Sozinho, o computador da maioria das pessoas não consegue rodar cálculos e simulações complexas e pesadas sobre vírus e doenças. Mas com uma iniciativa do pesquisador Greg Bowman, da Universidade Washington em St. Louis, nos Estados Unidos, essa barreira foi quebrada. Ao dividir em pequenos pedaços as simulações e as enviar para serem processadas nos computadores de voluntários ao redor do mundo, o projeto Folding@Home conseguiu uma façanha no combate à pandemia de Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, e deixou os 500 maiores supercomputadores do mundo, juntos, comendo poeira.
Por meio do projeto, pesquisadores fizeram uma descoberta sobre a estrutura do coronavírus, que lhe permite ingressar dentro de uma proteína humana – a primeira etapa de contágio, quando o vírus passa a se reproduzir para, depois, se lançar para agarrar outras proteínas. Essa descoberta permite pesquisas mais certeiras sobre um tratamento eficaz contra o micro-organismo.
No dia 13 de abril, o projeto conseguiu ultrapassar a marca dos 2.4 exaFLOPS – o FLOP é a unidade computacional que mede os cálculos por segundo de um computador, já o Exa é de uma família de unidades de medida que tem seu início nos bytes, kbytes, megabytes, gigabytes, terabytes, petabytes, exabytes e além. Isso significa que os computadores combinados de milhares de pessoas ao redor do mundo conseguiram atingir a marca de 2.400.000.000.000.000.000 de cálculos por segundo. O número é 15 vezes maior do que o IBM Summit, o supercomputador mais rápido já construído, é capaz de processar por segundo.
Para se pôr em perspectiva, o poder do Folding@Home equivale a 312.500 computadores equipados com os processadores de última geração e que, geralmente, são encontrados dentro de gabinetes dos mais assíduos entusiastas.
“A ideia do Folding@Home era a de realizar simulações sobre a dinâmica das proteínas. Proteínas são as máquinas moleculares que atuam na maior parte dos processos que entendemos como vida”, disse o professor Bowman em entrevista ao jornal britânico Financial Times. “Nossa abordagem é a de simular as proteínas em um supercomputador, e a razão pela qual o Folding@Home existe é porque os cálculos computacionais são extremamente caros ou porque demorariam centenas de anos para serem concluídos em um computador comum”, explicou.
O projeto, no entanto, não é novo. Nascido há mais de duas décadas para realizar pesquisas sobre doenças como o câncer, Alzheimer e Parkinson, o Folding@Home contava com 30.000 voluntários ao redor do mundo, mas vinha perdendo patrocínio e entusiasmo de grandes empresas, como a Sony que em 2012 retirou o seu apoio. Mas, segundo Bowman, as últimas estimativas mostram que a base de apoio do projeto alcançou 700.000 pessoas somente em março deste ano.
Não à toa. Com a pandemia de Covid-19, Bowman e sua equipe começaram a pesquisar sobre o vírus SARS-CoV-2 disponibilizando na plataforma os pequenos fragmentos para serem distribuídos entre os computadores. Com a ajuda de criadores de conteúdos focados na indústria de eletrônicos do Youtube, a popularidade do projeto alçou aos céus.
Os resultados não demoraram para aparecer. No dia 3 abril, os pesquisadores publicaram uma descoberta sobre a estrutura do vírus. Apelidada de “Demogorgon” em homenagem ao monstro do seriado de televisão Stranger Things por conta de seu formato, a estrutura é composta por três proteínas idênticas dispostas em círculo e que formam uma espécie de pinça, que se abre no momento em que uma proteína humana é agarrada pelo vírus, possibilitando o contágio. Segundo o time de Bowman, essa estrutura se torna um alvo atraente para a concepção de tratamentos para combater a Covid-19.
Como fazer parte da iniciativa
Qualquer computador pode fazer parte do projeto, seja ele um de escritório ou configurado para rodar os jogos mais pesados. Para isso, é só acessar o site do projeto e baixar a plataforma neste link. Após instalar o programa, ele irá abrir uma aba em seu navegador e uma mensagem irá aparecer. Clique em “Setup your identity” se você quiser entrar em um time ou aparecer no ranking. A outra opção é para quem quiser contribuir anonimante.
ASSINE VEJA
Clique e AssineCaso escolha entrar no ranking, a tela que irá abrir será onde você poderá escolher seu nome de usuário, entrar em um time e configurar uma chave de segurança. A chave é essencial. Clique em “Get a pass key”, entre com seu nome e e-mail. Na sua caixa de entrada, você receberá um número que deve ser inserido na aba de identidade.
Feita as configurações, você já poderá contribuir à pesquisa. Mas para ter certeza de que seu computador não ficará lento enquanto você o usa, é só alterar as configurações do programa para o uso do processador somente quando o computador não estiver em uso.