Guterres ataca indústria fóssil e pede união de líderes mundiais na ONU
Secretário-geral da ONU disse que os governos devem se unir para enfrentar as mudanças climáticas e pediu por mais ajuda aos países em desenvolvimento

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, discursou aos líderes mundiais nesta terça-feira, 20, durante a abertura da 77ª Assembleia Geral, com a difícil missão de mostrar ao mundo a importância do órgão e o seu papel na ordem internacional e no multilateralismo.
Em sua fala, Guterres disse que o mundo está em perigo e que as divisões geopolíticas estão cada vez mais minando o direito internacional, a confiança nas instituições democráticas e todas as formas de cooperação entre os países.
“Não podemos continuar assim. Temos o dever de agir. E, no entanto, estamos presos em uma colossal disfunção global”, disse.
Em discurso que fez malabarismo entre tons de alarmismo e esperança, o secretário-geral fez exigências de ação coletiva, e disse que há três áreas principais onde os líderes mundiais devem se unir: paz e segurança, crise climática e a abordagem da desigualdade nos países em desenvolvimento.
Como esperado, o conflito na Ucrânia também recebeu grande foco no discurso de Guterres. Com um maior papel de mediador após o início do conflito, ele condenou abertamente a Rússia por violar a carta das Nações Unidas e pediu investigações sobre possíveis crimes de guerra em território ucraniano.
Apesar disso, o secretário-geral também relembrou outras crises que ameaçam a estabilidade global, como Afeganistão, Mianmar, República Democrática do Congo, Israel e Palestina.
Em relação ao clima, Guterres acusou a indústria de combustíveis fósseis de “festejar centenas de bilhões de dólares em subsídios e lucros inesperados” e pediu aos líderes dos países ricos que emitam taxas adicionais para ajudar as nações vulneráveis que enfrentam os danos irreparáveis das mudanças climáticas.
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No segundo trimestre de 2022, a gigante de petróleo e gás Shell obteve lucros recordes de US$ 11,5 bilhões (R$ 59 bilhões), batendo seu recorde anterior registrado apenas três meses antes. Além dela, a ExxonMobil também bateu seu recorde no mesmo período, com lucro de US$ 17,9 bilhões (R$ 92,3 bilhões), quase o dobro do seu já vantajoso primeiro trimestre.
“Hoje, estou pedindo a todas as economias desenvolvidas que tributem os lucros inesperados das empresas de combustíveis fósseis. Esses fundos devem ser redirecionados de duas maneiras: para países que sofrem perdas e danos causados pela crise climática e para pessoas que lutam com o aumento dos preços dos alimentos e da energia”, disse.
Sua fala sucede uma proposta da União Europeia de introduzir um imposto sobre empresas de petróleo, gás e carvão, muitas das quais relataram lucros recordes como a guerra da Rússia na Ucrânia e uma crise de energia que fez os preços dispararem. A Comissão Europeia propôs que os Estados membros do bloco fiquem com 33% dos lucros excedentes das empresas.
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O Reino Unido também introduziu um imposto inesperado de 25% no início deste ano para aliviar as famílias que lutam com suas contas de energia. No entanto, a nova premiê, Liz Truss, disse que não estenderá a mesma medida para o próximo inverno.
Nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden chegou a analisar a ideia, mas ela não ganhou o impulso necessário.
Por fim, Guterres enfatizou os muitos desafios enfrentados pelos países em desenvolvimento, incluindo insegurança alimentar, dívida e pobreza.
“Essas crises em cascata estão se alimentando umas das outras, agravando as desigualdades, criando dificuldades devastadoras, atrasando a transição energética e ameaçando o colapso financeiro global”, disse ele.
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Ele pediu aos bancos internacionais para fornecerem empréstimos com melhores condições de pagamento a esses países, ao mesmo tempo que instou aos credores a considerarem o alívio das dívidas, principalmente relacionadas à questões climáticas.