Soldados das Forças Armadas do Mali, país do oeste da África, se amotinaram e detiveram nesta terça-feira, 18, o presidente do país, Ibrahim Boubacar Keita, e o primeiro-ministro, Boubou Cissé, além de outros membros do governo. Não há confirmação sob o paradeiro de Keita nem de Cissé, e a emissora de TV estatal do Mali está fora do ar desde o anúncio da detenção.
“Podemos dizer que o presidente e o primeiro-ministro estão sob nosso controle. Nós os detivemos em suas casas”, declarou uma liderança do motim que não quis se identificar. Outra fonte militar acrescentou que Keita e Cissé estão em “um veículo blindado com destino a Kati”, um acampamento militar nos arredores da capital, Bamako, onde o motim começou na manhã desta terça.
A situação continua confusa na capital. “Soldados furiosos pegaram em armas no acampamento de Kati e atiraram para o ar. Eram muitos e eles estavam muito nervosos”, disse um médico local que presenciou o início do movimento.
As razões de tal ação ainda não estão claras. Até então, não há informações sobre a liderança do motim nem sobre quem assume o governo se Keita e Cissé forem depostos.
Opositores de Keita responsabilizam o presidente pela corrupção no governo e pela incapacidade do Estado de conter atos de violência causados por milícias fundamentalistas islâmicas no norte e no centro do país. Protestos significativos pela renúncia do presidente têm sido convocados desde junho por uma coalizão de partidos da oposição, lideranças religiosas (o país é majoritariamente muçulmano) e organizações da sociedade civil.
Nouhoum Togo, um porta-voz dessa coalizão, que se denomina M5-RFP, não assumiu a autoria do motim, mas afirmou que o episódio desta terça “não é um golpe militar, mas uma insurreição popular”.
Depois da notícia da detenção do presidente e do premiê, centenas de pessoas se mobilizaram pelas ruas em apoio ao motim.
Repercussão
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, condenou no fim da tarde a ação dos militares, e pediu a “libertação imediata e sem condições” de Keita.
“O secretário-geral apela à restauração imediata da ordem constitucional e do Estado de direito no Mali”, afirmou o porta-voz das Nações Unidas, Stephane Dujarric, em um comunicado.
A pedido da França, que tem um passado colonial com o Mali, e do Níger, que preside atualmente a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental, o Conselho de Segurança das Nações Unidas realizará uma reunião de emergência na quarta-feira, 19, sobre a crise no pais africano.
Mais cedo, o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, também condenou as detenções.
“Condeno energicamente a detenção do presidente, do primeiro-ministro e de outros membros do governo do Mali, e peço sua libertação imediata”, escreveu Faki em sua conta oficial no Twitter.
I strongly condemn the forced detention of President Ibrahim Boubacar Keita of #Mali, the Prime Minister and other members of the Malian govt, and call for their immediate release. My full statement:https://t.co/zvJVuJJbjp
— Moussa Faki Mahamat (@AUC_MoussaFaki) August 18, 2020
A embaixada dos Estados Unidos em Bamako emitiu um alerta nesta manhã devido a “relatos de tiros e agitação e de soldados dirigindo caminhões e disparando suas armas para o ar”, embora o governo americano não tenha se pronunciado até o momento.
(Com AFP e EFE)