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‘Foi um erro’: a dura declaração de Joseph Blatter sobre a Copa do Mundo

Ex-dirigente da Fifa quando Catar foi anunciado como sede da competição citou mudança de critérios após escolha de primeiro país do Oriente Médio

Por Da Redação
8 nov 2022, 13h16
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  • Ex-presidente da Fifa quando o Catar foi anunciado como país sede da Copa do Mundo de 2022, Joseph Blatter afirmou ao jornal suíço Tages Anzeiger que “a escolha foi ruim”. Com a declaração desta terça-feira 8 de que o “Catar foi um erro”, ele se soma às amplas críticas pela falta de representação do país no futebol e o péssimo histórico de direitos humanos, que surgiram assim que o país foi anunciado como anfitrião, há 12 anos.

    “É um país muito pequeno. O futebol e a Copa do Mundo são grandes demais para ele”, disse o ex-dirigente sobre o Catar, primeiro país do Oriente Médio a receber o torneio.

    Segundo Blatter, a Fifa chegou a mudar em 2012 os critérios usados para escolher os países anfitriões à luz de preocupações com condições de trabalho em locais ligados ao torneio.

    + Delegado da Copa do Mundo do Catar diz que homossexuais têm ‘dano mental’

    “Desde então, considerações sociais e direitos humanos foram levados em consideração”, acrescentou o ex-dirigente, que comandou a Fifa por 17 anos. Enrolado em acusações de corrupção durante sua chefia, ele foi inocentado por fraude por um tribunal suíço em junho, mas procuradores entraram com um recurso.

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    No mesmo dia da declaração de Blatter, um embaixador da Copa disse à emissora de televisão alemã ZDF que a homossexualidade era equivalente a um “dano na mente”. Em uma entrevista filmada em Doha, o ex-jogador de futebol Khalid Salman abordou a questão da homossexualidade, que é ilegal no país muçulmano conservador. Alguns jogadores de futebol levantaram preocupações sobre os direitos dos torcedores que viajam para o evento, especialmente pessoas LGBTQIA+ e mulheres, que grupos de direitos humanos dizem que as leis do Catar discriminam.

    A entrevista foi interrompida por um funcionário que o acompanhava. Os organizadores da Copa do Mundo do Catar não comentaram o ocorrido.

    A Fifa defendeu repetidamente que todos são bem-vindos no Catar durante a Copa do Mundo. Na semana passada, a autoridade do futebol emitiu um comunicado pedindo “foco no futebol, não em política”, durante o evento.

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    Apesar do histórico de direitos humanos, Blatter disse que assistirá de sua casa em Zurique o torneio, que começa em menos de duas semanas.

    Críticas

    Além de duras declarações de ativistas sobre a situação de direitos humanos no Catar, alguns participantes da Copa do Mundo também expressaram insatisfação. No final de outubro, a seleção de futebol da Austrália se tornou a primeira equipe da competição a condenar declaradamente os abusos no país anfitrião. 

    A federação australiana de futebol afirmou que a exploração de trabalhadores migrantes durante a construção dos estádios “não pode ser ignorada” e instou o país a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, em um dos protestos mais significativos do torneio até agora.

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    No final de setembro, a fornecedora de material esportivo da seleção da Dinamarca, Hummel, anunciou uma camisa de jogo preta, a cor do luto, para reconhecer de forma “velada” os trabalhadores migrantes que morreram no país durante a construção dos estádios. Além do protesto contra as violações, a Federação Dinamarquesa também aderiu a uma campanha europeia lançada na semana passada que promove a igualdade e a diversidade sexual, chamada “One Love”. Capitães dos times que apoiam o movimento como a Alemanha, França e Reino Unido usarão braçadeiras multicoloridas em formato de coração no país onde a homossexualidade é punível com tortura e morte. 

    O Catar tem sido criticado globalmente por acusações envolvendo o tratamento de trabalhadores estrangeiros na preparação para o espetáculo global. Muitos dos imigrantes foram alojados em campos de trabalho precários, tiveram compensação inadequada e foram forçados a permanecer no país por meio de passaportes confiscados.

    Em relatório publicado no ano passado, a Anistia Internacional afirma que o Catar falhou em investigar as mortes de dezenas de trabalhadores migrantes na última década. De acordo com a organização de direitos humanos, a maioria das mortes de migrantes no país foi atribuída a “causas naturais”, falhas cardíacas ou respiratórias. As classificações, no entanto, são “sem sentido” quando não há a verdadeira causa da morte explicada, afirma um especialista citado no documento.

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    Faltando um mês para o início da competição, a Fifa confirmo negociações para a criação do fundo de compensação para trabalhadores migrantes feridos nas obras do evento esportivo. 

    A ideia já tinha sido defendida por diversas organizações de defesa dos direitos humanos, como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, que recentemente fizeram uma proposta para que a Federação Internacional de Futebol destine uma verba de 440 milhões de dólares, o equivalente a 2,3 bilhões de reais, para operários e familiares.

    Estatísticas oficiais do governo mostram que 15.021 trabalhadores de fora do Catar morreram no país entre 2010 e 2019. Os dados, no entanto, não indicam apenas trabalhadores migrantes que morreram por condições de trabalho, à medida que inclui pessoas de todas as idades, ocupações e causas. Os dados oficiais também não indicam quantos morreram em construções ligadas à Copa do Mundo.

    Em fevereiro, o jornal britânico The Guardian revelou que mais de 6.500 migrantes do sul da Ásia morreram no Catar na última década. Ao todo, a força de trabalho do país composta por migrantes chega a 2 milhões de pessoas.

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