O Partido Socialista de Portugal venceu com folga as eleições legislativas realizadas no país neste domingo, 6, mas o atual primeiro-ministro, António Costa, precisará de alianças para governar pelos próximos quatro anos. Para seguir no poder, o premiê terá que reeditar a “geringonça”, apelido dado para a atual coalizão governista, ou buscar novos aliados no parlamento.
Com 98,88% das urnas apuradas, o Partido Socialista obteve 36,67% dos votos, uma vantagem superior a oito pontos percentuais para o segundo colocado, o Partido Social-Democrata (PSD), principal sigla da oposição, que ficou com 27,96%.
Em um pleito marcado pela alta abstenção, que supera os 44% de 2015, os socialistas ampliaram de forma substancial o número de cadeiras no parlamento — antes eram 86 –, mas não terão maioria absoluta, algo nunca explicitamente pedido à população por Costa e seus correligionários, mas um desejo da legenda, sugerindo nas ações do partido ao longo da campanha.
Apesar da vantagem insuficiente para governar sozinho, Costa entra nas negociações para formar um novo governo amplamente respaldado pela população. A primeira opção do premiê português é reeditar a “geringonça”, a coalizão integrada pelo Bloco de Esquerda, que teve 9,67% dos votos — menos que os 10,19% de 2015 –, e pela coalizão entre o Partido Comunista de Portugal e Os Verdes (CDU), quarta colocada no pleito, com 6,41% — dois pontos percentuais abaixo do resultado obtido há quatro anos.
Mesmo minoritários, os dois grupos venderam caro o apoio a Costa em 2015 e prometem repetir a dose nas novas negociações. Tudo dependerá do número final de cadeiras para cada legenda e de quantos deputados os socialistas precisarão para garantir a maioria do parlamento.
A depender do resultado dessa conta, Costa poderá abrir mão da “geringonça” para buscar um novo aliado: o Partido das Pessoas, dos Animais e da Natureza (PAN), que passou de 1,39% dos votos em 2015 para 3,27% neste ano, o que dará ao partido três ou quatro cadeiras.
Alheios aos cálculos, aliados de Costa esperaram a divulgação das pesquisas de boca de urna para começar a comemorar o resultado histórico para o partido. A vitória já era esperada, mas veio acompanhada de um gosto especial para os socialistas: a queda da direita.
“Derrota histórica” eram os termos mais repetidos por líderes do Partido Socialista sobre a votação dos rivais políticos, que obtiveram os piores resultados nas urnas desde 1983.
A crise também atingiu o democrata-cristão CDS-PP, que obteve apenas 4,25% dos votos e perdeu sua líder, Assunção Cristas, que anunciou que renunciará ao cargo e convocará um congresso extraordinário do partido para escolher seu sucessor o mais rápido possível.
“Assumimos o resultado com humildade democrática”, se limitou a dizer Cristas, que deixou o comitê de campanha do CDS-PP antes mesmo do fim da apuração.
A saída precipitada de Cristas era o anúncio de fim de ciclo para direita portuguesa, impotente durante boa parte da última legislatura ao perder o discurso da eficácia da gestão econômica diante dos avanços promovidos pelo Partido Socialista.
Faltando definir o número exato de cadeiras a serem ocupadas por cada grupo político no parlamento, as atenções na reta final da apuração estão sobre o Chega!, partido de extrema direita que apresentou candidatos pela primeira vez nas eleições de Portugal e que, apesar das previsões contrárias, pode ter um deputado na nova legislatura.