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O apoio a Biden entre ex-membros do governo Trump e figuras republicanas

George W. Bush, Mitt Romney, John Bolton e ex-diretores da CIA e FBI colocam combustível em movimento de republicanos arrependidos

Por Amanda Péchy Atualizado em 28 ago 2020, 14h48 - Publicado em 27 ago 2020, 18h40

No terceiro e último dia da Convenção Nacional Republicana, nesta quinta-feira, 27, Donald Trump encontra-se em uma posição desconfortável, muito atrás de seu adversário, o democrata Joe Biden. Segundo uma pesquisa recente da emissora ABC e do jornal The Washington Post, Biden – cujo apelido “Joe Dorminhoco”, dado por Trump, não é mais tão adequado – está 12 pontos percentuais à frente do atual presidente. Mais chocante ainda é que, de forma sem precedentes, cada vez mais eleitores republicanos compõem as intenções de votos a favor do democrata.

“Estou envergonhado até hoje por votar nele”, “Donald J. Trump abalou minha fé no Partido Republicano”, “Ele é um mentiroso patológico”: um anúncio de 60 segundos, veiculado na emissora Fox News na semana passada, compilou depoimentos de mais de uma dúzia de republicanos que explicam porque vão votar em Biden. 

O apelo da propaganda do grupo Republican Voters Against Trump (Eleitores Republicanos Contra Trump) está presente em diversas outras organizações com o mesmo caráter, que encorajam ex-Trumpistas arrependidos a negar um segundo mandato ao atual líder americano em benefício da nação. “Tudo bem se você mudar de ideia, nós mudamos”, diz a frase de efeito do anúncio.

Grande parte da Presidência de Trump foi definida por sua capacidade de unir o Partido Republicano, mas as crises do coronavírus, da economia e da violência policial colocaram a Casa Branca sob escrutínio. Os veículos americanos The New York Times, The Atlantic, Forbes, L. A. Times e CNN relatam copiosamente: membros do partido estão se distanciando do presidente de forma nunca antes vista.

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Na segunda-feira 24, dezenas de ex-congressistas republicanos, liderados pelo ex-senador Jeff Flake, do Arizona (estado majoritariamente pró-Trump), lançaram o movimento Republicans Against Trump (Republicanos Contra Trump) para repudiar sua candidatura e apoiar Joe Biden.

Ex-senador do Arizona, Jeff Flake, é antigo crítico do presidente Donald Trump e pediu que seus colegas republicanos votassem pela sua condenação no julgamento do impeachment – 01/03/2020 (Paul Marotta/Getty Images)

No ano passado, Flake já havia publicado um artigo no Washington Post exortando seus colegas republicanos a “salvarem suas almas” e votarem a favor do impeachment do presidente – investigado por supostamente fazer uso de suas relações com a Ucrânia para benefício próprio.

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Alguns dos políticos que compõem o grupo são Steve Bartlett, do Texas, Charlie Dent, da Pensilvânia, Connie Morella, de Maryland, e Jim Walsh, de Nova York. Há outros grupos organizados, como o Lincoln Project, de George Conway, marido da ex-conselheira de Trump, Kellyanne Conway. Anthony Scaramucci, ex-assessor do presidente, está apoiando o Right Side. Funcionários do governo do ex-presidente George W. Bush lançaram o 43 Alumni for Biden.

Além disso, diversos republicanos do alto escalão, até mesmo ex-membros do governo Trump, também já declararam que pretendem apoiar Biden. O ex-governador de Ohio John Kasich, que desafiou Trump para a indicação do Partido Republicano em 2016, discursou na Convenção Nacional Democrata, elogiando a “experiência, sabedoria e decência” de Biden. Cindy McCain, viúva do senador John McCain, também apareceu na convenção, narrando a amizade de seu falecido marido com o candidato democrata – e a frustração com o governo de Trump, que atacou McCain mesmo após sua morte.

O ex-presidente dos Estados Unidos, George W.Bush, discursa em cerimônia no Museu Nacional de História Afro-Americana, em Washington - 24/09/2016
O ex-presidente dos Estados Unidos, George W.Bush, e seu irmão e ex-governador da Flórida, Jeb Bush, declararam que não vão votar em Trump em novembro – 24/09/2016 (Zach Gibson/AFP)

O último ex-presidente republicano vivo, George W. Bush, que não endossou Trump em 2016, disse que não apoiará sua reeleição. Seu irmão Jeb Bush, ex-governador da Flórida que foi ridicularizado pelo bilionário quando pleiteou a indicação do Partido Republicano nas eleições de 2016, seguiu o mesmo caminho.

O senador  Mitt Romney, de Utah, foi o candidato republicano às eleições de 2012 contra Barack Obama e é crítico de longa data ao atual presidente. Ele foi o único senador republicano a votar para condená-lo em seu julgamento de impeachment. Apesar de ainda não ter decidido em quem votará em novembro, disse que não será em Trump, segundo oTimes.

Mitt Romney, filiado ao Partido Republicano, foi pré-candidato à presidência dos Estados Unidos nas eleições de 2008.
Mitt Romney, candidato à presidência dos Estados Unidos nas eleições de 2012, votou pela condenação de Trump por abuso de poder no impeachment – 26/06/2016 (veja.com/Getty Images)

O líder americano também foi rejeitado por muitos antigos membros de seu governo, como Jim Mattis, seu ex-secretário de Defesa, e John Kelly, ex-chefe de gabinete e secretário de Segurança Interna. Mattis definiu Trump como “o primeiro presidente em minha vida que não tenta unir o povo americano, nem mesmo finge tentar”. Kelly, por sua vez, disse que gostaria que “tivéssemos algumas outras opções”.

Colin Powell, ex-secretário de Estado do atual governo, anunciou em junho que votaria em Biden, afirmando que Trump “mente sobre as coisas” e que os republicanos no Congresso nunca o responsabilizam. O ex-conselheiro de Segurança Nacional John Bolton disse em diversas entrevistas que se recusava a votar no atual presidente em novembro. Seu livro recém-publicado nos Estados Unidos, The Room Where It Happened, ataca Trump sucessivamente, alegando que o mandatário praticava “obstrução da Justiça como um estilo de vida”.

John Bolton, ex-assessor de Segurança Nacional (dir.), deixou o governo Trump no ano passado em meio às denúncias contra o presidente de abuso de poder e pedidos de impeachment – 09/04/2019 (Mark Wilson/Getty Images)

Na segunda-feira, mais de 70 altos funcionários republicanos da Segurança Nacional divulgaram uma carta afirmando que votariam em Biden. Entre os signatários estavam o ex-secretário de Defesa Chuck Hagel, o ex-diretor da CIA Michael Hayden, o ex-diretor de inteligência nacional John Negroponte, e o ex-diretor do FBI William Webster. O texto declarava que o “comportamento corrupto de Trump o torna inadequado para servir como presidente”.

A campanha de Trump argumenta que esses são esforços limitados que não falam pelos eleitores republicanos em todo o país.

“Este é o pântano – mais uma vez – tentando derrubar o presidente devidamente eleito dos Estados Unidos”, disse uma porta-voz da campanha de reeleição. “O presidente Trump é o líder de um Partido Republicano unido, que ganhou 94% dos votos republicanos durante as primárias – algo com que qualquer ex-presidente de qualquer partido só poderia sonhar.”

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Quatro anos atrás, o grupo Never Trumpers tentou descarrilar a campanha do bilionário. Embora tenha reunido 19 milhões de dólares, o projeto foi limitado a um curto período nas primárias, com críticos manifestando-se na televisão, em artigos de opinião e no Twitter. Poucos apoiaram Hillary Clinton.

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Desta vez, o tabuleiro se alinha de forma diferente. Esforços contra o atual presidente começaram mais cedo e são mais organizados. Não só isso, defendem Biden como o candidato assertivamente, ao contrário das dúvidas sobre Hillary. Em um movimento inaudito, os responsáveis por derrubar Trump podem não ser da oposição formal, e sim de republicanos de longa data.

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