EUA começam a mandar migrantes que pedem refúgio de volta ao México
Autoridades mexicanas reclamaram de decisão unilateral, mas afirmam que irão ceder vistos temporários aos extraditados por "razões humanitárias"
Na terça-feira 29, os Estados Unidos começaram a devolver ao México migrantes que cruzaram a fronteira americana para pedir refúgio. A medida faz parte de uma estratégia do presidente Donald Trump, que visa obrigar os estrangeiros a esperar fora do território americano pelo encontro com um juiz do país, que avaliará seu requerimento de asilo.
Katarlo Gomez Cardomo, um homem de Honduras, foi o primeiro a ser extraditado, segundo um correspondente da AFP em Tijuana, cidade mexicana fronteiriça próxima a São Diego, na Califórnia. A imigração o conduziu até uma van e o levou para um abrigo de refugiados. A embaixada dos Estados Unidos na Cidade do México confirmou em um comunicado que Washington começou a implementar a nova política, que críticos afirmam colocar os migrantes em risco.
Indo contra as preocupações, a embaixada se alinhou à nomenclatura utilizada pelo Departamento de Segurança Interna americana, chamando as manobras de “protocolos de proteção aos migrantes.” O órgão ainda argumentou que os pedidos de asilo aumentaram 2.000% nos últimos cinco anos. Anunciada em 2018, a nova política visa o fim do que Trump chama de “prende e solta”, que permite aos estrangeiros cruzar a fronteira sem os documentos necessários e então pedir refúgio enquanto seus casos correm na justiça.
“Muitos migrantes em potencial sabem que buscar refúgio lhes dá a oportunidade de permanecer nos Estados Unidos mesmo que não tenham um argumento válido para o pedido. A maioria desses argumentos não atende aos requisitos necessários. De fato, nove em cada 10 solicitações de asilo são rejeitadas por um juiz migratório”, explicou a sede diplomática.
Agora, os migrantes que entrarem nos Estados Unidos serão fichados pelas autoridades migratórias, notificados para comparecer a uma futura audiência em um tribunal, e retornarão ao México, onde ficarão enquanto durar o processo.
Aqueles cujos argumentos forem considerados válidos pelos juízes americanos receberão status de refugiado e poderão permanecer nos Estados Unidos, e os que carecerem de argumentos válidos serão repatriados para seus países de origem.
Segundo ativistas, migrantes vêm sendo torturados, estuprados e mortos em regiões violentas da fronteira mexicana, e a nova postura violaria o direito dessas pessoas, que estão sob risco real de vida, de se proteger nos Estados Unidos.
O México disse anteriormente que “não concorda com a medida unilateral”, mas consentiu “por razões humanitárias e de maneira temporária” a receber os estrangeiros que os Estados Unidos expulsar, desde que “recebam uma convocação para comparecer perante um juiz migratório” americano.
Autoridades do país dizem que os planos de Trump incluem o transporte de 20 pessoas por dia ao posto de Tijuana, e eventualmente irá se expandir para outros locais da fronteira de mais de 3 kilômetros.
Em novembro, uma caravana com milhares de centro-americanos, composta principalmente de famílias com crianças, chegou à cidade mexicana com a intenção de cruzar a fronteira em direção aos Estados Unidos, onde buscavam fugir da pobreza e violência de seus países. Desde então, outras expedições empreenderam viagens em direção ao “sonho americano”.
(com AFP)