações de metrô de Santiago, os ônibus do transporte público e outros alvos dos violentos ataques do ano passado.
O ministro afirmou que “grupos minoritários” dentro da manifestação foram responsáveis pelos atos de violência.
A estrutura foi atacada por manifestantes encapuzados no momento em que várias horas de manifestação pacífica ocorreram ao redor da Praça Itália que comemorava o início dos protestos de 18 de outubro de 2019.
Antes, bem próximo ao local onde ocorreu o incêndio, uma igreja popular entre policiais foi saqueada e incendiada, mas os bombeiros conseguiram apagar as chamas antes que elas causassem maiores danos.
O subsecretário do Interior, Juan Francisco Galli, disse que houve “uma distinção muito clara sobre como evoluiu o dia”, que teve por um lado uma manifestação pacífica e por outro graves atos de violência.
Durante o dia também ocorreram incidentes em outros bairros de Santiago e em outras cidades do país, que resultaram em um total de 580 detidos, 287 deles na região metropolitana. Já à noite, houve saques e tentativas de saque; barricadas e ataques a quartéis da polícia, com um total de 107 incidentes graves em todo o país, segundo Galli.
Desde cedo, os manifestantes – na maioria jovens, mas também famílias e idosos – compareceram à Praça Itália, rebatizada pelos manifestantes como “Praça da Dignidade”, para comemorar o dia em que “o Chile acordou”, como afirmam os manifestantes, mas também para se reunir novamente em um grande protesto após meses de pausa devido à pandemia.
Os protestos de 2019 pediam uma nova Constituição, especialmente no que diz respeito a benefícios sociais. A Carta atual é herança do período ditatorial do país, que foi comandado pelo general Augusto Pinochet (1973-1990). Como resultado das manifestações, o governo decidiu aplicar um plebiscito sobre a abertura de uma constituinte, que será votado no dia 25 de outubro.
A manifestação de domingo aconteceu uma semana antes do plebiscito em que os chilenos vão decidir se mudam ou não a Constituição que permanece como herança da ditadura.
Várias pesquisas apontam que a opção de aprovar a mudança constitucional poderá vencer com mais de 60% dos votos, após um ano em que a demanda por maior bem-estar social tem um apoio transversal na sociedade, além de uma forte condenação à violência nas ruas.