ONU pede que países reconsiderem corte de auxílio financeiro a Gaza
Financiamento foi suspenso depois que alguns funcionários da agência que auxilia refugiados foram acusados de envolvimento com o ataque terrorista do Hamas
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu para que os 10 países que retiraram o financiamento da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNWRA) reconsiderem a decisão, alegando que a agência e os palestinos não devem ser penalizados pelos atos de alguns funcionários. “Dois milhões de civis em Gaza dependem da assistência crítica da UNRWA para sobreviverem diariamente, mas o financiamento atual não permitirá à agência atender todas as necessidades em Fevereiro”, explicou ele.
No domingo passado, Israel entregou ao comissário geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, informações que acusam 12 funcionários da agência de envolvimento no ataque de 7 de Outubro, perpetrado pelo Hamas. Assim que foi informado, Lazzarini voou para Nova Iorque para discutir as alegações com Guterres, mas não conseguiu evitar a debandada de fundos: em resposta às acusações, os Estados Unidos suspenderam o financiamento da UNRWA e, desde então, outros nove países seguiram o exemplo, incluindo Itália, Reino Unido e a Alemanha.
Confrontado com a decisão, Lazzarini se disse chocado e descreveu o corte de fundos como uma punição coletiva. “Nossa operação humanitária, da qual 2 milhões de pessoas dependem como tábua de salvação em Gaza, está em colapso. Estou chocado que tais decisões sejam tomadas com base no suposto comportamento de alguns indivíduos e, à medida que a guerra continua, as necessidades se agravam e a fome se aproxima” disse ele.
Segundo funcionários da ONU, a agência lançou no dia 17 de janeiro uma investigação conduzida por agentes externos para examinar uma série de alegações, como a de que funcionários da UNRWA supostamente aplicariam um currículo educacional antissemita. De acordo com Guterres, nove funcionários da agência foram demitidos pelo suposto envolvimento no ataque de 7 de outubro. Ele também disse que o Escritório de Serviços de Supervisão Interna da ONU (OIOS), foi acionado para a condução de um inquérito, e que qualquer funcionário da ONU envolvido em atos terroristas será responsabilizado.
Nos últimos meses, a UNRWA tem documentado a escalada da crise humanitária e apontado empecilhos impostos por Israel para a distribuição de ajuda humanitária aos palestinos. Desde que as acusações vieram à tona, ministros israelenses tem explorado as alegações sobre uma dezena de funcionários para defender o desmantelamento permanente da UNRWA — o governo, inclusive, afirmou que a agência não desempenhará nenhum papel em Gaza ao fim da guerra.
Em um comunicado oficial, o Hamas acusou Israel de fazer uma campanha de incitamento contra as agências da ONU que prestam assistência aos palestinos na Faixa de Gaza. Na última sexta-feira, 26, a UNRWA negou que exista um conluio entre a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Hamas. “Enfatizamos a importância do papel destas agências na prestação de socorro ao nosso povo e na documentação dos crimes da ocupação”, afirmou o órgão.