O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou nesta quinta-feira, 27, que não assinará nenhum acordo comercial com o Brasil caso o presidente Jair Bolsonaro saia do Acordo de Paris para o clima, ameaçando colocar em risco os trabalhos de negociações comerciais entre União Europeia (UE) e Mercosul.
Bolsonaro está em Osaka, no Japão, para participar da reunião de cúpula do G20, que começa nesta sexta-feira, 28. O presidente brasileiro tem um encontro bilaterais marcado com Macron para a tarde de amanhã.
O presidente brasileiro também se reunirá com os líderes dos Estados Unidos, Donald Trump, da China, Xi Jinping, da Índia, Narendra Modi, de Singapura, Lee Hsien-Loong, e com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman.
As negociações da UE com o Mercosul, o quarto maior bloco comercial do mundo, se intensificaram recentemente. No início do mês, Bolsonaro disse que um acordo poderia ser assinado “logo”, enquanto a liderança do bloco europeu chamou o pacto de “prioridade número um”.
No entanto, a irritação da União Europeia em relação ao aumento de importações de carne e a hesitação do Mercosul sobre abertura de alguns setores industriais, como o automotivo, fizeram prazos anteriores para um acordo serem descumpridos.
A França em particular está preocupada com o impacto do livre-comércio sobre sua vasta indústria de agricultura de importações sul-americanas, que não teriam que respeitar as estritas regulações de meio ambiente da UE. “Se o Brasil deixar o acordo de Paris, até onde nos diz respeito, não poderemos assinar o acordo comercial com eles”, disse Macron a jornalistas no Japão, antes da reunião do G20.
“Por uma simples razão. Estamos pedindo que nossos produtores parem de usar pesticidas, estamos pedindo que nossas companhias produzam menos carbono, e isso tem um custo de competitividade”, disse ele. “Então não vamos dizer de um dia para o outro que deixaremos entrar bens de países que não respeitam nada disso”, acrescentou.
Esta não é a primeira vez que Macron faz afirmações do tipo. Em visita à Buenos Aires em novembro do ano passado, o francês já havia avisado que o acordo de livre comércio dependeria da posição de Bolsonaro sobre o Acordo de Paris.
O presidente declarou, durante sua campanha eleitoral, que retiraria o Brasil do tratado climático, mas recuou diante de argumentos apresentados por seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Mas o governo manteve sua decisão de não sediar a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, a COP 25, em novembro deste ano, que se dará no Chile.
Em maio, o Brasil barrou a iniciativa multilateral de construção de um arcabouço legal para a área ambiental a partir da Assembleia-Geral das Nações Unidas de 2020. A oposição do governo Bolsonaro foi registrada durante uma reunião em Nairóbi, no Quênia, sobre a adoção do Pacto Global para o Meio Ambiente, projeto impulsionado pela França na ONU.
Nesta quarta-feira 26, a chanceler alemã Angela Merkel afirmou que deseja uma “discussão clara” com o presidente Jair Bolsonaro sobre o desmatamento no Brasil. Até agora, nenhum encontro bilateral entre os dois foi confirmado.
“Assim como vocês, vejo com grande preocupação a questão das ações do presidente brasileiro (em relação ao desmatamento) e, se a questão se apresentar, aproveitarei a oportunidade no G20 para ter uma discussão clara com ele”, afirmou a chanceler alemã no Parlamento da Alemanha.
Agenda em Osaka
As mudanças de última hora na agenda do presidente Jair Bolsonaro em Osaka foram saudadas pela comitiva brasileira. O compromisso mais celebrado foi a reunião bilateral de Bolsonaro com Trump.
Em março, nos jardins da Casa Branca, Bolsonaro mostrou alinhamento total de seu governo às políticas do presidente americano e evitou tomar lado na guerra comercial travada entre o presidente dos Estados Unidos e a China – um dos temas que o mundo observa com atenção em Osaka.
Trump e Xi Jinping devem se encontrar no sábado para mostrar em que pé estão as negociações entre os dois países. O resultado pode encerrar ou intensificar a escalada de tarifas dos dois lados. Apesar de já ter criticado abertamente o governo chinês, o brasileiro passou a adotar, desde que assumiu o governo, tom mais moderado para falar do maior parceiro comercial do Brasil.
Foi a comitiva chinesa que pediu a reunião com Bolsonaro, que ocorreria na sexta. O encontro bilateral foi um dos primeiros a ser confirmado, mas a equipe de Xi solicitou uma alteração de horário. Por fim, o encontro foi acertado para o sábado, depois da reunião entre Trump e o líder chinês.
A pouca flexibilidade na agenda do brasileiro não impediu a inclusão às pressas dos compromissos com Trump e uma reunião com o Grupo de Lima. Tradicionalmente, as reuniões do bloco que pressiona pela saída de Nicolás Maduro, na Venezuela, têm a presença do chanceler, Ernesto Araújo. Desta vez, no entanto, o próprio Bolsonaro representará o Brasil.
Também de última hora, o Brasil agendou um encontro com Emmanuel Macron e garantiu reunião bilateral com pelo menos um dos europeus presentes em Osaka.
(Com Reuters e Estadão Conteúdo)