Médicos de Israel anunciaram uma greve nesta terça-feira, 25, em protesto contra a aprovação de uma controversa reforma judicial pelo governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Além disso, milhares de manifestantes foram às ruas de Jerusalém e Tel Aviv na noite de segunda-feira 24, quando o texto foi aprovado.
A Associação Médica de Israel, que diz representar cerca de 95% dos profissionais da área, disse que vai realizar um protesto de 24 horas, com isenções para atendimentos de emergência. Na semana passada, a associação já havia feito uma breve greve como aviso, argumentando que a reforma judicial “devastaria o sistema de saúde”.
O ministro da Saúde, Moshe Arbel, está tentando aprovar uma liminar para impedir a paralisação dos médicos. Somada a um possível boicote de mais de 10 mil reservistas militares, a situação constitui a maior crise doméstica que o país já enfrentou.
Os protestos foram provocados pela aprovação de uma reforma judicial que extinguiu a cláusula de “razoabilidade”, que permitia à Suprema Corte de Israel anular decisões do governo consideradas inconstitucionais. O projeto foi aprovado em lei por uma votação final de 64-0 no parlamento israelense, o Knesset, em que todos os membros da coalizão de Netanyahu foram favoráveis à mudança, enquanto os legisladores da oposição abandonaram o plenário em protesto, gritando “vergonha”.
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Durante a votação, as ruas ao redor do prédio do Knesset em Jerusalém estavam lotadas com aproximadamente 20 mil manifestantes agitando bandeiras. Quando veio a notícia da aprovação, a multidão gritou: “Nunca vamos desistir”. Cartazes e adesivos foram espalhados por toda a cidade, dizendo “não serviremos a um ditador”, “democracia ou rebelião” e “salvar Israel de Netanyahu”.
A polícia usou canhões de água para dispersar bloqueios a rodovias, algumas das quais continham barreiras incendiadas, enquanto shoppings e empresas em muitas cidades fecharam suas portas em solidariedade aos protestos. Pelo menos 19 pessoas foram presas na segunda-feira.
Milhares de pessoas também se manifestaram no centro da capital, Tel Aviv, onde houve confrontos com a polícia e inúmeras fogueiras. Além disso, a polícia disse ter prendido um motorista que atropelou um grupo de pessoas, ferindo três manifestantes.
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Opositores da reforma disseram que iriam contestar a nova lei no Supremo, como o líder da oposição, Yair Lapid. Ao Knesset, ele disse que a votação marcou “uma dominação por uma minoria extrema sobre a maioria israelense”. Após a aprovação do projeto, Lapid chegou a declarar que a medida significa a destruição da democracia israelense.
Os Estados Unidos comunicaram que o presidente americano, Joe Biden, não desistiu de tentar encontrar um consenso mais amplo entre os políticos de Israel. A secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse: “É lamentável que a votação tenha ocorrido hoje com a menor maioria possível”.
Grupos judaicos nos Estados Unidos condenaram a medida como uma ameaça à democracia e alertaram que a reforma judicial poderia prejudicar as relações entre Israel e os judeus americanos. Um dos mais antigos grupos pró-Israel no país, o Comitê Judaico Americano, expressou “profunda decepção” com a votação e disse estar “gravemente preocupado” com as divisões na sociedade israelense.
“O esforço contínuo para avançar na reforma judicial, em vez de buscar um meio termo, semeou discórdia dentro das Forças de Defesa de Israel em um momento de ameaças elevadas à pátria judaica e prejudicou o relacionamento vital entre Israel e os judeus da diáspora”, disse o Comitê Judaico Americano em comunicado.
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O Ministério das Relações Exteriores da Alemanha também se pronunciou, declarando que “lamenta muito” que as negociações entre o governo e a oposição tenham sido interrompidas “por enquanto”.
“À luz de nossos laços profundos com Israel e seu povo, vemos o aprofundamento das tensões na sociedade israelense com grande preocupação”, disse a pasta em um comunicado. “Especialmente após a adoção de hoje da primeira parte da planejada reestruturação do judiciário, continua sendo importante dar tempo e espaço suficientes para um amplo debate e consenso social.”
O Conselho de Deputados do Reino Unido apoiou os esforços do presidente israelense, Isaac Herzog, para encontrar um consenso e pediu aos líderes de Israel que continuem conversando para “evitar o aprofundamento de uma crise constitucional que causará danos tremendos ao tecido da sociedade israelense”.
Em um discurso televisionado, Netanyahu descreveu o projeto de lei como “um ato democrático necessário” que traria de volta o “equilíbrio entre os ramos do governo”. O primeiro-ministro israelense pediu um novo diálogo com a oposição e defendeu a unidade nacional.