O próximo passo do plano da Ucrânia para ganhar a guerra
País tenta se aproveitar do momento em que a Rússia mantém foco em defesa, não ataque, para intensificar sua contra-ofensiva
Reconquistar a cidade de Kherson foi, para a Ucrânia, uma vitória estratégica que estava sendo preparada há meses. Agora que o Exército ucraniano conseguiu expulsar as forças russas de lá, a contra-ofensiva prepara o próximo passo. As forças ucranianas estão planejando direcionar suas investidas para a região da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, após os sucessos no sul e no leste da Ucrânia.
Em meio a reveses militares e a consequente perda de territórios, o Exército russo passou a direcionar esforços para a construção de fortificações e sistemas de trincheiras para defender a região próxima à fronteira da Crimeia, além de áreas em Donetsk e Luhansk, que compõe a região de Donbas.
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De acordo com o Ministério da Defesa do Reino Unido, em alguns locais, novas fortificações estão a até 60 quilômetros atrás das atuais linhas de frente, sugerindo que a Rússia está se preparando para mais avanços ucranianos.
Nesta semana, o Exército ucraniano deu um passo importante para mudar o curso da guerra ao atacar posições russas no Kinburn Spit, cordão litorâneo e porta de entrada para a bacia do Mar Negro, além de partes da região de Kherson (onde fica a cidade de mesmo nome) ainda sob controle russo.
Segundo análise do Instituto para Estudos da Guerra, think tank com sede em Washington, reconquistar a área pode ajudar as forças ucranianas a entrar em território controlado pelos russos em Kherson sob menos fogo de artilharia do que se cruzassem diretamente o rio Dnipro, que corta a área. Além disso, o controle local permitiria que Kiev aumentasse sua atividade no Mar Negro.
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Para alguns especialistas militares, existe ainda a possibilidade de que o clima prejudique desproporcionalmente as forças russas mal equipadas, permitindo que a Ucrânia aproveite o terreno congelado e se mova com mais facilidade do que durante os meses lamacentos do outono.
Por outro lado, a estratégia da Rússia é reforçar ao máximo as suas fortificações nas regiões e aproveitar o inverno rigoroso para manter suas posições até 2023, renovando o contingente de soldados e recarregando o estoque de munições, além de intensificar os ataques a infraestruturas essenciais – energética, médica e de fornecimento de água – no território ucraniano.
Na semana passada, um depósito de combustível foi atingido em Kherson, a primeira vez desde a retirada russa e, nos últimos sete dias, pelo menos uma pessoa foi morta e outras três ficaram feridas depois de novos bombardeios, de acordo com o gabinete presidencial.
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Antes de abrir mão de Kherson, o Exército russo ainda danificou a infraestrutura local e causou uma enorme crise humanitária, forçando o governo ucraniano a retirar civis de áreas recentemente libertadas, temendo que a falta de aquecimento, energia e água torne a região inabitável no inverno.