A Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou nesta terça-feira que os bombardeios deliberados de quatro hospitais no nordeste da Síria na última segunda-feira constituem crimes de guerra, de acordo com o direito humanitário internacional. “Ainda não está claro que tenha sido intencional, mas o enorme número destes incidentes provoca dúvidas sobre o fracasso das partes do conflito na Síria em respeitar a proteção especial que requerem os estabelecimentos médicos e seu pessoal”, afirmou o porta-voz do Escritório de Direitos Humanos da ONU, Rupert Colville.
Embora tenha ressaltado que não pode ter certeza se os bombardeios foram causados pelas aviações russas ou sírias, o porta-voz lembrou que “está claro que aviões sírios e russos estão muito ativos e pedimos aos que lançam bombas que tenham mais cuidado porque o número de ataques contra civis é astronômico”. “Todas as regras e normas de conduta em uma guerra foram violadas na Síria… tudo o que qualquer um pode imaginar se quebrou”, denunciou Colville.
A Rússia negou que sua aviação tenha bombardeado os hospitais. “Uma vez mais desmentimos categoricamente tais acusações, principalmente porque quem as faz não consegue prová-las”, declarou o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov. Segundo a ONU, quatro mísseis atingiram um hospital da ONG Médicos sem Fronteiras, matando nove pessoas e ferindo outras 30, enquanto no Hospital Nacional de Marat al-Numan três pessoas morreram e três ficaram feridas.
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Em um hospital materno-infantil na cidade de Azaz, a 30 quilômetros de Aleppo, treze pessoas morreram e doze ficaram feridas pelos bombardeios, enquanto um segundo hospital na mesma jurisdição – que já tinha sido atacado no último dia 25 de dezembro – foi igualmente bombardeado, com um saldo de sete mortos e 23 feridos. Também em Azaz – um dos lugares para o qual fugiram milhares de deslocados após a mais recente ofensiva governamental sobre Aleppo – uma escola que abrigava deslocados sírios foi atacada e catorze pessoas morreram.
Os ataques contra hospitais na Síria começaram em 2012, um ano depois do levante popular contra o regime do ditador Bashar Assad, que meses depois se transformou em uma guerra civil. Durante o período de conflito armado, foi informado que 640 médicos, enfermeiras e outros trabalhadores da área de saúde foram mortos, enquanto 58% dos hospitais e 49% dos centros de saúde primária do país fecharam ou funcionam parcialmente.
Colville declarou que desde novembro se observa um aumento, com nove casos no total, de ataques contra recintos sanitários, não só por meio de bombardeios aéreos, mas também atentados com bombas ou veículos com explosivos. Os ataques podem sugerir que existe uma “tática de guerra deliberada” para minar os centros médicos próximos de áreas com focos de resistência contra o regime de Assad, explicou Colville.
(Da redação)