O ministro de Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, afirmou que nenhuma hipótese está descartada na busca de uma explicação para o desaparecimento do avião da Air Algérie que fazia a rota entre Uagadugu, em Burkina Faso, e Argel, na Argélia, quando perdeu contato com os controladores de voo. “Nós não podemos, não devemos excluir nenhuma hipótese antes de ter todos os elementos”. Questionado pela emissora de TV France 2 sobre a possibilidade de um ato terrorista, reforçou: “Não podemos excluir nenhuma hipótese”.
O chanceler explicou que a única informação clara está relacionada às condições meteorológicas, que levaram o piloto da aeronave a solicitar autorização para mudar de direção. “Depois disso, não há mais notícias dele. A partir daí, há várias hipóteses”, disse Fabius, acrescentando que esta é uma temporada de condições meteorológicas “muito difíceis” na região.
O voo AH5017 da Air Algérie levava 118 pessoas a bordo, a maioria franceses. A aeronave sumiu dos radares menos de 1 hora depois de decolar de Burkina Faso em direção a Argélia. Há informações sobre fortes tempestades de areia na região no momento em que o avião mudou de curso, mas nenhum sinal de emergência foi enviado.
O presidente François Hollande declarou que o governo vai deslocar todas as tropas francesas no Mali para buscar a aeronave argelina. “A busca vai demorar o tempo necessário. Tudo deve ser feito para encontrar esse avião. Não podemos identificar as causas do ocorrido”. Ele disse que “tudo leva a crer que o avião caiu no Mali”, mas que as causas ainda não podem ser estabelecidas. Hollande convocou uma reunião para a manhã desta sexta-feira com vários ministros para tratar do caso. Foram chamados o primeiro-ministro Manuel Valls, o chanceler Fabius, o ministro da Defesa, Jean-Yves Le Drian, o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, e o ministro dos Transportes, Frédéric Cuvillier.
Fontes em Burkina Faso e na Argélia também reforçaram a ideia de que todas as teorias devem ser analisadas, incluindo a possibilidade de um ataque terrorista ou do sequestro da aeronave. No entanto, a possibilidade de uma ação de milícias e forças islâmicas no norte do Mali parece menos provável, uma vez que há dúvidas sobre se os grupos possuem sistemas de mísseis terra-ar capazes de abater um avião. Tanto o governo do Mali como rebeldes fundamentalistas ressaltaram que um cessar-fogo está em vigor no país desde a última semana. As declarações servem para afastar temores de que mais uma aeronave tenha sido abatida, depois da tragédia da última semana com o voo MH17 da Malaysia Airlines.
Destroços – O presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, disse que destroços foram encontrados no deserto entre Aguelhoc e Kidal, mas as informações sobre a possível localização de partes da aeronave ainda são desencontradas. Emissoras de TV da França e dos Estados Unidos apontaram Tilemsi, na região de Gao, também no Mali, como outro ponto em que destroços teriam sido encontrados. Um general de Burkina Faso citou uma testemunha que afirmou ter visto o avião cair na zona de Gossi, no norte do Mali.
Mesmo com o cessar-fogo no Mali, o jornal britânico Daily Telegraph pontua que as equipes de resgate devem enfrentar muitas dificuldades para ter acesso à área em que o avião pode ter se acidentado. Citada pelo presidente Boubacar, Kidal é o berço do separatismo tuaregue no Mali. O povo seminômade também se espalha no miolo formado por Argélia, Mali, Níger, Chade, Burkina Faso, Nigéria e Líbia. No início de 2013, a França teve de intervir no Mali para impedir que o país caísse integralmente nas mãos de terroristas islâmicos, tuaregues provenientes da Líbia e mercenários de variados matizes que já haviam se apoderado do norte do território e aproveitavam o vácuo de poder depois de um golpe de estado declarar a região independente e governada pela lei islâmica. Mesmo sem reconhecimento, o bando resolveu que queria se apoderar de todo o país. Tropas lideradas pela França dispersaram muitos extremistas, mas a ameaça segue presente no norte.
Busca por informações – Parentes dos passageiros que estavam a bordo do avião têm buscado, em vão, informações sobre seus familiares. A agência France-Presse destacou a frustração de pessoas que foram ao aeroporto de Orly, nos arredores da cidade Paris, onde alguns passageiros deveriam desembarcar após completarem o trajeto iniciado em Burkina Faso. “Eles não sabem de nada. Eles não sabiam nem que o avião havia desaparecido e não possuem uma lista com os passageiros”, disse uma mulher chamada Laetitia, que consultou os atendentes da Air Algérie. Ela buscava informações sobre o seu primo, que mora na Burkina Faso e deveria ter aterrissado em Orly nesta quinta-feira.