A cadeira que seria ocupada pela ministra da Justiça da França, Christiane Taubira, na cerimônia em homenagem aos 800.000 mortos no genocídio de Ruanda, há vinte anos, ficou vazia. O governo francês decidiu não participar do evento em reação às declarações do presidente ruandês, Paul Kagame, que acusa o país de ter tido participação na matança.
A acusação não é nova, mas as divergências reavivadas pelos vinte anos do massacre ocorrem em um momento importante para a relação entre os dois países, destacou o New York Times. Ruanda tenta manter seu crescimento econômico e sua reputação com um país estável no continente, enquanto a França está em meio a esforços para controlar os confrontos na República Central Africana, que muitos temem podem resultar em uma situação como a ocorrida em Ruanda em 1994.
Em uma entrevista à revista Jeune Afrique, Kagame apontou o “papel direto de Bélgica e França na preparação política do genocídio” e disse que tropas francesas tiveram uma participação “ativa” nas mortes, defendendo que a responsabilidade dos soldados foi muito maior do que o país admite.
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A chancelaria francesa declarou “surpresa” com as declarações do presidente de Ruanda. “Essas acusações vão contra o processo de diálogo e reconciliação mantido por vários anos entre os dois países”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores, em comunicado.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, participou de uma cerimônia nesta segunda na capital Kigali e disse que a organização ainda lamenta por ter falhado na prevenção do genocídio. O secretário admitiu que as tropas de paz foram retiradas do país quando eram mais necessárias. “Poderíamos ter feito muito mais. Deveríamos ter feito muito mais”, disse. Ele acrescentou que o mundo ainda tem de superar completamente suas divisões, sua indiferença”, citando as atrocidades em Srebrenica, em 1995, e que os conflitos atuais na Síria e na República Centro Africana.
Pelo menos 800.000 pessoas, em sua maioria tutsis e hutus moderados, foram massacrados por milícias hutus. A matança chegou ao fim em julho de 1994, quando um movimento rebelde liderado por tutsis derrotou o Exército e as milícias hutus e assumiu o controle do país. Nesta segunda, Ban Ki-Moon e o presidente Kagame acenderam uma tocha que deverá permanecer acessa durante 100 dias – o período em que o massacre durou.
Recentemente, o governo de Kagame foi acusado de apoiar rebeldes na República Democrática do Congo – o governo britânico retirou 38 milhões de dólares em ajuda financeira a Ruanda por causa do apoio aos rebeldes. As acusações contra a França, que sempre surgem perto da data do aniversário do genocídio, é vista por alguns críticos como uma forma de o presidente ruandês desviar a atenção do público interno das ações controversas de sua gestão.
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