Milhares de alemães voltaram às ruas da nesta quarta-feira, 17, no sétimo dia de protestos contra o partido de ultradireita Alternativa para Alemanha (AfD). O movimento nasceu na última quarta-feira 10, quando o jornal local Correctiv revelou um “plano secreto” da sigla para deportar imigrantes a “um Estado modelo no norte da África“, o que, para os manifestantes, se assemelha ao antigo projeto de Adolf Hitler para banir judeus para Madagascar.
Em resposta ao escândalo, a líder da AfD, Alice Weidel, demitiu um assessor que participou da reunião que discutiu a proposta de “reimigração”, como tem sido chamada na Alemanha. Além disso, Weidel acusou a reportagem da Correctiv de deturpar as intenções da legenda e disse que pretende esgotar todos os meios legais para prevenir a imigração ilegal, deportar supostos terroristas e barrar a obtenção de nacionalidade alemã.
“Quem tem cidadania alemã pertence sem dúvida à nação alemã”, defendeu, durante coletiva de imprensa. “E é precisamente por isso que a cidadania alemã não pode ser vendida barata e distribuída a bel prazer.”
+ Motor engasgado: o que explica a má fase da economia da Alemanha
‘Nazistas não, obrigado’
Nem as temperaturas congelantes foram capazes de manter os alemães dentro de suas casas. Em Berlim, na última sexta-feira, manifestantes saíram às ruas com cartazes onde lia-se: “Nazistas não, obrigado”; “Parece que estamos em 1933, proibição da AfD agora!”; e “Investigar a proibição do AfD”.
Espalhados pelo país, os protestos contaram, inclusive, com a participação do chanceler alemão, Olaf Scholz, que instou seus colegas social-democratas a se posicionarem contra os “fanáticos”. A ministra das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, também juntou-se aos manifestantes. Mais atos estão previstas para esta quarta-feira, 17, em Berlim, na capital alemã.
A proposta anti-imigração colocou o chefe da Espionagem Interna da Alemanha, Thomas Haldenwang em alerta máximo para possíveis ações de movimentos extremistas ligados à ultradiretia. Ele também apelou à “maioria silenciosa” para “despertar”, incentivando os cidadãos alemães a se posicionarem abertamente contra os planos da AfD.
+ Greve de três dias impacta circulação de trens na Alemanha
Futuro da AfD
A sigla, antes relegada às margens da política, ocupa hoje o segundo lugar nos levantamentos nacionais e lidera pesquisas de intenção de voto de três eleições regionais. Apesar de sua popularidade em disparada, a AfD não foi bem sucedida em formar coalizações com partidos nacionais, que se recusam a trabalhar lado a lado com a extrema direita. Portanto, não é capaz de formar governos viáveis.
O apoio aos radicais disparou em meio ao descontentamento com a atual administração em uma gama de questões, incluindo a guerra na Ucrânia e a sobrecarga dos serviços públicos, provocada pela imigração. A recessão e a instabilidade inflacionária tornaram o governo Scholz um dos mais impopulares da história moderna do país, onde 78% dos alemães estão insatisfeitos com a atual gestão.
Devido ao avanço da AfD, políticos discutem a possibilidade de apelar ao tribunal constitucional para proibir o partido. No entanto, a medida pode sair pela culatra ao transformá-lo em uma espécie de mártir, uma vítima de perseguição do sistema.