O embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, será chamado de volta a Brasília pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disseram funcionários do Itamaraty a VEJA nesta segunda-feira, 19. A medida ocorre após Meyer ser convocado por autoridades em Tel Aviv para dar explicações sobre uma declaração de Lula, que acusou o Exército israelense de conduzir um genocídio em Gaza e comparar suas ações ao Holocausto contra os judeus durante o regime nazista de Adolf Hitler.
A desocupação do posto em Tel Aviv tem objetivo de fazer “consultas” com o atual embaixador, segundo um funcionário ligado à diplomacia brasileira disse a VEJA, mas sugere um agravamento do impasse diplomático entre Brasil e Israel, já recheado de tensão. Nesta manhã, o governo israelense declarou o presidente Lula persona non grata.
O Itamaraty também anunciou que convocou nesta segunda-feira, 19, o embaixador israelense em Brasília, Daniel Zonshine, para comparecer a uma reunião com o chanceler Mauro Vieira.
“Diante da gravidade das declarações desta manhã do governo de Israel, o ministro Mauro Vieira, que está no Rio de Janeiro para a reunião do G20, convocou o embaixador israelense Daniel Zonshine para que compareça hoje ao Palácio Itamaraty, no Rio. E chamou para consultas o embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, que embarca para o Brasil amanhã”, disse um comunicado.
Persona non grata
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, que já havia convocado Meyer para uma reprimenda, emitiu um comunicado em que caracterizou a declaração do petista como “antissemita”.
“Não esqueceremos nem perdoaremos. É um ataque antissemita grave. Em meu nome e em nome dos cidadãos de Israel – diga ao presidente Lula que ele é persona non grata em Israel até que retire o que disse”, afirmou Katz.
O chanceler israelense escolheu museu do Holocausto chamado Yad Vashem como cenário incomum do encontro com Frederico Meyer para a “repreensão”, uma etapa do balé diplomático geralmente confinada às chancelarias, que acabou virando a declaração de persona non grata. Ele mostrou o nome de seus avós no livro das vítimas, a infindável compilação dos que morreram de tantas formas diferentes.
Discurso polêmico
Lula fez essa declaração durante entrevistas a jornalistas no hotel onde está hospedado em Adis Abeba, a capital da Etiópia. Lá, o presidente cumpriu seu último dia de compromissos oficiais na África. Lula discursou durante a abertura da cúpula da União Africana. “Sabe, o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse o presidente brasileiro.
As declarações do petista também provocaram reação do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Ele usou as redes sociais para endossar a convocação do embaixador do Brasil em Tel Aviv. “Comparar Israel ao Holocausto nazista de Hitler é cruzar a linha vermelha”, escreveu o primeiro-ministro.
+ Netanyahu já se envolveu em polêmica por declarações sobre Holocausto
Reação no Brasil
A Confederação Israelita do Brasil (Conib) emitiu uma nota na qual condenou a comparação feita por Lula. Para a entidade, o governo tem adotado uma postura desequilibrada sobre esse assunto e pediu moderação às autoridades. A Federação Israelita do Estado de São Paulo também criticou Lula. “Comparar a legítima defesa do Estado de Israel contra um grupo terrorista que não mede esforços para assassinar israelenses e judeus com a indústria da morte de Hitler é de uma maldade sem fim”, diz o texto.
Israel representa cerca de 0,4% da corrente de comércio com o Brasil. No ano passado, as exportações do Brasil para Israel, entre janeiro e setembro, somaram US$ 570 milhões, enquanto as importações alcançaram US$ 1,068 bilhão.