O esforço mundial para evitar o aumento de 2 graus na temperatura até o final deste século não tem sido suficiente. As emissões de gases do efeito estufa aumentaram pela primeira vez, em 2017, em comparação com os quatro anos anteriores, concluiu o Relatório de 2018 sobre Diferença de Emissões da Organização das Nações Unidas (ONU).
O estudo apontou um aumento de 1,2% nas emissões mundiais de CO2 pela indústria e a geração de energia, empurrado pelo aumento da atividade econômica. Entre 2014 e 2016, essas emissões estiveram estáveis. Esse aumento não é pequeno e pode comprometer todos os esforços para impedir que a temperatura do planeta aumente em mais de 1,5 grau no final do século.
“Há ainda uma tremenda diferença entre palavras e fatos, entre as metas acordadas pelos governos do mundo todo para estabilizar nosso clima e as medidas para alcançar esses objetivos”, disse à BBC Gunnar Luderer, do Potsdam Institute for Climate Impact Research, um dos autores do estudo.
Essa “tremenda diferença” deverá resultar em pressões para uma redução ainda maior do que as acordadas nas emissões até 2030. Segundo o relatório, para impedir aumento superior a 1,5 grau até o final do século, as emissões de gases do efeito estufa terão de ser, em 2030, 55% abaixo das atuais.
Se as emissões continuaram nos níveis atuais, a temperatura do planeta será 3,2 graus maior do que as de hoje. Entre as 20 maiores economias do mundo (G20), a metade falhou nos seus esforços para cumprir os compromissos incondicionais de redução das emissões de gases do efeito estufa até 2030. São eles: a União Europeia, Estados Unidos Argentina, Austrália, Canadá, Coreia do Sul e Arábia Saudita.
O Brasil, Japão e China estão no caminho para conseguir cumprir suas metas. Outros três países – Rússia, Índia e Turquia – deverão ficar 10% abaixo dos seus objetivos. Nos casos do México e da Indonésia, ainda há incertezas.
O relatório mantém a China como o país campeão em emissões de gases do efeito estufa, responsável por 26,8% do total. Pequim, porém, está seguindo a receita de redução de sua cota e começou a emitir volumes expressivos somente depois dos anos 1970. Os Estados Unidos estão no segundo lugar, com 13,1% das emissões mundiais. O país tem um histórico muito longo de emissões, que começaram no século XIX em níveis expressivos, e não dá sinais de que cumprirá seus compromissos.
“Sob o presidente Donald Trump, os estados Unidos comunicaram sua intenção de se retirarem do Acordo de Paris, a menos que possam identificar termos adequados de reengajamento e cancelar seus compromissos de reduzir as emissões de gases do efeito estufa”, registrou a ONU no relatório. “Sob as atuais políticas de implementação, os Estados Unidos não deverão cumprir seus compromissos para 2025 e é incerto se conseguirá atingir a meta para 2020”, completou.
O país se comprometera a reduzir até 2020 suas emissões de gases do efeito estufa a 17%, em comparação com os seus níveis em 2005.
Divulgado no último dia 23 pelo governo americano, o relatório científico da National Climate Assessment estima uma perda de 10% na atividade econômica do país até 2100 se as medidas para conter o aquecimento global não forem adotadas por Washington e outros países. O estudo foi encomendado pelo Congresso americano.
Brasil
Entre os países do G20, o grupo das 20 maiores economias, o Brasil está no caminho para cumprir seus compromissos do Acordo de Paris sobre Mudança Climática, graças às políticas governamentais adotadas, informa o relatório. Em 2017, a participação do país nas emissões mundiais de gases do efeito estufa foi de 2,3%. O último ano de pico de emissões foi 2004.
Mas os pesquisadores alertam para o enfraquecimento e os riscos relacionados a essas mesmas políticas. No Brasil, boa parte das emissões são provocadas pelo desmatamento, tema ao qual estão atreladas suas principais metas.
“A recente crise política no país forçou o debilitado governo a concordar com recuos na regulamentação ambiental como barganha para se manter no poder, o que pode impactar potencialmente as emissões de gases do efeito estufa, a partir do uso da terra, assim como as contribuições do Brasil para as metas climáticas globais”, diz o relatório da ONU.
“O presidente eleito do Brasil indicou que pretende limitar as restrições ambientais sobre a agricultura”, completou, referindo-se a Jair Bolsonaro.
Os compromissos do Brasil envolvem a redução, até 2020, de 38,9% para 36,1% de suas emissões de gases do efeito estufa. No caso específico do gás carbônico, o país terá de diminuir suas emissões em 37% até 2025 e em 43% até 2030, em comparação com o nível de 2005.