ONU e Anistia pedem que EUA investiguem denúncias de tortura
Site WikiLeaks divulgou, na última sexta-feira, documentos que revelavam abusos e execuções sumárias no Iraque
O relator especial da ONU sobre a tortura, Manfred Nowak, e a Anistia Internacional pediram, neste sábado, que os Estados Unidos investiguem os casos de tortura apresentados pelo WikiLeaks. O site de denúncias revelou, na última sexta-feira, documentos secretos, informando que as forças americanas e seus aliados cometeram abusos, execuções sumárias e ignoraram repetidos atos de tortura no Iraque. Os arquivos também revelavam que ao menos 109.000 pessoas, 63% delas civis, morreram no país do início da invasão americana, em março de 2003, até o final do conflito, em 2009.
Nowak exortou o governo americano a realizar uma investigação sobre o caso, especialmente porque os EUA não reconhecem o Tribunal Penal Internacional (TPI). “O governo Obama tem a obrigação, quando há sérias acusações de tortura contra qualquer funcionário dos EUA, de investigar e tomar as atitudes necessárias”, disse ele à rádio BBC.
A Anistia Internacional também pediu a Washington para investigar como as autoridades sabiam sobre os maus-tratos de detentos no Iraque. A organização de direitos humanos baseada em Londres observou em um comunicado que, como todos os governos, os Estados Unidos “têm uma obrigação de garantir que suas próprias forças não usam a tortura e que as pessoas detidas por elas não são transferidas para outras autoridades que podem torturar os prisioneiros.”
“Os Estados Unidos falharam nesta questão no Iraque, apesar do grande volume de dados disponíveis a partir de muitos lugares, mostrando que as forças de segurança iraquianas usam tortura extensivamente e de forma impune”, disse Malcolm Smart, diretor da Anistia para Oriente Médio.
EUA – A secretária americana de Estado, Hillary Clinton, condenou “nos termos mais claros” o vazamento de documentos que “coloquem em perigo a vida de americanos ou de seus aliados”, ainda que não tenha entrado em detalhes sobre as revelações.
Mais de 50 mil soldados americanos ainda se encontram no Iraque após o fim da missão de combate das tropas dos Estados Unidos, no fim do mês de agosto.
Verdade – O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, afirmou neste sábado em Londres que os documentos secretos divulgados por seu site mostram a “verdade” sobre a guerra do Iraque. “Esta divulgação é sobre a verdade”, disse Assange, que também é redator-chefe da página especializada em vazar documentos de inteligência, em uma coletiva de imprensa realizada em um hotel de Londres.
“O ataque à verdade sobre a guerra começa muito antes de seu início e continua muito tempo depois de seu fim”, acrescentou. “Esperamos corrigir parte deste ataque à verdade que ocorreu antes da guerra, durante a guerra e que continuou desde que a mesma terminou oficialmente”, disse o australiano nascido em 1971.
Assange, que compareceu à coletiva acompanhado de outros quatro responsáveis pelo site, afirmou que a avaliação dos informes reunidos pelo Exército americano permitia ter “um levantamento detalhado de cerca de 109 mil mortos, entre eles 66 mil civis”.
Segundo o WikiLeaks, esta última divulgação constitui “o maior vazamento da história do Exército americano”. Os documentos militares secretos em posse do site contemplam o período de 1 de janeiro de 2004 a 31 de dezembro de 2009.
Novas denúncias – Outro responsável pelo WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, anunciou, a próxima denúncia do site: a divugação de 15 mil novos documentos militares secretos dos Estados Unidos sobre a guerra do Afeganistão, prometidos anteriormente. “O WikiLeaks utilizou apenas um de cada seis informes relativos ao Afeganistão (…) Os documentos virão à tona logo”, declarou Hrafnsson.
O site já havia divulgado, em julho passado, os primeiros 77 mil documentos sobre a guerra neste país. Os informes, que revelavam detalhes sobre vítimas civis e supostos vínculos entre o Paquistão e os insurgentes talibãs, viraram o centro das atenções na imprensa de todo o mundo e enfureceram os Estados Unidos.
(Com Agência France-Presse)