O presidente da Guiana, Irfaan Ali, gravou um pronunciamento neste domingo, 3, onde classificou o referendo para consultar a população venezuelana sobre uma possível anexação do território de Essequibo à Venezuela como uma “controvérsia” e ressaltou que “não há nada a temer”. No vídeo, o presidente disse que ações de vigilância para fortalecimento das fronteiras estão sendo realizadas e cobrou respeito às leis internacionais.
Ali afirmou que o episódio tem recebido atenção de diferentes partes do mundo não tem relação com um suposto “aumento da ameaça e da imprudência da Venezuela”. “Isso é um resultado direto do nível de consciência da Guiana. Sempre afirmamos que a nossa primeira linha de defesa é a diplomacia e estamos muito fortes nessa linha”, declarou.
No ponto mais alto do pronunciamento, o presidente afastou rumores de medo diante da investida pelo território. “Asseguro à Guiana que não há nada a temer durante as próximas horas, dias e meses. Mas, é claro, nossa vigilância vai melhorar. Estamos trabalhando 24 horas para garantir que nossas fronteiras permaneçam intactas e que nosso povo e nosso país permaneçam em segurança.”
Em outro momento, elogiou a população guianense. “Estou muito orgulhoso da forma que nosso povo está enfrentando o desafio. O nível de patriotismo, amor, união é algo que devemos levar adiante e deve se converter em parte inerente de nós.”
Apoio internacional à Guiana
O presidente declarou que tem recebido apoio de outros países, como Reino Unido, Estados Unidos, França e Canadá, e, ao longo de seu pronunciamento, manteve um tom moderado e sem ataques ao país vizinho. Também não citou nominalmente o presidente venezuelano Nicolás Maduro.
“Não vou entrar na política interna nem na formulação das políticas da Venezuela, mas quero advertir que é uma oportunidade para que o país demonstre maturidade, responsabilidade e os convoco, mais uma vez, para que se juntem a nós e permitam que o Estado de Direito funcione e determine o resultado dessa controvérsia.”
Ele também evocou a proximidade entre os países e até a citação bíblica de João 13:34 ao se dirigir à população da Venezuela. “Quero falar diretamente ao povo venezuelano e dizer que nós somos vizinhos e que nos ensinam a amar ao próximo como amamos a nós mesmos. Viveremos juntos como vizinhos mesmo depois dessa controvérsia e vocês têm de determinar dentro de vocês mesmos se querem fazer parte de um sistema que anda mal com a lei internacional.”
Referendo
País de apenas 804.000 habitantes — menos da metade da população de Caracas, por exemplo –, a Guiana entrou na mira do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que quer anexar mais de 60% do território do país vizinho. A ameaça deve aumentar a partir deste domingo, 3, quando os venezuelanos irão às urnas em referendo para dizer se apoiam ou não a pretensão de seu dirigente.
A reivindicação territorial da Venezuela não é nova, mas cresceu nas últimas semanas em razão de dois fatores: a proximidade das eleições no país, em 2024, e o boom econômico do vizinho na esteira do avanço da exploração de petróleo.
O alvo da cobiça é a região de Essequibo, uma área de 160 mil quilômetros quadrados formada em sua maioria por uma densa floresta cortada por rios caudalosos, que faz fronteira com Roraima e que representa dois terços do território da Guiana. O interesse de Maduro se ampliou nos últimos anos com as descobertas de petróleo no litoral da região, cujo potencial ultrapassa 11 bilhões de barris. O petróleo fez com que a economia do país quadruplicasse nos últimos cinco anos.
O mineral explorado na Guiana é semelhante ao que é retirado na Venezuela, o que aumentou o interesse de Maduro pela anexação Essequibo, onde está a maior parte da produção do vizinho. A tentativa de anexação, no entanto, já provoca reação de potências como o Reino Unido – até 1966 a Guiana era uma colônia britânica –, dos Estados Unidos e da França.
Reportagem de VEJA desta semana mostra como a movimentação de Maduro virou um grande problema para Lula, que é o principal aliado na região do regime chavista.