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Influência russa na eleição de Trump contamina seu encontro com Putin

Reunião para recompor as relações entre os EUA e a Rússia, na pior fase desde a Guerra Fria, sucumbe às divergências entre ambos sobre Alemanha e Irã

Por Solly Boussidan, Denise Chrispim Marin Atualizado em 16 jul 2018, 19h49 - Publicado em 16 jul 2018, 17h36
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  • Ao lado de seu colega russo Vladimir Putin, nesta segunda-feira, 16, em Helsinque, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, negou a veracidade da interferência do Kremlin na sua eleição para a Casa Branca, em 2016, e chamou a investigação federal nos Estados Unidos sobre o caso de “um erro” e de “ridícula”.

    Abordado largamente pela imprensa, o tema provocou constrangimento nos dois líderes. “Todos sabem que houve zero conluio. Vencemos a Hillary Clinton de forma grandiosa. Esse inquérito é ridículo”, disse Trump. “Não houve conluio, não houve mentiras. Eu não conhecia o Putin [naquela época].”

    Trump e Putin tiveram seu primeiro encontro bilateral em terreno neutro a capital da Finlândia após a participação do americano na reunião de líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e de sua visita oficial ao Reino Unido. O peso das declarações de Trump contra a União Europeia, de sua defesa da Rússia e das manifestações públicas contra sua presença no Reino Unido foram as marcas do tour europeu do presidente americano.

    A investigação sobre a influência russa na eleição presidencial americana é conduzida pelo procurador federal Robert Mueller. Na sexta-feira, doze agentes russos foram indiciados por terem se infiltrado nos computadores do Comitê Central Democrata e nos da campanha de Hillary, em prejuízo para a candidata democrata.

    “Eu gostaria de ver os servidores do Comitê Central Democrata [que foram hackeados durante a eleição]. Onde está o servidor do empregado paquistanês que trabalhava para eles? Como não conseguimos recuperar os 33.000 e-mails que estavam no servidor pessoal de Hillary Clinton? Eu gostaria de ver os 33.000 e-mails mantidos privados por Hillary Clinton!”, esbravejou.

    Putin afirmou que “devemos sempre nos guiar pelos fatos”. “Dá para apontar um único fato que nos levaria a deduzir que houve um conluio?”, indagou. O presidente russo acrescentou que, se o procurador solicitar, as autoridades de seu país poderiam interrogar os “doze supostos agentes de inteligência”, “com base na reciprocidade”. Trump se absteve de responder se extraditaria os suspeitos para a Rússia.

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    Um jornalista, entretanto, questionou Trump: “Em quem você acredita, senhor presidente, na inteligência americana ou no senhor Putin?”. O americano não deu uma resposta clara e se negou a culpar o colega russo. “Tenho uma enorme confiança na inteligência dos Estados Unidos, mas Putin foi muito assertivo e convincente ao negar que a Rússia tenha interferido [na eleição de 2016]”, afirmou.

    Estresses

    Aliados na questão da eleição americana de 2016, Trump e Putin se irritaram ao abordar a dependência europeia do gás, carvão e petróleo russos. Na semana passada, na sede da Otan, o americano criticou a Alemanha por ser refém do gasoduto russo. Essas exportações estão entre as atividades econômicas mais dinâmicas da Rússia.

    Trump afirmou que Putin era um competidor nessa área dos Estados Unidos e que considerava isso um elogio. “A Rússia tem uma proximidade geográfica [da Europa] que é uma vantagem. Mas hoje em dia nós somos o número um em extração e vamos competir”, disse o americano, referindo-se sobretudo às explorações de gás e óleo de xisto em seu país.

    Putin tentou esboçar uma reação ao mencionar o último inverno europeu um dos mais frios dos últimos anos. Mas conseguiu apenas fazer com que seu par americano voltasse seus ataques à Alemanha, um de seus alvos prediletos. “Conversei com Angela Merkel sobre isso de forma muito dura. A Alemanha está gastando bilhões com energia russa. Não sei se isso é bom para a Alemanha, mas enfim…”, declarou Trump, referindo-se à chanceler alemã.

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    Tida como improvável há alguns meses, a reunião entre os dois presidentes era uma das mais aguardadas. As relações bilaterais degringolaram a níveis não vistos desde a Guerra Fria em parte, como resultado da acusação de interferência russa na eleição americana e de um suposto conluio entre o Kremlin e a campanha de Trump para derrotar Hillary.

    De acordo com Putin, uma das principais razões do encontro foi “restaurar o nível de confiança nas relações entre Rússia e Estados Unidos, que estavam abaladas”. Trump concordou com o colega. “Os desentendimentos entre nossos dois países são bastante conhecidos e públicos, mas vamos trabalhar para resolvê-los”, afirmou. “Mesmo durante a Guerra Fria, os Estados Unidos e a Rússia tinham um diálogo mais aberto e potente. Nossas relações nunca estiveram tão ruins quanto agora. Mas isso mudou há cerca de quatro horas, com meu encontro com o presidente Putin, creio eu”, completou Trump.

    O americano ofereceu à imprensa poucas informações sobre como pretende melhorar a relação com Moscou. Repetidamente, restringiu-se a dizer que as conversas haviam sido “diretas, abertas, profundas e produtivas”. A munição do americano parecia estar mais voltada para setores domésticos de seu país do que para os problemas que a Rússia tem causado mundo afora.

    Putin quis dar mais mostras das supostas boas relações bilaterais de outrora, explicando que Rússia e Estados Unidos possuem um pacto de assistência mútua em questões críticas, no qual os serviços de segurança dos dois países cooperam e que “funciona muito bem”. Trump lembrou que seu país cooperou com a Rússia durante a Copa do Mundo de 2018 e que, em 2017, os Estados Unidos alertaram os russos sobre um ataque terrorista planejado para ocorrer em São Petersburgo.

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    “Os russos agiram e pararam os terroristas, e o presidente Putin até ligou de volta para agradecer pelas informações”, explicou. “Nossos militares se dão muito bem, provavelmente melhor do que os líderes políticos de nossos países”, disse Trump, obtendo a concordância imediata de Putin à declaração.

    Ao listar os tópicos discutidos, Putin disse que as duas maiores potências atômicas do mundo vão trabalhar juntas pelo desarmamento, que se comprometeram a não colocar armas no espaço e que irão cooperar na luta contra o terrorismo. “Nosso trabalho conjunto na Síria prova que podemos assumir a liderança quando trabalhamos juntos”, afirmou o russo.

    “Discutimos a crise da Síria em profundidade. Praticamente eliminamos o Estado Islâmico (EI) no país trabalhando juntos”, complementou Trump. “Assim como nós, os russos também estão comprometidos com a segurança de Israel e com o que ocorre na Síria”, disse. “Estamos trabalhando com Israel e falei com Bibi [Benjamin] Netanyahu para criarmos paz para Israel.”

    Putin confirmou que seu país tem interesse em uma “paz duradoura” em Israel e na Síria, “especialmente na questão das Colinas do Golã”. Mas mostrou-se preocupado com a saída dos Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã, de 2015, e no que isso pode significar para o Oriente Médio. “Nenhum outro país nunca foi tão vigiado e inspecionado quanto o Irã para garantir que seu desenvolvimento nuclear tenha fins pacíficos”, afirmou Putin, contrariando totalmente a opinião propagada pelo americano.

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    “Tenho certeza que nos encontraremos novamente no futuro e com frequência”, concluiu Trump, depois de receber de presente de Putin uma bola da Copa do Mundo, “já que os Estados Unidos sediarão a Copa de 2026”. “A bola será de meu filho Barron”, anunciou o presidente americano.

     

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