Para ‘The Economist’, isolamento de Bolsonaro pode ser ‘começo do seu fim’
Revista critica posicionamento do presidente em relação ao combate ao coronavírus, fala em 'insanidade' e aponta que postura poderia levar a impeachment
A última edição da revista britânica The Economist dedicou um artigo ao presidente Jair Bolsonaro. Na reportagem, a publicação afirma que o líder brasileiro está isolado em seu discurso em relação ao combate do novo coronavírus, o que pode marcar “o começo do fim de sua Presidência”. O texto ainda argumenta que o comportamento de Bolsonaro é digno de um impeachment.
A tradicional e respeitada revista afirma que, desde que os primeiros casos de Covid-19 foram detectados no Brasil, Bolsonaro tem “minimizado suas consequências como ‘só uma gripezinha'”, afirmando que iria combater o vírus “como um homem e não como um moleque”.
“Nos quinze meses desde que ele se tornou presidente, os brasileiros se acostumaram a sua bravata e ignorância em questões que vão desde a conservação da Floresta Amazônica até educação e policiamento. Mas desta vez o dano é imediato e óbvio: Bolsonaro associou a retórica desafiadora à sabotagem ativa da saúde pública”, diz o artigo.
A Economist explica que o presidente brasileiro defende o isolamento vertical como forma de combater o vírus e preservar a economia: a aplicação de quarentena apenas para idosos e outros membros do grupo de risco. A tática, contudo, contraria a orientação de grande parte da comunidade médica e científica, que apoia o confinamento social como a melhor forma de frear o avanço da Covid-19.
A revista ainda relata como os governadores do país foram na contramão das recomendações de Bolsonaro e instauraram quarentenas em seus Estados usando seus poderes. “Um homem que teme a traição e tem uma necessidade perpétua de provocar, ele foi recebido com abraços e selfies em uma manifestação contra o Congresso em 15 de março”, diz o texto, reproduzindo o comportamento do presidente nas últimas semanas.
O artigo destaca que Bolsonaro é apoiado dentro do governo apenas por um pequeno círculo de fanáticos ideológicos que incluem seus três filhos, enquanto ministros-chave de seu gabinete e os líderes do Congresso tem manifestado suporte ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta — de quem o presidente “parece ter inveja”, frisa a revista. “Mesmo para seus próprios padrões, a violação do dever principal de Bolsonaro de proteger vidas foi longe demais. Grande parte do governo o trata como um parente difícil que mostra sinais de insanidade”, diz o texto.
“Restam poucas dúvidas de que a conduta do presidente seja caso constitucional para um impeachment, destino de dois de seus antecessores, Fernando Collor em 1992 e Dilma Rousseff em 2016”, argumenta a revista britânica. “Mas, por enquanto, Bolsonaro mantém apoio popular suficiente para sobreviver.”