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Donald Trump deve perder hoje o controle republicano da Câmara

Aliados democratas de Barack Obama estão mais próximos de conquistar a maioria e de impor travas aos projetos da Casa Branca

Por Denise Chrispim Marin Atualizado em 6 nov 2018, 09h01 - Publicado em 6 nov 2018, 08h00

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vive nesta terça-feira o dia mais crítico de seu mandato. Ao escolherem os seus 435 representantes na Câmara dos Deputados, os eleitores americanos emitirão um julgamento desfavorável ao governo em curso e criarão uma trava Legislativa hoje inexistente aos próximos projetos e ações da Casa Branca.

Todas as pesquisas mostram que Trump perderá a maioria republicana na Câmara, a casa do Congresso onde um eventual processo de impeachment poderá ser deslanchado com base em investigações em curso. Na melhor das hipóteses para o atual presidente, a perda dessa confortável maioria poderá atrapalhar sua campanha “Trump 2020”, já em andamento extraoficialmente.

Os eleitores americanos elegem hoje os ocupantes de um terço das cadeiras do Senado, que deverá continuar com maioria republicana. Também serão escolhidos os governadores de 36 dos 50 estados americanos. Chamada de eleição de meio de mandato, o pleito desta terça terá exatamente o caráter de plebiscito do atual governo, como manda a tradição.

Trump poderá ignorar o resultado, publicamente. Mas terá de se adaptar a ele.

É comum os presidentes americanos verem seu partido perder terreno na primeira eleição para o Congresso depois de sua posse na Casa Branca e, para Donald Trump, não haverá exceção. Foi assim com o democrata Barack Obama em 2010 e em 2014. O republicano George W. Bush perdeu o controle do Congresso em 2006. Mas quatro ano antes, pela terceira vez desde o fim da Guerra Civil, em 1866, o partido do presidente saiu-se vitorioso em uma eleição de meio de mandato.

A média das pesquisas calculada pelo portal Real Clear Politics mostra que, em 39 dos 435 distritos eleitorais do país, os candidatos republicano e democrata para a Câmara dos Deputados estão empatados. Mas os democratas, com vantagem em 202 distritos, estão mais próximos de alcançar a maioria de 218 cadeiras. Os republicanos tinham, até a segunda-feira, 194 possíveis vitoriosos.

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A vantagem para os democratas já foi bem maior durante esta campanha. Em 3 de outubro, a diferença alcançou 17 pontos, com os democratas na frente em 206 distritos. Mas, nas últimas semanas, o discurso incendiário de Trump contra o ingresso de imigrantes ilegais no país, enquanto três caravanas de centro-americanos estão a caminho dos Estados Unidos, e a melhoria dos indicadores econômicos, com a mais baixa taxa de desemprego dos últimos 50 anos, tiveram impacto na opinião do eleitorado republicano.

Pesquisa do Washington Post e ABC News mostra que, para 71% dos eleitores americanos, a situação econômica dos Estados Unidos se apresenta como boa ou excelente. Entre os republicanos, 21% concordam que a imigração “é uma das questões mais importantes” para a definição de seus votos. Há três semanas, apenas 14% disseram isso.

Entre os democratas, ao contrário, houve queda de 23% para 11% entre os que acreditam ser o tema relevante. Essa pesquisa foi realizada com 1.255 pessoas entre os dias 29 de outubro e 1 de novembro, por telefone. A margem de erro é de 3,5 pontos para cima e para baixo.

Trump alardeou ambos os temas em seus posts no Twitter e nos comícios que participou. Chegou a declarar, na Casa Branca no dia 1º, que as forças de segurança responderiam a bala contra imigrantes que viessem a atirar-lhes pedras, para no dia seguinte mudar o tom. Determinou o envio de 5.000 militares para a fronteira, ameaçou o México se não detivesse as caravanas e disse que ampliaria o contingente às margens do Rio Grande para 15.000 homens.

Principal liderança democrata, o ex-presidente Barack Obama respondeu a Trump e fez marcação cerrada nos estados em que a disputa está mais acirrada. O plano do atual presidente para a fronteira, segundo Obama, é um “truque político” e tática de distração do eleitorado.

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Andrew Gillum discursa no Centro Comunitário Wakulla, em Crawfordville, comunidade localizada no estado americano da Flórida – 05/11/2018 (Shannon Stapleton/Reuters)

Tanto Obama quanto Trump dispenderam tempo e ânimo na Flórida, onde uma das disputas mais emblemáticas destas eleições envolverá o prefeito de Tallahassee, o democrata Andrew Gillum, e um fiel companheiro do presidente americano, Ron DeSanctis.

Se vencer, Gillum será o primeiro governador afro-descendente da Flórida. Segundo a média das pesquisas calculada pelo Real Clear Politics, o democrata estará com 49,4% das intenções de voto, enquanto o republicano DeSanctis tem 45,4%. A campanha de DeSanctis sofreu um revés no final de agosto, quando o candidato valeu-se de uma expressão de cunho racista para se referir a seu opositor.

“A última coisa que precisamos fazer é macaquear para abraçar uma agenda socialista com enorme aumento de impostos e falências neste estado. Isso não vai funcionar. Não será bom para a Flórida”, afirmara o republicano.

Segundo o portal Roll Call, pelo menos 10 dos atuais deputados republicanos correm risco de não se reelegerem nos seus distritos, onde Trump venceu em 2016. No 17º distrito da Pensilvânia, o presidente tivera vantagem de 21 pontos sobre sua concorrente democrata, Hillary Clinton. Agora, o deputado Keith Rothfus está desafiado, em desvantagem, pelo seu colega democrata Conor Lamb, que atualmente representa o 18º distrito.

No 22º distrito do estado de Nova York, a deputada republicana Claudia Tenney está prestes a ser derrotada pelo democrata Anthony Brindise, deputado estadual.  Trump havia ganhado por 16 pontos nessa localidade.

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Democratas novatos em disputadas eleitorais – sobretudo, mulheres – também ameaçam as posições de veteranos republicanos. No 27º distrito da Flórida, a atual deputada republicana Ileana Ros-Lehtiner, ex-presidente do Comitê de Relações Exteriores da Câmara, decidiu não disputar a reeleição. Sua retirada de cena abriu espaço para a candidatura da também republicana María Salazar, que está em empate técnico com a democrata Donna Shalala, de origem libanesa.

Em recente entrevista a VEJA, Shalala, afirmou que está recebendo doações de campanha de eleitores republicanos, contrariados com o governo de Donald Trump.

Onda rosa

Esta eleição de meio de mandato bateu o recorde de participação de mulheres na disputa pela Câmara, Senado e governo de estados. A “onda rosa” envolveu também candidatas negras, latino-americana, e de origem árabe e indígena. Muitas delas têm reais chances de vitória.

A candidata do Partido Democrata, Alexandria Ocasio-Cortez, conversa com apoiadores em Nova York – 22/09/2018 (Don Emmert/AFP)

A ativista comunitária Alexandra Ocasio-Cortes, de origem porto-riquenha, emplacou sua agenda “socialista democrática” no 14º distrito de Nova York – os bairros do Bronx e Queens –, onde venceu em julho as primárias democratas contra o veterano deputado Joe Crowley. Competirá agora contra outra veterana, a republicana Elise Stepanik, com vantagem nas pesquisas.

Pela primeira vez na história dos Estados Unidos, uma nativa deverá ser eleita deputada federal pelo 1º distrito do Novo México. A democrata Deb Haaland está disparada na frente nas pesquisas eleitorais nos em relação a sua concorrente republicana, Janice Arnold-Jones.

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A candidata do Partido Democrata, Deb Haaland, conversa com voluntários na cidade de Albuquerque, localizada no estado americano do Novo México – 04/11/2018 (Brian Snyder/Reuters)

Stacey Abrams tem chances de se tornar a primeira mulher negra a governar um estado americano. No caso, o da Georgia, no Sul americano ainda arraigado ao racismo. Abrams está empatada com o republicano Brian Kemp, que ainda tem uma vantagem de 2,8 pontos porcentuais sobre ela, segundo o Real Clear Politics.

Da mesma forma, a democrata transgênero Christine Hallquist, compete pelo governo do estado de Vermont, porém com menos chances de vencer o atual governador, Phil Scott, que concorre à reeleição.

Tirar da poltrona

Nas eleições americanas, é raro um eleitor registrado como democrata ou republicano mudar de lado. As posições políticas são muito mais cristalizadas do que tradicionalmente no Brasil, por exemplo. Uma parcela minoritária do eleitorado, porém, não se compromete nenhum nenhum dos partidos e vota conforme seus princípios e interesses.

Em toda eleição americana, o maior desafio dos candidatos é tirar o eleitor de seu partido do trabalho, de casa ou do lazer e fazê-lo votar. O dia de votação não é feriado, e o voto não é obrigatório. Ao contrário do que acontece no Brasil, voluntários das campanhas se organizam para buscar os eleitores em suas casas e para garantir que toda a vizinhança de seu partido votou. O eleitor tem de ser motivado para se levantar da poltrona.

Um elemento que ajuda é a possibilidade de o eleitor votar antecipadamente e, para aqueles com problemas de mobilidade, de enviar seu voto pelo correio. Dos 50 Estados americanos, 37 mais o Distrito de Colúmbia (Washington) permitiram essas opções. Em 2016, mais de 47 milhões de pessoas anteciparam seus votos. A eleição deste ano promete superar esta marca.

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A apuração começa só depois de as urnas serem fechadas em cada estado. Diferente do Brasil, onde o comando das eleições está no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nos Estados Unidos cada estado – e em alguns deles, cada condado – é responsável pelo pleito local.

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