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Olho no futuro: o difícil caminho de Trump na disputa pela Casa Branca

O republicano terá trabalho para garantir a indicação, depois dos resultados decepcionantes das eleições da Câmara e Senado

Por Amanda Péchy 19 nov 2022, 08h00

“Vamos fazer a América grande e gloriosa novamente.” Com este nada original brado de guerra, Donald Trump, 76 anos, lançou-se candidato à Presidência dos Estados Unidos nas eleições de 2024, em cerimônia na terça-feira 15 lotada de apoiadores no salão de baile da mansão de Mar-a-Lago, na Flórida, sob uma penca de lustres de cristal e cercado de bandeiras americanas. Uma semana antes, o mesmo salão dourado havia sido enfeitado para a celebração da “onda vermelha” (a cor do Partido Republicano) que tomaria de assalto o Congresso nas eleições de meio de mandato, as midterms, que renovam a Câmara inteira e 35 cadeiras do Senado. Daquela vez, porém, a festa foi meia boca — para surpresa geral, estrelas endossadas pelo ex-presidente não se elegeram, os democratas conseguiram manter maioria no Senado e a predominância republicana na Câmara, obtida a duras penas, rendeu vantagem de menos de uma dezena de assentos. Sendo assim, Trump sai das mid­terms e entra na campanha pela Casa Branca enfraquecido dentro do partido que passou os últimos seis anos moldando e formatando à sua imagem e semelhança.

O democrata Joe Biden, com a popularidade em baixa, até evitou aparecer em certos momentos da campanha — e agora, inflado pelo resultado melhor do que o esperado, tem posado como líder da democracia em encontros internacionais como o do G20, na Indonésia, quando se reuniu pela primeira vez em pessoa com o chinês Xi Jinping. Já o esperançoso Trump, nas primárias republicanas, compareceu a mais de trinta comícios presenciais e sessenta virtuais, e empenhou-­se pessoalmente em cinquenta campanhas de arrecadação de fundos, além de ter direcionado mais de 16 milhões de dólares em anúncios em estados cruciais (seu cofre de doações acumula 120 milhões de dólares, mais do que o do partido).

Nessa cruzada, emplacou a indicação de 90% dos 300 nomes que endossou nas primárias (quase todos pregadores da balela da fraude na eleição de 2020), ressaltando a força que emana de seu nome e da sua pessoa. “O culto à personalidade de Trump faz com que os eleitores o amem e os políticos o temam”, diz John Cluverius, professor de ciências políticas na Universidade de Massachusetts em Lowell. Com tantos fatores a favor, esperava-se que os republicanos ganhassem de lavada. Não ganharam, e tanto Trump quanto o partido saíram enfraquecidos.

ALÍVIO - Biden com Xi pela primeira vez: reforçado pelo resultado da eleição -
ALÍVIO - Biden com Xi pela primeira vez: reforçado pelo resultado da eleição – (Saul Loeb/AFP)

O fato é que, tirando a surpreendente vitória em 2016, Trump e seu supervalorizado aval fazem barulho, mobilizam militantes, incendeiam as redes sociais — mas não são de ganhar eleição. Tendo vergado o Partido Republicano a uma dependência quase submissa, por força de uma oratória inflamada, de apoiadores estridentes e de uma enorme capacidade de arrecadar dinheiro, o ex-presidente, na prática das apurações, perdeu o voto popular em 2016, nunca alcançou mais de 50% de aprovação, amargou maus resultados nas midterms de seu próprio mandato e, por fim, perdeu para Biden em 2020. Agora, decepcionou novamente. “O radicalismo que passou a dominar a legenda se baseia na rejeição furiosa a qualquer proposta democrata”, diz Robert Shapiro, cientista político da Universidade Columbia, expondo a falha ideológica do movimento trumpista.

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O resultado das midterms sacudiu alicerces trumpistas. Grandes doadores se afastaram e até a Fox News não poupou críticas ao ex-presidente. Dentro do Partido Republicano, políticos influentes fizeram o mesmo, rompendo seu silêncio forçado. “Esta é a terceira eleição consecutiva em que Trump nos custou o resultado”, reclamou o governador republicano de Maryland, Larry Hogan. “Ele falou que íamos ficar cansados de tanto ganhar. Pois bem, eu estou cansado de tanto perder.”

Hogan é um possível adversário do ex-presidente na briga pela Casa Branca, mas não é o único. O vice de Trump e hoje desafeto, Mike Pence, declarou que “há nomes melhores” do que o do ex-chefe — de preferência o seu. A maior ameaça ao domínio trumpista, no entanto, vem da Flórida. “Ron DeSantis parece ser o mais forte dos herdeiros”, diz Shapiro so­bre o governador que cravou quase 20 pontos de vantagem sobre o adversário ao se reeleger — e também ele lamentou o desempenho “decepcionante” na eleição. Ao anunciar sua pré-candidatura dois anos antes da disputa para a Casa Branca, Trump quis justamente esvaziar as pretensões dos rivais — além de dificultar investigações sobre possíveis desmandos seus em curso na Câmara e no Departamento de Justiça, agora sujeitas a denúncias de perseguição eleitoral. Os bonés vermelhos com a inscrição MAGA (Make America Great Again) continuam firmes nas cabeças de uma ala de americanos. A questão é se esses eleitores serão suficientes fazer Trump grande novamente.

Publicado em VEJA de 23 de novembro de 2022, edição nº 2816

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