Em entrevista ao jornal japonês Sankei Shimbun, o desertor norte-coreano Oh Chong-son afirmou que seus compatriotas não têm lealdade para com o ditador do país, Kim Jong-un. Filho de um general, ele era soldado quando empreendeu uma fuga espetacular, sob chuva de balas, da Coreia do Norte.
“Na Coreia do Norte, as pessoas e, especialmente, as gerações mais jovens são indiferentes umas às outras, à política e a seus líderes. Não há senso de lealdade”, disse Oh, que se disse “indiferente” ao reinado de Kim, terceiro da dinastia que dirige a Coreia do Norte com mão de ferro.
“Provavelmente, 80% da minha geração é indiferente e não tem sentimento de lealdade”, insistiu.
Sua espetacular fuga pela fronteira na localidade de Panmunjom, na Zona Desmilitarizada (DMZ) que divide a península em dois Estados. Apesar do nome, a DMZ ainda é uma das áreas mais perigosas e policiadas do mundo. Em consequência dos ferimentos em sua fuga, Oh foi hospitalizado em estado grave.
É bastante rara a deserção de soldados norte-coreanos em Panmunjom, um importante destino turístico e o único local na fronteira onde as duas Coreias ficam frente a frente. O local foi palco do primeiro encontro entre os líderes dos dois países desde 2007, ocorrido em abril deste ano. Desde então, Kim Jong-un e o sul-coreano Moon Jae-in negociam um acordo definitivo de paz, em paralelo às conversas entre Pyongyang e os Estados Unidos sobre a desnuclearização norte-coreana.
O soldado de 25 anos informou viver em condições privilegiadas, como parte da “classe alta” norte-coreana. Na entrevista, ele rechaçou as especulações da imprensa sul-coreana de que era procurado por assassinato em seu país.
Na entrevista, ele contou ter bebido muito, depois de uma briga com amigos, e cruzado um posto de controle da fronteira. Temendo ser executado, decidiu continuar seu caminho adiante. “Eu estava com medo de ser executado se recuasse, então, cruzei a fronteira”, disse ele, acrescentando que não se arrependia de sua deserção.
Sua identidade foi confirmada pelos serviços de inteligência japoneses. O jornal publicou também um vídeo no qual o soldado desertor aparece com uma jaqueta preta e fala com sotaque norte-coreano. Seu rosto, porém, não é mostrado.
O Ministério sul-coreano da Unificação se negou a comentar a informação.
Lee Cook-jong, o médico sul-coreano que cuidou de OH, contou que o jovem já está empregado na Coreia do Sul e comprou um carro.
(Com AFP)