Exatos 240 dias depois de herdar automaticamente o trono com a morte de sua mãe, a rainha Elizabeth II, o rei Charles III foi coroado neste sábado, 6, na Abadia de Westminster.
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Diante de uma congregação de cerca de 100 líderes mundiais e uma audiência televisiva de milhões, o Arcebispo de Canterbury, o líder espiritual da Igreja Anglicana, colocou lentamente a Coroa de Santo Eduardo, de 360 anos, na cabeça de Charles, enquanto ele se sentava sobre um trono do século XIV.
Primeiro na linha de sucessão ao trono, o príncipe William, futuro da monarquia britânica, prestou sua homenagem. Ajoelhado em frente ao pai, disse: “Eu, William, príncipe de Gales, prometo minha lealdade. Fé e verdade lhe darei, como seu suserano de vida e membros. Então me ajude, Deus”.
Após as tradicionais saudações de “God Save The King” (Deus salve o rei, em português), foi a vez de Camilla, esposa de Charles, ter o seu momento na coroação, com sua própria coroa.
Após a coroação, Charles solicitou que uma música ortodoxa grega do Byzantine Chant Ensemble tocasse durante o serviço religioso, para homenagear seu pai, príncipe Philip, que morreu em abril de 2021. O consorte de Elizabeth, da casa alemã de Glücksburg, era um príncipe da Grécia e da Dinamarca.
Além disso, o rei contratou o músico britânico, Andrew Lloyd Webber, para compor o hino da coroação, uma das 12 peças que o rei escolheu pessoalmente.
Após a cerimônia, Charles e Camilla vão fazer a Procissão da Coroação, uma viagem de 2,1 quilômetros de volta ao palácio de Buckingham na carruagem Diamond Jubilee State Coach, montada na para os 60 anos de reinado de Elizabeth II, em 2012. É provável que o público se alinhe nas ruas da rota da procissão para ter um vislumbre do monarca recém-coroado. Espera-se também que os membros da realeza apareçam na sacada do palácio para acenar aos espectadores.
No domingo, 7, está marcado o “Grande Almoço da Coroação”, iniciativa é organizada pelo Eden Project, caridade que Camilla apoia desde 2013. Tanto o rei quanto a rainha escolheram uma quiche de inspiração francesa para marcar a coroação. O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, anunciou que vai oferecer seu próprio almoço na rua, recebendo voluntários de todo o país.
Já à noite, o gramado leste do Castelo De Windsor vai receber o show da coroação, pela primeira vez realizado no terreno do castelo. Os headliners incluem a banda Take That, o músico Lionel Ritchie, o cantor de ópera italiana Andrea Bocelli e a cantora Katy Perry – embaixadora do British Asian Trust, uma instituição de caridade liderada por Charles.
Cerca de 10.000 ingressos foram sorteados ao público britânico por meio de uma divisão geográfica. Outros 57 locais vão transmitir o show em telões ao redor do país.
A segunda-feira, por sua vez, será feriado para os britânicos, mas grupos de caridade eleitos vão se reunir em um evento chamado “A grande ajuda”. Os parceiros convidados incluem a The Scout Association, maior iniciativa de escoteiros do Reino Unido, o Royal Voluntary Service, organização sem fins lucrativos que ajuda pessoas de toda Inglaterra, e outros grupos religiosos de todo o Reino Unido. A iniciativa tem como objetivo incentivar o público a apoiar a comunidade local e o voluntariado, em homenagem ao rei.
Apesar de estar profundamente enraizada na história, com ritos que datam da época de Guilherme, o Conquistador, em 1066, a coroação tenta apresentar uma monarquia voltada para o futuro. Durante parte de toda pompa, Charles chega a dizer que não foi para ser servido, e sim para servir ao povo.
O Palácio de Buckingham não fornece um valor oficial para o custo da coroação, mas as estimativas o colocam entre 50 milhões de libras e 100 milhões de libras, o que chegaria a cerca de 626 milhões de reais.
Para uma nação lutando para encontrar seu caminho no turbilhão político após a controversa saída da União Europeia e para manter sua posição de protagonismo na ordem internacional, apoiadores da monarquia dizem que a família real ainda oferece uma atração internacional e uma ferramenta diplomática vital.
O desafio do monarca, no entanto, é claro. Apesar de uma ampla aprovação à manutenção da monarquia, com 58% preferindo a monarquia parlamentar do que um chefe de Estado eleito, apoiado por 26% dos entrevistados, a maioria dos jovens é menos propensa a apoiar a realeza: apenas 32% dos britânicos entre 18 a 24 anos apoiam a monarquia, segundo uma pesquisa YouGov publicada às vésperas da coroação.
Durante toda a preparação para o o evento deste sábado houve protestos republicanos contra a monarquia. Enquanto a coroação acontecia, alguns manifestantes se reuniram na Trafalgar Square, onde o evento era transmitido em um telão. Em todos os momentos em que as palavras “rei Charles” eram mencionadas, uma pequena multidão gritava: “não é o meu rei”.