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E nos EUA, Trump vai sofrer impeachment?

Quase metade da população quer a instauração do processo para tirá-lo do cargo

Por Angela Nunes 18 Maio 2017, 17h10
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  • A revelação, na terça-feira, de que Donald Trump pediu a James Comey, ex-diretor do FBI, que encerrasse as investigações sobre o ex-assessor de segurança nacional Michael Flynn, complicou ainda mais o cenário político americano e levantou questionamentos sobre o futuro da administração do presidente dos Estados Unidos. A informação, somada à recente demissão de Comey, na semana passada, pode configurar obstrução da justiça e fornecer aos opositores de Trump a justificativa necessária para tirá-lo do cargo.

    “Parece que estamos nos aproximando cada dia mais de um impeachment, com eventos se movendo mais rapidamente do que se esperava”, diz a especialista em direito constitucional Catherine Ross, professora da Universidade George Washington. Apesar do furor em torno da situação, o processo não é simples, nem está na iminência de ocorrer.

    As especulações sobre um eventual impeachment de Trump rondam o presidente americano desde o primeiro dia de seu governo,baseadas nas acusações de interferência da Rússia nas eleições de 2016. Até agora, tudo não passava de elucubração dos opositores, mas à luz dos últimos acontecimentos, o democrata Al Green pediu, na segunda-feira, o impeachment do presidente americano. As acusações contra Trump são sérias, mas por enquanto não são suficientes para removê-lo do cargo. O primeiro passo para que o impeachment aconteça é a comprovação que existe uma base jurídica, ou seja, o presidente tem de ser formalmente acusado de crime contra a responsabilidade de seus deveres políticos. Isso não aconteceu – e pode não acontecer.

    “O impeachment é, como bem sabem os brasileiros, uma experiência cívica difícil. Deve ser um último recurso. Mas está na nossa Constituição por uma razão. É o único recurso disponível se um presidente abusa do poder, ignora disposições constitucionais específicas, como as destinadas a prevenir a corrupção, ou prejudica o Estado de direito”, diz a especialista em direito constitucional Catherine Ross, professora da Universidade George Washington.

    O que efetivamente se tem até agora é a possível existência de um memorando em que o ex-diretor do FBI teria feito anotações de uma reunião em que Trump pediu que ele abandonasse as investigações. O Congresso já solicitou ao FBI as anotações de Comey sobre a conversa. “Se verdadeiros, esses memorandos apresentam dúvidas sobre se o presidente tentou influenciar ou impedir a investigação do FBI no que se refere ao general Flynn”, disse o republicano Jason Chaffetz, que assinou a petição dirigida ao diretor interino do FBI, Andrew G. McCabe.

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    O registro de um membro do FBI tem valor legal e geralmente pode ser usado como evidência. O memorando por si só, no entanto, não constitui prova contra o presidente. É preciso demostrar que Trump tomou medidas para obstruir a justiça. A demissão de Comey depois de ele não aceitar o fim da investigação é um importante indício de obstrução, mas também precisa ser provado. “Tudo depende ainda da investigação sobre o memorando e sobre a demissão de Comey. Uma comissão da câmara ou um investigador especial terá que provar que houve obstrução da justiça. E isso é difícil de comprovar” diz Marcus Vinícius Freitas, professor de direito e relações internacionais da Faap. “Se houve alguma modificação no procedimento da investigação ou se ela foi diminuída ou abandonada com a saída do diretor do FBI, reforça-se a tese de obstrução. Mas, se a investigação continuou nem alterações, isso fragilizaria o argumento de Comey”, completa Freitas.

    Caso se confirme a obstrução da justiça, o Congresso votará a abertura do processo. Por fim, apenas de dois terços do Senado concordar o impeachment será instaurado. Dois presidentes americanos enfrentaram pedidos de impeachment, mas em nenhum deles teve o processo finalizado. No caso dos presidentes Andrew Johnson (1829-1837) e Bill Clinton (1993-2001), o Congresso aprovou o pedido, que acabou sendo derrubado no Senado. Já Richard Nixon (1969-1974) renunciou antes de enfrentar o julgamento político. “O impeachment é, como bem sabem os brasileiros, uma experiência cívica difícil. Deve ser um último recurso. Mas está na nossa Constituição por uma razão. É o único recurso disponível se um presidente abusa do poder, ignora disposições constitucionais específicas, como as destinadas a prevenir a corrupção, ou prejudica o Estado de direito”, diz Ross, da Universidade George Washington.

    Preço político

    Mesmo que nada seja provado contra Trump, o presidente pagará um alto preço político. “Até mesmo os críticos de Comey nunca o chamaram de mentiroso, enquanto o presidente tem, na melhor das hipóteses, uma relação ‘fraturada’ com a verdade”, diz Ross.

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    A  baixa popularidade do presidente americano caiu ainda mais com as revelações recentes. Uma pesquisa feita empresa Public Policy Polling nesta semana aponta que 48% dos americanos querem o início de um processo de impeachment.

    Além disso, apesar de ter maioria no Congresso, Trump enfrentará a deterioração da base política. O republicano, que já encontra resistência entre os membros de seu partido, deve ter ainda mais dificuldade para conseguir apoio.

    “O maior problema do confronto de palavras entre o ex-diretor do FBI e o presidente dos Estados Unidos é que, a cada medida equivocada do governo, a cada ataque mais intenso da mídia e a cada informação errada emitida pela Casa Branca, a confiança em Donald Trump diminui e corre-se o risco de a palavra do ex-diretor do FBI ser considerada mais séria que a do presidente. Isto seria uma tragédia,” diz Freitas, Faap.

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    “Caça às bruxas”

    Para garantir que, independentemente do que tenha acontecido, as investigações sobre os esforços do governo russo para influenciar as eleições sejam efetivas, o Departamento de Justiça americano nomeou, nesta quarta-feira, o ex-diretor do FBI, Robert Mueller, como promotor especial.  Trump não gostou nada. Depois de inicialmente apoiar a realização de “uma investigação minuciosa”, o republicano mudou de tom e reclamou da indicação Mueller, que configuraria a existência de uma “caça às bruxas”.

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