Mianmar: ONU volta a pedir fim de ação militar contra rohingyas
Um barco de refugiados que viajava para Bangladesh naufragou e deixou 15 mortos na quarta-feira
Por Da redação
28 set 2017, 21h58
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu nesta quinta-feira a Mianmar o “fim das operações militares” no oeste do país e denunciou um “pesadelo humanitário”, pouco depois da morte de 15 refugiados rohingyas em um naufrágio.
A nova tragédia atingiu a minoria muçulmana rohingya quando um barco de refugiados que zarpou na quarta-feira à noite de uma aldeia costeira de Rakhine rumo a Bangladesh naufragou perto da praia. Foram encontrados 15 corpos, 10 deles de crianças.
Em uma incomum reunião pública do Conselho de Segurança sobre Mianmar nesta quinta-feira – a última remonta a 2009 -, Guterres pediu ao governo birmanês o “acesso humanitário” para o oeste do país e que “assegurem o retorno em segurança, voluntário, digno e duradouro” dos refugiados que fugiram de Bangladesh a suas regiões de origem.
O número de rohingyas que chegaram a Bangladesh desde o fim de agosto para fugir da violência em Mianmar superou nesta quinta-feira a simbólica cifra de meio milhão, segundo os últimos números da ONU. No total, 501.800 pessoas fugiram dali, o que representa um dos maiores deslocamentos de populações na Ásia ao longo do século.
Na reunião, que contou com a presença de representantes birmanês e bengalês, não estava prevista nenhuma declaração comum do Conselho de Segurança, que continua dividido sobre a questão. Para além das habituais condenações de violência e dos chamados a acabar com os combates, Pequim, apoiado por Moscou, repudia qualquer ingerência nos assuntos internos birmaneses.
A China é o principal apoio de Mianmar, onde tem importantes interesses econômicos, sobretudo no oeste. É nesta região que o Exército birmanês está realizando uma campanha de repressão e violência contra a minoria mulçumana, iniciada após um ataque de rebeldes rohingyas em 25 de agosto.
O fato de sete países dos quinze membros do Conselho de Segurança pedirem uma reunião “pública” sobre Mianmar, e de o secretário-geral da ONU participar para avaliar a situação, significa um avanço importante, concordam diplomatas ocidentais. As últimas reuniões desde o fim de agosto foram realizadas a portas fechadas, e os chamados da ONU para acabar com a repressão, permitir acessos humanitários na parte oeste do país e o retorno dos rohingyas ficaram sem valor.
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Pela primeira vez desde o início do novo surto de violência, representantes da ONU poderiam ter acesso nesta quinta à zona de conflito em Rakhine, em uma visita “organizada” pelo governo birmanês. Mas, no último momento, as autoridades adiaram a viagem até a próxima semana, oficialmente por causa do tempo ruim.
Limpeza étnica
Os rohingyas, maior população apátrida do mundo, são considerados estrangeiros em Mianmar, país com mais de 90% da população budista. Segundo a ONU, o Exército birmanês e as milícias budistas conduzem uma limpeza étnica contra esta comunidade no estado de Rakhine.
O êxodo dos rohingyas para Bangladesh, uma nação pobre do sul da Ásia de maioria muçulmana, paralisou o país. Nos gigantescos campos de refugiados ao longo da fronteira, as autoridades e as ONGs estão sobrecarregadas pela maré humana e se preocupam cada vez mais com os riscos para a saúde. As condições atuais são propícias para o aparecimento de surtos de cólera, disenteria ou diarreia.
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Com grande dificuldade, a líder birmanesa, Aung San Suu Kyi, tenta preservar um equilíbrio frágil com um Exército muito poderoso. Em discurso na semana passada, a Prêmio Nobel da Paz garantiu estar aberta a um retorno dos refugiados, mas, desde então, tomou poucas ações concretas para facilitar o retorno dos rohingyas.
(Com AFP)
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