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O sucesso do jornalismo digital do ‘The New York Times’

Os resultados financeiros do jornal em 2019 comprovam que é possível fazer a transição bem-sucedida do formato impresso para o on-line

Por Daniel Hessel Teich
Atualizado em 4 jun 2024, 15h06 - Publicado em 17 jan 2020, 06h00

Um estratagema recorrente do presidente Jair Bolsonaro para escapulir de perguntas desconfortáveis feitas por jornalistas é desqualificar o interlocutor de forma grosseira. No dia 6 de janeiro, ao ouvir de um repórter uma pergunta sobre as reformas administrativa e tributária, ele respondeu com um ataque gratuito. “Vocês são uma espécie em extinção”, vociferou. “Cada vez mais gente não confia em vocês. Por exemplo, eu cancelei todos os jornais no Planalto. Todos. Quem quiser que vá comprar, porque envenena a gente”, concluiu em seu português peculiar. Coincidência ou não, a tática de Bolsonaro é praticamente idêntica à do presidente americano Donald Trump. O republicano costuma ser particularmente desagradável ao se ver obrigado a comentar alguma das muitas reportagens em que o diário The New York Times faz críticas a sua gestão. Sua atitude é desancar o interlocutor dizendo que não responde a nada que seja publicado por um “jornal agonizante”. Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, os veículos de comunicação tradicionais se veem em uma árdua corrida para adaptar seu modelo de negócios às novas tecnologias e hábitos dos leitores, o que tem provocado prejuízos, cortes de funcionários e, não raro, o fechamento de redações praticamente inteiras.

Na semana passada, entretanto, o bordão de Trump, que já soava um tanto quanto exagerado, perdeu totalmente o sentido. Em um curto boletim para investidores, o diário nova-iorquino sacramentou o sucesso de sua estratégia na transição do jornal impresso para a distribuição de conteúdo por canais digitais. A meta de alcançar o faturamento de 800 milhões de dólares (3,3 bilhões de reais) na área digital, estabelecida em 2015, foi batida um ano antes do esperado — calculava-se que isso ocorreria em dezembro de 2020. Assim, as receitas dessas plataformas responderão por 45% de todas as vendas da empresa, que deve fechar o ano com um faturamento de 1,8 bilhão de dólares (7,5 bilhões de reais), valor 20% maior que o registrado há cinco anos. Em 2019, foi cravada ainda a marca de 1 milhão de novas assinaturas em um ano, um recorde desde que o plano de expansão digital foi lançado, em 2011. Com isso, o site e seus subprodutos passaram a ter 5 milhões de leitores pagantes. “São justamente esses leitores que estão sustentando a virada do The New York Times e financiando o crescimento da empresa”, explica o analista Douglas Arthur, da área de mídia da consultoria americana Huber Research Partners. “É um claro sinal de que a transição de modelos está funcionando.”

Apesar da robustez dos dados, Mark Thompson, executivo-chefe da The New York Times Company, empresa-mãe do diário nova-iorquino, advertiu que a lucratividade da companhia em 2019 será inferior à de 2018 (o relatório financeiro completo será divulgado em 6 de fevereiro). E isso por um motivo simples: os editores do jornal mais respeitado do mundo continuarão investindo pesado em tecnologia, inovação e recursos humanos em um ambiente marcado por fake news e pela guerra predatória com os gigantes do mundo digital (Google e Facebook), que devastaram o mercado publicitário global com anúncios vendidos a preços irrisórios. Não à toa, o The New York Times, sediado em um espetacular arranha-­céu de 52 andares na Oitava Avenida, conta com 1 700 funcionários apenas na redação, dos quais 1 600 são jornalistas. É de lá que saem as reportagens de primeiríssima linha e furos jornalísticos inusitados para um jornal, como as imagens em vídeo divulgadas por emissoras de TV do mundo todo na semana passada, nas quais o avião comercial da empresa aérea Ukraine International Airlines é visto sendo atingido por dois mísseis em Teerã. Também é nesse prédio que são produzidos os episódios do programa The Weekly, exibido no canal pago FX e na plataforma de streaming americana Hulu, um documentário semanal que rende cerca de 500  000 reais por episódio à empresa.

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Fundado em 1851 e tendo como lema a frase All the news that’s fit to print (“As notícias que merecem ser impressas”), o jornal passou a ser visto como um parceiro decisivo até mesmo pelas empresas novatas do ramo da disseminação de informação por via digital. Em setembro, o Facebook firmou um acordo com os editores nova-­iorquinos para o licenciamento e publicação de conteúdo jornalístico na rede social — um claro esforço para recuperar a reputação da rede, famosa pela difusão de boatos e notícias mentirosas. “O negócio com o Facebook foi importantíssimo. É a primeira vez que uma empresa do Vale do Silício reconhece o valor do conteúdo jornalístico do Times para publicação em sua plataforma como parte de um acordo financeiro de longo prazo”, explica Thompson, o CEO da The New York Times Company. Protagonista de um dos livros mais espetaculares sobre o jornalismo no século XX — O Reino e o Poder, de Gay Talese —, o The New York Times é um ícone da liberdade de expressão. Os números divulgados provam que seguirá como o farol dos valores mais nobres da humanidade.

Publicado em VEJA de 22 de janeiro de 2020, edição nº 2670

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