Holanda adota medidas menos radicais de confinamento contra o coronavírus
Diferente de outros países europeus como Itália e França, governo não decretou quarentena obrigatória e afirma que não pretende fechar nação
Na contramão de países como Itália e França, que adotaram medidas severas de isolamento social de sua população para combater a pandemia de coronavírus, a Holanda rejeita o confinamento e o fechamento total de suas fronteiras como melhor alternativa na luta contra a Covid-19.
O primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, deixou de lado a possibilidade de “fechar o país completamente”, em um pronunciamento transmitido em todo o país pela televisão na segunda-feira 16.
“Uma abordagem tão rigorosa pode parecer uma opção atraente, mas especialistas dizem que isso não seria uma questão de dias ou semanas”, afirmou. “Em tal cenário, teríamos de fechar o país por um ano ou mais, com todas as conseqüências que isso acarretaria”.
Segundo Rutte, mesmo que fosse possível obrigar as pessoas a ficarem em suas casas por um período de tempo tão longo, nada garante que um novo surto do vírus não poderia atingir o país assim que as medidas de isolamento fossem levantadas. “A Holanda é um país aberto”, disse.
Apesar de aderirem a uma abordagem menos rígida do que a adotada pelos demais países europeus, os holandeses não ignoram as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre como lidar com a pandemia. O governo anunciou o fechamento das escolas, bares e restaurantes, além dos famosos coffee shops e bordéis, e proibiu grandes aglomerações de pessoas. A Holanda ainda concordou com as medidas de fechamento de fronteiras de todos os países da União Europeia (UE) e tem recomendado aos seus cidadãos que evitem viajar ao exterior.
De acordo com o primeiro-ministro, medidas mais drásticas, como uma quarentena obrigatória, não foram totalmente descartadas e podem ser adotadas futuramente, caso a crise piore. O país tem um total de 2.460 casos de coronavírus confirmados e 76 mortes.
Apesar da quarentena no país não ser obrigatória, muitas pessoas decidiram ficar em suas casas para evitar o contágio. Na última semana, as ruas do país estão quase desertas, sem movimento de comércio ou turistas.
Imunidade coletiva
Em seu discurso na última segunda, Mark Rutte ainda defendeu a aquisição da “imunidade coletiva” pela população. Segundo ele, muitos holandeses serão infectados com esse coronavírus e quanto mais pessoas estiverem imunes, menor a probabilidade que o contágio se dissemine entre pessoas vulneráveis e idosos.
O premiê reconheceu, entretanto, que essa imunidade coletiva levará meses para ser desenvolvida e a disseminação grande da doença pode saturar os serviços de saúde do país.
“Se fizéssemos isso, nosso sistema de saúde seria completamente inundado quando as infecções atingirem seu pico e não haveria capacidade suficiente para ajudar as pessoas idosas vulneráveis e outros pacientes de alto risco”, disse. “E esse, é claro, é um cenário que devemos evitar a todo custo”.
As declarações do premiê durante seu discurso, contudo, levaram a muitas críticas de médicos e especialistas contra a estratégia de imunidade coletiva. Em uma sessão parlamentar nesta quarta-feira 18, Rutte esclareceu que sua intenção nunca foi aplicar tal sistema na Holanda e que seu pronunciamento foi mal interpretado por muitos.
Durante a mesma sessão no Parlamento, o ministro de Assistência Médica da Holanda, Bruno Bruins, desmaiou enquanto discursava sobre as medidas que estão sendo adotadas no país para impedir a propagação do coronavírus. O integrante do governo desabou no púlpito, enquanto ouvia líderes de partidos de extrema direita, que cobravam um isolamento total do território holandês.
“Obrigado a todos pelo apoio. Desmaiei pelo esgotamento destas semanas intensas. Já estou melhor”, disse o ministro, que ainda explicou que descansaria por algumas horas, para voltar ao trabalho nesta quinta-feira, 19.