Guaidó negocia plano de US$ 62 bilhões de ajuda do FMI para a Venezuela
Programa inicial de US$ 2 bi do Fundo terá objetivo de contribuir para o controle da hiperinflação, estimada em 10.000.000% para este ano
O autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, negocia um programa de ajuda de 2 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional (FMI), com o objetivo de estancar a hiperinflação do país, estimada em 10.000.000% para este ano. Os recursos estariam disponíveis no primeiro dia do governo transitório, que ocorrerá oficialmente se o ditador Nicolás Maduro cair. A equipe ainda negocia mais 60 bilhões de dólares com a instituição, que seriam desembolsados ao longo de cinco anos.
O valor da ajuda será integrada às reservas internacionais do país, atualmente de cerca de 8,1 bilhões de dólares. Com as reservas mais robustas, o país poderá iniciar um processo de estabilização da taxa de câmbio, cuja acentuada desvalorização prejudica também a oferta de produtos básicos para a população local.
“Para contermos a hiperinflação o mais rápido possível, precisamos de crédito internacional de organismos como o FMI, o Corporação Andino de Fomento (CAF), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Banco Mundial”, disse o deputado José Guerra, integrante da equipe de Guaidó, em entrevista ao jornal Valor Econômico.
Guerra ainda afirmou que os países que apoiam o presidente interino também irão disponibilizar um fundo de 2 bilhões de dólares para ajuda humanitária. Os financiadores incluem Brasil, Colômbia, Estados Unidos e parte da União Europeia. A quantia deve ser utilizada nos primeiros 90 dias do governo transitório, que terá no máximo 12 meses de duração, segundo as regras recentemente aprovadas pela Assembleia Nacional.
A Venezuela ainda tenta angariar mais 20 bilhões de dólares dos aliados desenvolvidos, que também incluem o Canadá.
O presidente do Conselho de Economia Nacional, Efraín Velásquez, disse que logo nas primeiras semanas de uma eventual transição, a equipe de Guaidó quer começar reformas estruturais, como a tributária, dar fim ao controle cambial, ajustar preços de combustíveis e tarifas de serviços públicos e privatizar boa parte das cerca de 3.000 empresas e propriedades estatizadas nos quase 20 anos de chavismo.
O Produto Interno Bruto (PIB) da Venezuela já caiu pela metade desde 2013. A crise econômica afetou diretamente a população, forçando mais de 3 milhões de venezuelanos a deixarem o país para fugir do desabastecimento e da pobreza. O fluxo criou um problema migratório para os países fronteiriços e fez com que a Organização das Nações Unidas (ONU) pedisse uma ajuda emergencial de 738 milhões de dólares para os refugiados.
Os recursos para ajuda humanitária vêm chegando no país desde a semana passada, sob uma iniciativa de Guaidó. O presidente interino tenta organizar a entrada de alimentos e remédios pelas fronteiras da Venezuela com o Brasil e a Colômbia, em uma tentativa de aliviar o racionamento. Mas a entrada dos produtos está sendo impedida pelo Exército, que ainda apoia Maduro.
Várias das remessas vêm dos Estados Unidos, principal força contra o regime chavista, que já bloqueou o acesso do governo aos ativos da PDVSA depositados em bancos americanos. A empresa petrolífera estatal é responsável por 90% do orçamento atual.
O governo de Trump não descarta uma ação armada na Venezuela e já ofereceu uma ajuda inicial de 20 milhões de dólares. O Canadá também anunciou 40 milhões de dólares canadenses em auxílio, e a Comissão Europeia, 5 milhões de euros, o que o governo de Maduro chamou de “esmola”.
O ministro das Relações Exteriores do governo Bolsonaro, Ernesto Araújo, afirmou na terça-feira 5 que o Brasil também avalia a forma de disponibilizar ajuda humanitária à Venezuela.
Guaidó, que é presidente da Assembleia Nacional, se autoproclamou presidente interino da Venezuela em 23 de janeiro, afirmando que Maduro “usurpou” o poder ao tomar posse após eleições que não contaram com a participação da oposição e foram fraudadas.
Fortalecido com o reconhecimento de 20 governos europeus, que se soma ao de Estados Unidos, Canadá e 12 países latino-americanos, ele vem pedindo aos militares e ao governo chavista que liberem a entrada de ajuda humanitária no país para aliviar os efeitos da crise econômica e social.