Mursi interrompe viagem à Europa em meio à crise no Egito
Presidente pediu diálogo com oposição - mas adiantou que não se compromete com a demanda dos manifestantes de serem incluídos num governo de unidade
Por Da Redação
30 jan 2013, 23h06
As autoridades da cidade egípcia de Ismailia afrouxaram nesta quarta-feira um toque de recolher imposto pelo presidente Mohamed Mursi, que precisou interromper uma visita à Europa para lidar com a pior crise política do país desde que assumiu o cargo, há sete meses. Mais dois manifestantes foram mortos a tiros antes do amanhecer perto da Praça Tahrir, no centro do Cairo, um dia depois de o chefe do Exército advertir que o estado entrará em colapso se opositores e aliados de Mursi não encerrassem os confrontos nas ruas do país.
Mais de 50 pessoas foram mortas nos últimos sete dias durante manifestações de opositores de Mursi, elevando a preocupação global sobre a capacidade do presidente de restaurar a estabilidade do país mais populoso do mundo árabe. Mursi impôs um toque de recolher e um estado de emergência em três cidades do Canal de Suez no domingo – além de Ismailia, Port Said e Suez -, mas isso apenas provocou ainda mais as multidões em uma semana de protestos no segundo aniversário do levante que derrubou Hosni Mubarak.
O governador de Ismailia disse nesta quarta que afrouxaria o toque de recolher, que passaria a entrar em vigor todas as noites a partir das 2 horas da manhã, e não 21 horas, como previsto. Falando na Alemanha antes de voltar para o Egito para lidar com a crise, Mursi pediu diálogo com os opositores, mas já adiantou não se compromete com a demanda dos manifestantes, de primeiramente incluí-los num governo de unidade. Questionado sobre a proposta, ele disse que o próximo governo deverá ser formado após as eleições parlamentares em abril.
Europa – Os confrontos internos forçaram Mursi a interromper sua visita à Europa, anunciada como uma oportunidade de promover o Egito como um destino para o investimento estrangeiro. Ele viajou a Berlim, mas cancelou sua ida a Paris e voltou para casa depois de apenas algumas horas na Europa. Perto da Praça Tahrir, na manhã desta quarta, dezenas de manifestantes atiraram pedras contra a polícia, que revidou disparando gás lacrimogêneo. “Nossa demanda é simplesmente que Mursi vá e deixe o país sozinho. Ele é como Mubarak e sua turma”, disse Ahmed Mustafa, de 28 anos.
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A chanceler alemã, Angela Merkel, que se reuniu com Mursi mais cedo, ecoou o discurso de outros líderes ocidentais que pedem que Mursi dê voz à oposição. “É importante para nós que a linha para o diálogo esteja sempre aberta a todas as forças políticas no Egito, que as diferentes forças políticas possam dar a sua contribuição, que os direitos humanos sejam respeitados, e que, naturalmente, a liberdade religiosa possa ser experimentada”, disse Merkel em uma entrevista coletiva conjunta com Mursi.
Controvérsias – Os aliados de Mursi dizem que os manifestantes querem derrubar o primeiro líder democraticamente eleito do país. Já os críticos o acusam de trair o espírito da revolução, mantendo muito poder em suas próprias mãos e de sua Irmandade Muçulmana, o movimento islâmico banido sob o regime de Mubarak que venceu repetidas eleições desde o levante de 2011. O político opositor Mohamed El-Baradei pede uma reunião entre presidente, ministros e oposição para conter a violência. Mas destacou que Mursi deve se comprometer a buscar um governo de unidade nacional.
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