![Diplomacia: o presidente americano num encontro do G20, em Londres, no último mês de abril](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/06/obama-nobel-paz-620-original.jpeg?quality=90&strip=info&w=620&h=240&crop=1)
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ganhou na sexta-feira o Prêmio Nobel da Paz por dar ao mundo a “esperança de um futuro melhor” e lutar pelo desarmamento nuclear, uma decisão surpreendente que atraiu tanto elogios quanto críticas fortes. Obama está no cargo há menos de nove meses e ainda não obteve nenhum êxito expressivo na política externa, razão pela qual a decisão do Comitê Nobel Norueguês foi recebida com perplexidade por jornalistas em Oslo. O comitê elogiou Obama por “seus extraordinários esforços para fortalecer a diplomacia internacional e a cooperação entre os povos,” mas críticos – especialmente no mundo árabe e islâmico – consideraram a decisão prematura.
O porta-voz de Obama o acordou para dar a notícia quando ainda era madrugada em Washington, e uma fonte do governo disse que o presidente recebeu o prêmio “com humildade”. Ao ser questionado sobre o fato de que muita gente no mundo inteiro ficou perplexa com o anúncio, David Axelrod, assessor especial de Obama, disse: “Assim como nós.” Obama, de 48 anos, tem defendido o desarmamento e se empenhado pela retomada do processo de paz do Oriente Médio. “Muito raramente uma pessoa capturou a atenção mundial na mesma extensão que Obama e deu ao seu povo esperança de um futuro melhor,” justificou o comitê do Nobel.
Estadistas como Nelson Mandela e Mikhail Gorbachev, ambos já laureados com o Nobel, elogiaram a decisão. Outros setores disseram que a homenagem foi apressada e não-merecida. Em Bagdá, o trabalhador braçal Issam al Khazraji disse: “Ele não merece o prêmio. Todos esses problemas – Iraque, Afeganistão – não foram resolvidos. O homem da ‘mudança’ não mudou nada ainda.” Liaqat Baluch, dirigente do grupo religioso conservador paquistanês Jamaat-e-Islami, qualificou o prêmio como uma “piada” constrangedora. Já o negociador palestino Saeb Erekat elogiou a escolha e manifestou esperança de que Obama “consiga obter a paz no Oriente Médio.”
Thorbjoern Jagland, presidente do Comitê Nobel, rejeitou insinuações de jornalistas de que Obama estaria recebendo o prêmio cedo demais, argumentando que ele já fez muita coisa no último ano. “Esperamos que isso possa contribuir um pouquinho para enfatizar o que ele está tentando fazer,” afirmou Jagland em entrevista coletiva. O comitê disse ter dado “especial importância à visão e ao trabalho de Obama por um mundo sem armas nucleares,” além de ter “criado um novo clima na política internacional.” Sem citar seu antecessor George W. Bush, o comitê salientou as diferenças no envolvimento dos EUA com o resto do mundo desde a mudança de governo em Washington, em janeiro.
O presidente foi acordado por seu porta-voz, Robert Gibbs, pouco antes das 6 horas (horário local), com a surpreendente notícia da premiação, contou um funcionário da Casa Branca. O prêmio será entregue em Oslo em 10 de dezembro, data do aniversário da morte de seu fundador, o industrial e filantropo sueco Alfred Nobel. O prêmio inclui uma medalha, um diploma e um cheque no valor de 10 milhões de coroas suecas (quase um milhão de euros). No ano passado, o vencedor do prêmio foi o finlandês Martti Ahtisaari. Um ano antes foi a vez de Al Gore e do painel de mudança climática da ONU.
A seguir, a íntegra do comunicado do comitê:
O Comitê Nobel Norueguês decidiu que o Prêmio Nobel da Paz 2009 será atribuído ao presidente Barack Obama por seus extraordinários esforços para fortalecer a diplomacia internacional e a cooperação entre os povos. O comitê deu muita importância à visão e aos esforços de Obama na perspectiva de um mundo sem armas nucleares.
Como presidente, Obama gerou um novo clima na política internacional. A diplomacia multilateral voltou a ocupar uma posição central, com ênfase no papel que as Nações Unidas e outras instituições podem desempenhar.
Preferimos o diálogo e as negociações como instrumentos para resolver inclusive os conflitos internacionais mais difíceis. A visão de um mundo livre de armas nucleares estimulou poderosamente as negociações sobre o desarmamento e o controle armamentista. Graças à iniciativa de Obama, os Estados Unidos desempenham atualmente um papel mais construtivo para enfrentar os grandes desafios climáticos que o mundo enfrenta. A democracia e os direitos humanos serão fortalecidos.
Raríssimas vezes uma pessoa atraiu a atenção mundial e deu a seu povo a esperança de um futuro melhor, tanto como Obama. Sua diplomacia está baseada no conceito de que quem tem que dirigir o mundo deve fazê-lo baseando-se em valores e atitudes que são compartilhadas pela maior parte da população mundial.
Há 108 anos, o Comitê Nobel Norueguês vem tentado estimular precisamente esta política internacional e estas atitudes das quais Obama é atualmente o principal porta-voz mundial. O Comitê apoia o apelo de Obama de que ‘chegou a hora de todos nós assumirmos nossa parte de responsabilidade para uma resposta global a desafios globais.’
Oslo, 9 de outubro de 2009
(Com agências Reuters e France-Presse)