Um novo relatório lançado nesta segunda-feira, 16, pela organização britânica Oxfam afirma que o 1% mais rico do mundo ficou com quase dois terços de toda a riqueza gerada desde 2020 — cerca de 42 trilhões de dólares, o equivalente a seis vezes mais dinheiro que 90% da população global conseguiram no mesmo período. Quando analisada a última década, este mesmo 1% ficou com cerca de metade de toda a riqueza criada.
Os dados foram apresentados no Fórum Econômico Mundial, na cidade suíça de Davos, e fazem parte do relatório “‘A Sobrevivência’ do mais rico — por que é preciso tributar os super-ricos agora para combater as desigualdades”.
O relatório defende ainda um amplo aumento na tributação dos super-ricos para recuperar parte dos ganhos obtidos através de lucros excessivos durante a pandemia de coronavírus, que começou em 2020. Entre 2020 e 2022, cada bilionário ganho 1,7 milhão de dólares (8,8 milhões de reais), para cada dólar obtido por uma pessoa entre os 90% mais pobres entre o mesmo período.
De acordo com a lista da revista Forbes, o Brasil chegou a 2022 com 284 bilionários. Dados da Credit Suisse indicam que os 3.390 brasileiros mais ricos do país detêm 16% de toda riqueza do país.
Atualmente, o Brasil é um dos poucos no mundo onde os dividendos não são taxados, uma outra vantagem para os bilionários. Proporcionalmente, os mais pobres pagam mais impostos do que os bilionários, argumenta a Oxfam.
“Taxar os super-ricos é uma pré-condição estratégica para reduzir as desigualdades e fortalecer a democracia”, afirmou a diretora executiva da Oxfam Brasil, Katia Maia. “Precisamos fazer isso par incentivar a inovação e o desenvolvimento, fortalecer os serviços públicos e promover sociedades mais saudáveis.”, acrescentou.
De acordo com a pesquisa “Nós e as Desigualdades 2022”, no Brasil, 85% da população apoia o aumento de impostos sobre os mais ricos. Com o aumento na tributação seria possível investir nos serviços públicos.
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Caso os multi-milionários fossem taxados em até 5% seria possível arrecadar 1,7 trilhão de dólares por ano. Com essa quantia seria possível tirar 2 bilhões de pessoas da pobreza, financiar completamente os apelos humanitários, entregar um plano de 10 anos para acabar com a fome no planeta, apoiar os países mais pobres devastados pelas mudanças climáticas e garantir saúde pública global e proteção social para todos que vivem em países de baixa renda.
“As pessoas comuns fazem sacrifícios diários para sobreviver, enquanto os super-ricos lucram cada vez mais. Os últimos dois anos, os da pandemia de Covid-19, estão entre os melhores da história para os bilionários. É um acinte!”, afirma Katia Maia.
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Segundo o coordenador da área de Justiça Social e Econômica da Oxfam Brasil, Jefferson Nascimento, “a discussão que se impõe cada vez mais é o incremento da taxação dos muito ricos e das grandes corporações, inclusive no Brasil”.
” A reforma tributária vem sendo considerada prioritária para o novo governo Lula e esperamos que o Congresso aprove um novo sistema tributário que garanta o financiamento necessário aos Estados para que possam oferecer mais e melhores serviços e políticas públicas às suas populações”, concluiu.