A Assembleia Nacional de Cuba divulgou nesta quinta-feira o resultado da sessão parlamentar para eleger o novo presidente da ilha, uma transição histórica depois de seis décadas dos irmãos Castro no poder. O escolhido, o até então vice-presidente Miguel Díaz-Canel, é o primeiro líder do país a não ter participado da revolução cubana.
Agora oficialmente ex-presidente, Raúl Castro, de 86 anos, já havia anunciado em 2008, quando assumiu como sucessor de seu irmão Fidel no poder, que passaria apenas dois mandatos de cinco anos na presidência do país. Mas especialistas acreditam que, além disso, a troca é motivada por uma necessidade do Partido Comunista de Cuba (PCC) – o único da ilha – de se renovar.
“Ele está deixando a presidência porque está velho. O partido entendeu que seria necessário trocar o poder para trazer uma figura nova, uma renovação”, explica Alberto Pfeifer, coordenador do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo (USP). Ainda assim, ressalta o especialista, essa mudança representa muito mais um ato simbólico do que uma ruptura.
“O Partido Comunista vai continuar no poder, a manutenção do regime vai ocorrer. A diferença é que Díaz-Canel é muito mais discreto, moderno, tecnológico e próximo da juventude. Ele está preparando o país para as novas gerações, porque a geração da revolução já ficou para trás”, afirma.
Pfeifer avalia que o novo presidente deve continuar a transição econômica e social, lenta e controlada, que se iniciou com Raúl Castro, aproximando Cuba de outros países que, antes, não eram vistos como aliados.
“Com a crise na Venezuela, um país que sempre foi considerado um aliado cubano, Díaz-Canel terá de buscar novas opções. A tendência é que ele continue a reaproximação com os Estados Unidos, que foi acelerada no governo de [Barack] Obama, estagnou quando [Donald] Trump entrou no poder e agora deve avançar novamente.”
Díaz-Canel assumiu oficialmente como presidente de Cuba às 9h30 (10h30, no horário de Brasília), em Havana, após uma sessão parlamentar de dois dias. A troca originalmente estava prevista para acontecer em fevereiro, porém, com a temporada de furacões que devastaram o país no final de 2017, teve de ser adiada.
Raúl Castro, apesar de deixar o cargo máximo da República, continuará como líder do Partido Comunista até 2021 e permanecerá ativo na política. Ele foi eleito deputado com 98% dos votos em março deste ano.