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‘Não há nenhum interesse na morte de civis em Gaza’, diz major de Israel

Rafael Rozenszajn foi responsável por avisar famílias sobre mortes nos atentados de 7 de outubro

Por Ernesto Neves, de Tel Aviv
27 dez 2023, 10h01

Nascido no Rio e morador de Israel desde 2009, o major do Exército Rafael Rozenszajn enfrentou este ano o pior momento de sua vida.

Após os atentados de 7 de outubro, data em que o Hamas invadiu Israel, realizando o pior atentado da história do país, Rozenszajn ficou encarregado de comunicar a cinco famílias sobre o que havia acontecido.

Entre as famílias estavam os pais do casal Itai e Hadar Berdichevsky, que escondeu os filhos dentro do bunker pouco antes de terroristas do Hamas entrarem dentro da residência.

Os dois acabaram mortos, e as crianças permaneceram no quarto reforçado por 12 horas, até que foram localizados pelo Exército israelense. 

O major recebeu a reportagem de VEJA numa base militar de Tel Aviv, onde afirmou que Israel não tem interesse na morte de civis na Faixa de Gaza, onde 20.000 já morreram nos três meses de combate.

A Guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza se aproxima dos três meses, deixando um saldo de 20.000 baixas. Por que essa operação tem um número tão alto de mortes?

O Hamas começou essa guerra no dia 7 de outubro, quando invadiu o território de Israel num feriado judaico, dando início a uma caçada que destruiu mais de 20 comunidades, matando mais de 1 200 e sequestrando outras 240. 

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Eu não sei nem como colocar em palavras as coisas que eu vi. Aconteceu uma carnificina, pessoas que foram acorrentadas e queimadas vivas, incluindo mulheres e crianças.

A partir desse momento, o Exército de Israel começou sua operação na Faixa de Gaza, primeiro com ataques aéreos, e depois com uma terrestre, entrando por terra, mar e ar. 

Essa guerra vai definir o futuro existencial de Israel. Porque o Hamas deixou muito claro que seu objetivo é exterminar o Estado judeu. 

A única resposta possível a essa determinação do Hamas é a invasão e o desmantelamento de sua existência. Ou seja, acabar com sua capacidade militar, para que nunca mais Israel seja atacado como no dia 7 de outubro. 

Nós fazemos de tudo para minimizar ao máximo o número de mortes.

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Um exemplo que posso dar foi a distribuição de seis milhões de panfletos para avisar que os civis deveriam se deslocar do norte para o sul de Gaza. Também realizamos 20.000 ligações telefônicas em árabe para instruir a população.

Mas o Hamas opera nas sombras, e mistura combatentes com civis, por exemplo. Ou utilizam hospitais e escolas como bases de operação.

Verificamos que vários dos terroristas já mortos utilizavam calça jeans e tênis para se passar por civis.

Além disso, Gaza é um dos lugares mais povoados do mundo, e isso implica numa complexidade altíssima.

Ainda assim, a atual guerra na Faixa de Gaza matou quase dez vezes mais que o conflito de 2014, o pior até aqui, quando 2251 pessoas morreram. Por que?

Porque a atual guerra não é uma operação como nas outras ocasiões. 

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Desde 2005, quando Israel devolveu o território de Gaza para os palestinos, aconteceram algumas ações limitadas, a maioria limita a ataques aéreos, e o conflito de 2014, que foi o mais sério. 

Mas o que temos agora é uma guerra. E o Hamas atua como grupo terrorista, usando civis como escudos.

Semanas atrás, por exemplo, verificamos através de nossos radares que três foguetes da facção islâmica foram lançados contra corredores humanos de civis.

Ou seja, os terroristas queriam impedir que a população se deslocasse para áreas seguras.

Israel é alvo de críticas da comunidade internacional, incluindo o Brasil. O presidente Lula já classificou a resposta militar de Tel Aviv como “terrorismo”.  O que o senhor acha disso?

Não posso me manifestar diretamente sobre esse ou aquele líder. Mas posso exemplificar a diferença de Israel para o grupo terrorista Hamas.

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Quando houve o atentado de 7 de outubro, um dos terroristas ligou para a família para se gabar que havia assassinado 10 judeus.

Israel faz justamente o contrário. Fizemos o possível para minimizar o número de vítimas, alertando a população civil sempre que possível.

Israel faz o possível para minimizar os danos civis, porque não tem nenhum interesse na morte da população.

Se a gente parar para pensar, a morte de inocentes cria revolta internacional, fortalecendo justamente o Hamas. E não é o que queremos.

Outras operações militares realizadas para acabar com grupos fundamentalistas já fracassaram. Um exemplo recente foi a retomada do Talibã no Afeganistão, após 20 anos de ocupação americana. A Guerra contra o Hamas é a melhor estratégia para derrotar seu extremismo?

De fato, você não acaba com uma ideologia ao invadir um território. Gostaríamos muito que a ideologia dominante em Gaza fosse de paz e convivência harmônica.

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Mas não é. É uma teocracia radical que prega o fim de Israel.

Então, o objetivo do Exército israelense é desmantelar a capacidade militar do Hamas. 

Ou seja, ao final dessa guerra o Hamas não terá mais ter capacidade de lançar seus foguetes contra Israel.

Ou de operar clandestinamente nos túneis subterrâneos que hoje cortam Gaza. 

Também não poderá nunca mais organizar outra ação como o 7 de outubro.

Durante os atentados de 7 de outubro, o senhor ficou responsável por avisar as famílias que perderam entes no massacre. Qual foi o momento mais difícil?

Aqui, quando alguém perde a vida num atentado ou um soldado morre em combate, o estado de Israel passa a fazer um acompanhamento especial da familia.

E esse acompanhamento começa com o esclarecimento das circunstâncias logo que se sabe da morte. Assim, a família é logo avisada do que aconteceu. 

Então fui convocado para dar informação a cinco famílias.

Uma delas teve grande repercursão – um jovem casal, Itai e Hadar Berdichevsky, escondeu seus dois bebês gêmeos num bunker enquanto sua cidade estava sendo invadida. Os dois resistiram, e acabaram assassinados pelo Hamas. 

Os bebês ficaram 12 horas trancados num quarto protegido, até que foram encontrados pelo Exército de Israel. 

Foi terrível avisar aos avós das crianças, um momento que jamais esquecerei. 

Os esforços de busca e resgate para aqueles presos sob os escombros continuam, depois que um ataque aéreo israelense atingiu uma área residencial civil no campo de refugiados de al Maghazi, Gaza, em 25 de dezembro de 2023. Pelo menos 70 pessoas morreram
Os esforços de busca e resgate para aqueles presos sob os escombros continuam, depois que um ataque aéreo israelense atingiu uma área residencial civil no campo de refugiados de al Maghazi, Gaza, em 25 de dezembro de 2023. Pelo menos 70 pessoas morreram (Getty/Getty Images)
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