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Após atentado em Nice, Macron decide aumentar presença militar na França

Presidente defendeu o secularismo e liberdade de crença na França; líderes de países muçulmanos criticam postura e pedem boicote a produtos franceses

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 out 2020, 13h42 - Publicado em 29 out 2020, 13h29

O presidente da França, Emmanuel Macron, classificou como um “ataque terrorista islâmico” o assassinato de três pessoas em uma igreja na cidade de Nice nesta quinta-feira, 29. O mandatário afirmou ainda que sua nação está sob ataque e comunicou o aumento no número de soldados convocados para proteger igrejas, outros locais de oração e escolas de 3.000 para 7.000 homens.

Macron ainda voltou a defender a liberdade de expressão e crença em solo francês, dias após ter sofrido boicotes de países islâmicos por suas declarações sobre o tema. “A França está sob ataque”, disse o presidente pouco após visitar a Basílica de Notre-Dame, onde o ataque aconteceu. “Se nós somos atacados, é devido a nossos valores, nosso apreço pela liberdade e pela possibilidade de ter liberdade de crença em nosso território”.

“Não cederemos” os valores franceses, disse o presidente na coletiva de imprensa organizada após o ataque. Macron ainda confirmou a elevação do estado de alerta a seu nível máximo no país e anunciou novas medidas antiterror.

O assassinato de três franceses no centro de Nice está sendo investigado como um atentado terrorista. Segundo a polícia, o principal suspeito foi baleado pela polícia e levado para o hospital, onde está sob custódia. De acordo com o prefeito da cidade, Christian Estrosi, o homem gritou “Allahu Akbar” (Deus é grande) diversas vezes antes de ser preso.

O incidente ocorre menos de duas semanas após a decapitação do professor Samuel Paty por um extremista islâmico, que gerou comoção no país. O tutor de História e Geografia lecionou uma aula sobre liberdade de expressão em 16 de outubro e mostrou charges do profeta islâmico Maomé para os alunos, alguns deles muçulmanos. Ao sair da escola, foi atacado. A polícia perseguiu o suspeito e o matou numa cidade vizinha à Paris.

Após o ataque, Macron prestou homenagem ao professor, prometeu acabar com o extremismo na França e afirmou que o país não iria renunciar à liberdade de expressão. “Samuel Paty foi morto porque os islâmicos querem nosso futuro, mas a França não desistirá de nossos cartuns”, afirmou.

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Os muçulmanos acreditam que Alá não pode ser retratado em uma imagem feita por mãos humanas, dada sua beleza e grandeza. O mesmo é aplicado a Maomé. Por isso, qualquer representação gráfica é considerada um insulto ao islamismo. Em 2015, jornalistas do jornal satírico Charlie Hebdo foram mortos em um ataque em Paris após o periódico publicar caricaturas do profeta islâmico – as mesmas exibidas por Paty aos seus alunos.

Mais três incidentes foram registados nesta quinta, coincidindo com as festividades do aniversário de Maomé. Logo após o ataque em Nice, a polícia matou um homem que ameaçava pedestres em Montfavet, no sul do país. Ele também gritava “Deus é grande”, segundo a rádio Europe 1. Um outro homem, um afegão armado com uma faca de 30 cm, foi preso perto da estação ferroviária Perrache, em Lyon. Na Arábia Saudita, um homem foi detido em Jedá após ferir um guarda do Consulado da França.

Secularismo e liberdade

Com a maior população muçulmana da Europa Ocidental — cerca de 9% do total —, a França defende há anos o secularismo do Estado, com medidas como a proibição do uso de niqabs (véu muçulmano que cobre rosto) e outros símbolos religiosos em locais públicos e escolas e o banimento dos trajes de banho muçulmanos de corpo inteiro, os burquínis, nas piscinas e praias públicas.

A separação entre Estado e Igreja foi consagrada por uma lei de 1905 e pretendia proporcionar um espaço neutro para o caldeirão de crenças do país, mas se tornou motivo de grandes discussões nas últimas décadas.

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Ativistas da causa se opõe a qualquer tentativa de impedir a publicação de caricaturas e artigos críticos a líderes e crenças religiosas, afirmando que as proibições configuram censura. O movimento ainda proclama as diretrizes de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” pregadas pela Revolução Francesa, de 1789, que levou ao colapso da monarquia absolutista no país.

Os princípios que moldaram a revolução estão presentes até hoje na Constituição e são defendidos com força pelo governo local. A defesa de Macron à liberdade de crença e homenagem ao professor morto faz parte desse mesmo movimento.

No último mês, jornalistas do Charlie Hebdo voltaram a receber ameaças de morte, depois da abertura do julgamento histórico de 14 suspeitos de serem cúmplices dos autores dos atentados de janeiro de 2015. Por iniciativa de Riss, editor do jornal satírico, representantes da imprensa francesa se reuniram para publicar uma “carta aberta aos franceses” em setembro rebater ao que acreditam serem ameaças à liberdade de expressão.

“Ninguém deve se preocupar com as suas opiniões, mesmo as religiosas, desde que a sua manifestação não perturbe a ordem pública instituída pela lei”, proclama o artigo 10 do texto de 1789, incorporados à Constituição desde a Revolução Francesa, diz a carta. “A livre comunicação de pensamentos e opiniões é um dos direitos humanos mais preciosos; todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, exceto pelo abuso dessa liberdade nos casos determinados pela lei.”

Ao mesmo tempo, opositores acusam o governo francês de promover a estigmatização e privação de direitos sentido dos muitos franceses muçulmanos. O governo Macron respondeu ao assassinato de Paty com dezenas de batidas contra redes islamistas suspeitas no início desta semana, prometeu expulsar estrangeiros radicalizados e dissolver organizações com laços extremistas.

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Países de maioria muçulmana como Bangladesh, Paquistão, Irã e Turquia, condenaram as falas e atitudes de Macron. O presidente da Túrquia, Recep Tayyip Erdogan, questionou a saúde mental do presidente francês e convocou um boicote nacional dos produtos franceses.

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