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Na ONU, Brasil pede desmobilização de tropas, mas evita críticas a Putin

Conselho de Segurança da organização fez reunião emergencial após anúncio de envio de tropas russas a duas regiões separatistas pró-Moscou da Ucrânia

Por Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 fev 2022, 12h10 - Publicado em 22 fev 2022, 08h05

Após a decisão do presidente russo, Vladimir Putin, de ordenar o envio de tropas a duas regiões separatistas pró-Moscou da Ucrânia, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas se reuniu de forma emergencial na noite de segunda-feira, 21, para discutir o risco de uma guerra. Em sua fala, o embaixador brasileiro na organização fez um pedido para que haja a retirada de militares, mas evitou críticas diretas à Rússia ou ao presidente russo.

“Renovamos nosso apelo para que todas as partes envolvidas mantenham o diálogo”, disse o embaixador Ronaldo Costa Filho, chefe da missão brasileira na ONU. “Um inescapável primeiro objetivo é um cessar-fogo imediato, com uma retirada das tropas e equipamentos militares em solo. Essa desmobilização militar será um passo importante para construir confiança entre as partes, fortalecer a diplomacia e buscar uma solução sustentável para a crise”.

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Enquanto a Rússia, que ocupa a Presidência rotativa do conselho, queria que o encontro fosse a portas fechadas, os Estados Unidos insistiram que a deliberação fosse aberta. A reunião emergencial começou em Nova York às 23h, horário de Brasília, e não houve anúncio de nenhuma decisão concreta, servindo apenas para que países expressassem suas posições e trocassem informações.

O anúncio de envio de tropas foi feito por Moscou poucas horas depois de Putin reconhecer a independência de regiões separatistas pró-Moscou da Ucrânia. De acordo com a agência de notícias RIA, o presidente instruiu as Forças Armadas a “garantirem a paz” nas regiões, sem dar mais detalhes. 

As autoproclamadas República Popular de Donetsk e República Popular de Luhansk são em boa parte controladas por separatistas pró-Moscou desde 2014 e palco de uma guerra que já deixou cerca de 15.000 mortos.

Ainda não é claro o número de soldados, quando eles seriam enviados ou até mesmo se os militares russos ficarão apenas nas áreas controladas pelos separatistas ou se pretendem capturar o resto das duas regiões cujo território os rebeldes reivindicam. Apesar da reivindicação de território por parte dos rebeldes e o reconhecimento russo, a Ucrânia e a comunidade internacional entendem as repúblicas autoproclamadas como solo ucraniano, o que faz com que, na prática, a ação russa seja equivalente a uma invasão a território do país vizinho.

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Reunião emergencial

Como a Ucrânia não faz parte do Conselho atualmente, o governo ucraniano precisou que algum dos membros convocasse uma reunião sobre o tema. O pedido, que teve apoio do Brasil, ocupante de uma das vagas rotativas, teve endosso da França, que tem assento permanente e vem mostrando uma sólida aliança com os Estados Unidos no enfrentamento da crise.

Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro se encontrou em Moscou com Putin. O encontro, no qual o mandatário brasileiro disse ser “solidário à Rússia”, foi amplamente criticado, incluindo pelos Estados Unidos. 

Dentro do Conselho, os países aliados aos Estados Unidos (principalmente Reino Unido, França, Irlanda, Suécia e Albânia) até agora não conseguiram obter o apoio de outros países não europeus.

Sendo membro permanente, a Rússia tem poder de veto para barrar decisões dentro do Conselho, sendo capaz de conter quaisquer medidas que podem ser vistas como prejudiciais.

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Em discurso, o representante russo na ONU, Nebenzia Aleksevich, defendeu a decisão de Putin e acusou a Ucrânia de não respeitar os russos étnicos que vivem em regiões separatistas, além de ignorar quaisquer possíveis negociações com representantes separatistas.

A fala é similar à feita por Putin em discurso ao anunciar o reconhecimento das duas regiões, na qual acusou autoridades ucranianas de tentarem impedir o uso do idioma russo através de leis que privilegiam o uso do ucraniano, além de citar uma repressão à Igreja Ortodoxa russa. Ele também criticou a presença de militares estrangeiro no país vizinho, sobretudo da Otan, principal aliança militar ocidental.

“Acabamos de ouvir muitos discursos altamente emocionais, avaliações categóricas e conclusões distantes. (…) Agora é importante focar em como evitar uma guerra e como forçar a Ucrânia a parar as provocações contra Donetsk e Luhansk”, disse o embaixador russo na ONU.

Em tom mais incisivo que o usado pelo representante brasileiro, a embaixadora americana Linda Thomas-Greenfield disse que, “na essência, Putin quer que o mundo volte no tempo, para o tempo em que impérios dominavam o mundo. Não estamos em 1919, mas em 2022”.

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Pouco antes da reunião, a União Europeia já havia afirmado que “o reconhecimento dos dois territórios separatistas na Ucrânia é uma violação flagrante do direito internacional, da integridade territorial da Ucrânia e dos acordos de Minsk”. O chefe de política externa do bloco prometeu sanções econômicas contra Moscou, assim como os Estados Unidos. 

Para a China, que vem adotando uma posição mais neutra, também sem críticas diretas à Rússia, “a situação atual na Ucrânia é resultado de diversos fatores complexos”.

A China sempre toma sua própria posição de acordos com os méritos da questão em si. Entendemos que todos os países devem resolver disputas internacionais por meios pacíficos”, disse o representante Zhang Jun.

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