Documentos mostram obsessão de Trump com investigação de ingerência russa
James Comey revelou conversas com o presidente, coletadas durante meses, em que ele chama a investigação sobre a Rússia de 'nuvem negra' sobre seu governo
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos entregou na quinta-feira à noite aos líderes de três comitês da Câmara dos Representantes os memorandos nos quais o ex-diretor do FBI, James Comey, coletou detalhes das suas conversas com o presidente Donald Trump. Os documentos revelam a obsessão do presidente com o tema da interferência russa nas eleições presidenciais americanas.
Três legisladores republicanos receberam os memorandos: o presidente do Comitê Judicial, Bob Goodlatte; o líder do Comitê de Supervisão do Governo, Trey Gowdy; e o chefe do Comitê de Inteligência, Devin Nunes. Trata-se de sete documentos que Comey redigiu desde janeiro de 2017, quando Trump tomou posse, até maio desse mesmo ano, momento no qual foi demitido pelo presidente. A dispensa ocorreu depois que Comey teria se negado a jurar lealdade a Trump na investigação sobre a ingerência russa nas eleições de 2016.
Os sete documentos são parte central sobre a apuração da chamada trama russa, que, após a demissão de Comey, passou às mãos do promotor especial Robert Mueller.
Comey entregou um desses memorandos ao jornal The New York Times, que os disponibilizou em seu site, para revelar as tentativas de Trump para fechar a investigação e provocar a nomeação, como finalmente ocorreu, de um promotor especial.
Os legisladores que receberam os memorandos investigam possíveis negligências no comportamento do Departamento de Justiça e do FBI antes das eleições de 2016, sob o governo de Barack Obama.
Em entrevista à emissora CNN, Comey disse que apoiava a entrega dos memorandos ao Congresso e garantiu que sempre respalda qualquer esforço por transferência.
Nos documentos, Comey detalhou como Trump lhe pediu que pusesse fim à investigação sobre a Rússia e acabasse com a parte relativa ao ex-assessor de Segurança Nacional, Michael Flynn, que se demitiu devido aos seus comprovados contatos com o Kremlin.
De acordo com os registros, Trump “disse que estava tentando dirigir o país e que a nuvem negra deste assunto da Rússia tornava isto difícil”. Onze dias depois, o presidente pressionou novamente Comey sobre o tema, afirmando que “estava tratando de fazer seu trabalho pelo país, visitando líderes estrangeiros, e que qualquer nuvem, mesmo que pequena, prejudicaria isto”, escreveu Comey.
Pelo Twitter, o presidente afirmou existir uma “caça às bruxas” por parte de Comey. “Os memorandos de James Cooney mostram claramente que não houve conluio nem obstrução. Além disso, ele vazou informações confidenciais. Uau! A caça às bruxas vai continuar?”, escreveu.
Os registros também revelam a investigação sobre o uso que a candidata presidencial democrata Hillary Clinton fez de um e-mail particular para tratar assuntos oficiais quando era secretária de Estado (2009-2013).
Depois de meses de silêncio, Comey voltou à esfera pública com a publicação nesta semana do seu livro de memórias, intitulado A Higher Loyalty: Truth, Lies, and Leadership, no qual afirmou que Trump governava como um “chefe da máfia”.
(Com EFE e AFP)