Os franceses foram às urnas neste domingo, 30, para o primeiro turno das eleições legislativas do país, antecipadas por Emmanuel Macron após a extrema direita conquistar a maioria dos assentos no Parlamento Europeu. Segundo resultados oficiais do Ministério do Interior do país, divulgados nesta segunda-feira, 1º, a sigla de extrema direita Reunião Nacional, de Marine Le Pen e Jordan Bardella, venceu o pleito com 33% dos votos.
Na sequência, ficou a coalizão Nova Frente Popular, de esquerda, com 28% dos votos. Já a coalizão de Macron, formada pelo Renascimento e por outras legendas de centro, enfraqueceu e conquistou 20% do eleitorado, confirmando as projeções. O resultado só vai ser decidido no segundo turno, no próximo domingo, 7, mas a primeira rodada foi marcante, com o maior comparecimento às urnas em 40 anos. Estima-se que 69% dos eleitores tenham ido votar, percentual superior aos 52,4% de 2022, quando Macron foi eleito.
O atual presidente pediu uma aliança entre “candidatos republicanos e democráticos”, sinalizando que contará com a esquerda para derrotar a extrema direita. Candidatos de ambas coligações já indicaram que retirariam seus próprios candidatos em distritos onde outro concorrente estivesse em melhor posição para derrotar a RN no segundo turno.
Embora as motivações de Macron para antecipar as eleições legislativas não sejam óbvias, a opinião pública viu o movimento como um grande obstáculo que ele colocou ao próprio mandato. Caso no segundo turno os extremistas do Reagrupamento Nacional consigam, mesmo, a maior bancada na Assembleia Nacional, o presidente terá de indicar o carismático Jordan Bardella, cria de Marine Le Pen e presidente da legenda, como primeiro-ministro.
Apesar do favoritismo, Bardella declarou que só vai requerer o posto caso a legenda salte dos atuais 88 assentos para 289, conquistando maioria absoluta na Assembleia Nacional. De acordo com a projeção atual, o RN deve passar a ter algo entre 230 e 280 lugares na Assembleia Nacional.
As eleições seguem as regras do voto distrital. Os candidatos que não obtiverem metade dos votos em seus distritos disputam o segundo turno, marcado para 7 de julho. O descompasso entre o premiê e o presidente (a França adota o sistema semipresidencialista) tem tudo para dificultar a governabilidade e deve abrir caminho para a extrema direita conquistar a chefia do Executivo, em um futuro próximo. Uma vitória também tem significado importante na União Europeia, já que Bardella, pelas leis da França, ficaria encarregado das relações internacionais. Ao lado da Alemanha, o país lidera o bloco.
O que quer o Reunião Nacional?
Versão repaginada do Frente Nacional, o RN é o partido de extrema direita que abriga a principal oposição de Macron na política francesa, a ultraconservadora Marine Le Pen. Embora Jordan Bardella adote a clássica imagem de outsider carismático, o manifesto recente do partido aponta que se trata de uma ultradireita padrão, tendo como principais bandeiras a expulsão de “estrangeiros islâmicos”, a abolição do direito à nacionalidade a filhos de imigrantes, o fim dos benefícios sociais para pais de menores infratores e um endurecimento da disciplina escolar.
O que esperar da frente de esquerda?
Em segundo lugar nas pesquisas, a Nova Frente Popular, formada por socialistas, verdes e comunistas, tem como líder Jean Luc Mélanchon. Crítico de Macron pela postura de austeridade fiscal e pelos cortes a benefícios de trabalhadores, ele promete não repetir a aliança de apoio ao governo. Em uma tentativa de enfrentar a extrema direita, a NFP promete revogar a reforma previdenciária de Macron, aumentar o salário mínimo, recuperar serviços públicos, tributar os mais ricos e apostar de maneira consistente na transição ecológica.
O que houve com o partido de Macron?
Em pleitos anteriores, a liderança do Renascimento angariou votos progressistas por se colocar como única alternativa à extrema direita, mas agora, após uma série de medidas austeras, o partido de centro-direita perdeu parte dos apoiadores.
Macron continua apostando na histórica aversão dos eleitores franceses à extrema direita, motivação que parece estar por trás da antecipação das eleições legislativas do país frente à conquista dos ultraconservadores no Parlamento Europeu. É possível, no entanto, que os resultados da eleição dificultem ainda mais seu governo, que só enfrentará novo pleito em 2027.