Em telefonema de uma hora, o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, discutiram nesta sexta-feira, 15, sobre os caminhos rumo ao fim da guerra na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022. É a primeira ligação em dois anos entre Putin e um líder ocidental em exercício. Segundo o Kremlin, o convite para uma conversa partiu de Scholz.
“Falei com o presidente Putin ao telefone e pedi que ele encerrasse a guerra de agressão russa contra a Ucrânia e retirasse suas tropas. A Rússia deve mostrar disposição para negociar com a Ucrânia – com o objetivo de alcançar uma paz justa e duradoura”, escreveu o chanceler no X, antigo Twitter.
No bate-papo, Scholz alertou que o envio de tropas norte-coreanas para fortalecer o lado russo no campo de batalha representa uma escalada da guerra. A Ucrânia alega que mais de 50 mil soldados de Pyongyang foram enviados para a região de Kursk, onde Kiev iniciou uma operação surpresa em agosto.
O chanceler também apelou ao chefe do Kremlin para encerrar a invasão, argumentando que Moscou ainda não alcançou nenhuma de suas metas para o confronto, e frisou que o país continuaria a apoiar Kiev. Ele condenou, ainda, ataques russos à infraestruturas cruciais da Ucrânia.
O presidente russo, por sua vez, teria reforçado que negociações para o encerramento do confronto deverão levar em consideração as “novas realidades territoriais e, mais importante, abordar as causas profundas do conflito”. A Ucrânia rejeita ceder qualquer parte de seu território para a Rússia, que anexou quatro regiões ucranianas ao seu mapa em 2022: Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia.
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Scholz em apuros
A retomada de contato acontece em um momento de crise política na Alemanha, após a coalizão governista ruir na semana passada. A turbulência começou quando o chanceler, do Partido Social-Democrata (de centro-esquerda), demitiu seu ministro das Finanças, Christian Lindner, do Partido Democrático Liberal (de centro-direita), depois de meses de disputa sobre como preencher um buraco multibilionário no orçamento nacional.
A legenda de Lindner abandonou a coalizão, que também conta com o Partido Verde, deixando-a sem maioria parlamentar. O Partido Social-Democrata, o Partido Democrático Liberal e o Partido Verde governavam juntos desde 2021, a primeira coalizão de três pilares em nível federal na Alemanha.
O atrito entre as legendas se agravou nos últimos meses devido à saúde financeira do país – a maior economia da Europa deve encolher pelo segundo ano consecutivo e em meio à atual volatilidade geopolítica, com guerras na Ucrânia e no Oriente Médio. Em discurso ao Parlamento nesta quarta-feira, Scholz afirmou que que a guerra na Ucrânia não pode ser uma pedra no sapato para a prosperidade alemã.
O político de 66 anos disse que “o apoio à Ucrânia não pode levar a cortes em pensões, assistência e saúde”. Anteriormente, ele propôs anular o freio da dívida pública, que foi imposto pelo governo, para financiar a ajuda militar à nação invadida pela Rússia.
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Críticas de Zelensky
A conversa ocorre poucos dias após Scholz reiterar a “solidariedade inabalável” de Berlim ao presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Na publicação, o político alemão relembrou que o conflito “já dura quase 1000 dias” e destacou que “a Alemanha continuará seu apoio militar à Ucrânia em estreita coordenação com parceiros europeus e internacionais”.
No X, Zelensky afirmou que o chanceler havia o notificado sobre os planos de ligar para Putin, mas criticou o contato por abrir “a Caixa de Pandora”, acrescentando: “Agora pode haver outras conversas e telefonemas. Só um monte de palavras”. O líder ucraniano disse que “é exatamente isso que Putin busca há muito tempo”.
“É crítico para ele enfraquecer seu isolamento, assim como o isolamento da Rússia, e manter meras conversas que não levarão a lugar nenhum. Ele vem fazendo isso há décadas”, ponderou ele.
“Isso permitiu que a Rússia evitasse fazer quaisquer mudanças em suas políticas, efetivamente não fazendo nada, o que levou, em última análise, a esta guerra. Entendemos todos os desafios atuais e sabemos o que fazer do. E queremos deixar claro: não haverá “Minsk-3″; precisamos de paz real”, concluiu Zelensky.