Os compromissos atuais dos países para cortar emissões de gases causadores do efeito estufa deixam o planeta no caminho de um “catastrófico” aumento da temperatura do planeta em 2,7 graus Celsius, alertou a Organização das Nações Unidas nesta terça-feira, 26. A dura mensagem foi feita poucos dias antes da 26ª Conferencia das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, principal fórum político para enfrentar a crise climática e marcado para a primeira quinzena de novembro na cidade escocesa de Glasgow.
“Para ter a chance de limitar o aquecimento global a 1,5 grau, temos oito anos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa quase pela metade. O relógio está correndo ruidosamente”, enfatizou a diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Inger Andersen, após a divulgação do relatório “Emissions Gap Report”.
Segundo o documento, que está em sua 12ª edição, as emissões previstas pelos Estados e as medidas de mitigação anunciadas ainda são insuficientes para atingir o objetivo traçado em 2015 pelo Acordo de Paris: limitar o aumento da temperatura neste século para menos de 2 graus e, idealmente, a 1,5 graus Celsius.
Em tom similar, em relatório publicado em agosto, especialistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, afirmaram que a atividade humana está alterando o clima do planeta de maneiras “sem precedentes” e que algumas das mudanças já se tornaram “irreversíveis”.
Segundo o IPCC, os picos de temperatura passarão a ser mais frequentes conforme o planeta fica mais quente. Não existem mais dúvidas de que a humanidade é a responsável pelo avanço do aquecimento global. Para os cientistas, a questão não é mais se a temperatura poderá ou não subir, mas sim quanto.
Para atingir o objetivo de minimizar os danos, e limitar o aumento da temperatura neste século para os patamares desejados, o relatório publicado na terça-feira pelo PNUMA afirma que seria necessária uma redução anual adicional, acima dos compromissos atuais, de 28 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente, medida usada para quantificar a massa dos gases de efeito estufa a partir do potencial de aquecimento. O relatório, no entanto, estima que, na taxa atual, as emissões globais serão de 60 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente.
Diante desse cenário, os compromissos assumidos por 49 países, em conjunto com a União Europeia (UE), para chegar a um estado de neutralidade de carbono — zero emissões líquidas de CO2 — poderiam fazer “uma grande diferença” e reduzir o aquecimento global em mais 0,5 grau Celsius.
No entanto, os planos atuais são “muito ambíguos” e não estão refletidos na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês), um documento apresentado por cada país com as emissões e políticas esperadas.
A poucos dias de seu início, a COP26 é a data limite para que países submetam propostas atualizadas para as contribuições nacionalmente determinadas. O Acordo de Paris prevê que a cada cinco anos os países revisem suas NDC e as levem a patamares mais ambiciosos. Até duas semanas atrás, 107 países e a União Europeia haviam revisado suas contribuições.
Da mesma forma, o documento destaca neste ano a necessidade de reduzir as emissões de metano — o segundo gás de efeito estufa que mais contribui para o aquecimento global — já que os compromissos atuais permitiriam apenas um terço da redução necessária para atingir a meta de 1,5 grau.
É previsto que durante a COP26 seja discutida a política global do metano, em debates encabeçados pelos Estados Unidos e União Europeia. A proposta é que a emissão desse gás seja reduzida em 30% até 2030, a partir dos níveis de 2002. O gás é muito mais poluente, mas dura menos que o dióxido de carbono. Com isso se obteria significativos progressos para se alcançar a meta de controle da temperatura do planeta.