Em discurso de posse nesta terça-feira, 15, o novo presidente do Paraguai, Santiago Peña, anunciou apoio à iniciativa de paz capitaneada por Lula para frear a guerra na Ucrânia.
“Acreditamos no diálogo e não na força para solucionar qualquer controvérsia. Com humildade, mas com muita convicção, instamos todas as partes envolvidas no conflito a cessarem de imediato todas as ações militares para evitar mais vítimas e danos”, disse Peña. “Apoiamos as iniciativas de paz impulsionadas tanto pelo Brasil, país irmão e aliado estratégico, como do papa Francisco”.
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Embora o Brasil tenha votado para condenar a invasão russa nas Nações Unidas em março, Lula sempre foi ambivalente sobre o conflito, ao mesmo tempo em que tenta colocar o país como um possível mediador. Recentemente, ele sugeriu que a Ucrânia deveria considerar abrir mão da Crimeia para concretizar um acordo de paz e que os Estados Unidos e a Europa prolongam e encorajam a guerra na Ucrânia.
No Brasil, a abordagem da guerra na Ucrânia é vista como parte de uma longa tradição de neutralidade da política externa. Em um mundo altamente polarizado e muito diferente do que era nos dois primeiros mandatos de Lula, contudo, ser imparcial tem um preço cada vez mais alto.
Desde a vitória de Peña na eleição paraguaia, o novo presidente do país já se encontrou três vezes com Lula, que viajou a Assunção para acompanhar a posse, atestando a densidade das relações bilaterais. O Brasil é o principal parceiro comercial do Paraguai e o maior investidor estrangeiro direto no país vizinho (US$ 904 milhões). Em 2022, registrou-se valor recorde no intercâmbio bilateral, que superou US$ 7,1 bilhões.
Em entrevista às Páginas Amarelas de VEJA, concedida em Assunção poucos dias antes da posse, o novo presidente paraguaio já havia citado o posicionamento brasileiro em relação à guerra na Ucrânia.
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“Ele (Lula) foi assertivo ao defender a paz. Eu, pessoalmente, reconheço bem a vítima dessa história, a Ucrânia — até porque, há 160 anos, também fomos invadidos pelo Brasil e perdemos 60% do território, com vastas consequências para o país”, disse.
Além disso, Peña deixou claro que uma de suas prioridades é o Brasil e reforçou que pretende se juntar a Lula em outros pontos além do conflito russso-ucraniano. No âmbito do acordo de livre comércio do Mercosul com a União Europeia, teceu críticas às novas exigências ambientais dos europeus.
“Estou com Lula. O Mercosul fez uma série de concessões, mas esses termos adicionais, que estabelecem que itens produzidos a partir de 2020 em áreas já desmatadas devem ficar de fora do acordo, são inaceitáveis”, afirmou. “Não porque não vamos cuidar do meio ambiente, ao contrário. Enviaremos uma resposta conjunta rejeitando a proposta. Infelizmente, existem vozes no bloco europeu que agem em prol do protecionismo, algo que, no longo prazo, impede o desenvolvimento e a competitividade”.
Com uma vantagem de mais de 15 pontos em relação ao segundo lugar e mais força do que previsto nas pesquisas, Peña, de 44 anos, foi eleito em 30 de abril, marcando mais um passo para a hegemonia do Partido Colorado, apesar de acusações de corrupção. A sigla comanda o país há mais de 70 anos, com exceção do intervalo do governo de Fernando Lugo, eleito em 2008 e destituído em 2012.
Os principais desafios que o futuro presidente, que já foi diretor do Banco Central e ministro da Fazenda, vai enfrentar são a estagnação econômica que atinge o Paraguai e os níveis crescentes de violência. Outro percalço para Peña é a sua proximidade com ex-presidente Horacio Cartes, acusado de corrupção por alegações de ter pagado até US$ 50 mil por mês para os legisladores durante sua Presidência.