Em mais um desdobramento dos protestos em andamento contra a reforma da Previdência na França, eletricitários franceses estão ameaçando desligar as luzes do festival de cinema de Cannes, que acontece entre 16 e 27 de maio. Os membros da Federação Nacional de Minas e Energia, um grande apoiador do sindicato Confederação Geral do Trabalho (CGT), anunciaram os “100 dias de ação e raiva”, que devem atingir o histórico evento anual da indústria cinematográfica, bem como outros encontros esportivos e culturais.
O anúncio foi feito na semana passada logo depois que o presidente francês, Emmanuel Macron, prometeu executar um plano de ação de 100 dias para melhorar a vida cotidiana dos cidadãos, após três meses de manifestações contra a nova lei.
“Macron prometeu 100 dias para apaziguar, nós prometemos a ele 100 dias de ação e raiva! Não é hora para renúncias”, escreveu o sindicato em comunicado. “Em maio, faça o que quiser! O festival de cinema de Cannes, o Grande Prêmio de Mônaco, o Aberto da França, o festival de Avignon podem estar no escuro. Não vamos desistir!”, acrescentou a CGT.
A ameaça de corte de energia ocorreu após uma assembleia geral da federação nesta sexta-feira, 21. De acordo com a CGT, os debates feitos entre os membros foram firmes e unânimes, com a decisão de partirem para uma nova ofensiva. O secretário-geral da CGT Énergie, Fabrice Coudour, afirmou que o objetivo não é “impedir que eventos aconteçam”, mas sim ampliar a plataforma para protestos.
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“Queremos mostrar que não estamos virando a página e que a raiva ainda está presente e queremos expressá-la onde pudermos. Queremos ser ouvidos, na mídia e localmente até mesmo no festival de cinema de Cannes. Existem celebridades que compartilham nosso ponto de vista”, disse Coudour à BFM TV.
Até o momento, os organizadores do evento ainda não comentaram sobre a possível ameaça de interrupção. No mês passado, várias estrelas francesas como a Juliette Binoche, Laure Calamy, Jonathan Cohen, Michel Hazanavicius e Camille Cottin assinaram uma carta aberta a Macron com mais de 300 signatários protestando contra a lei.
“A razão e a democracia exigem a retirada imediata desta reforma previdenciária. Já é tempo de fazermos ouvir as nossas vozes porque, embora o cinema, o teatro e a cultura sejam por vezes sobre sonhos e escapismo, são sobretudo obras que se relacionam com o nosso mundo”, dizia a carta.
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A nova legislação eleva a idade oficial de aposentadoria de 62 para 64 anos e exige o aumento das contribuições para uma pensão completa. Após três meses de greve e protestos, o governo francês aprovou a lei usando uma ferramenta constitucional de emergência que evitou que a proposta fosse votada na Assembleia Nacional.
Logo após que o conselho constitucional aprovou a lei amplamente impopular, Macron ignorou os pedidos para adiar a promulgação, inflando ainda mais a raiva da população horas depois. Atualmente, o presidente francês tenta acalmar a raiva generalizada e promete medidas concretas para melhorar a saúde, educação, emprego e poder de compra das famílias até 14 de julho, o Dia da Bastilha.
Para melhorar sua imagem, Macron passou vários dias visitando partes da França, onde foi recebido com vaias. Além disso, o sindicato alertou que vai continuar a atingir as visitas presidenciais com “interrupções de energia”.