O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, considerou nesta terça-feira, 3, “muito ofensiva” a declaração do líder francês, Emmanuel Macron, sobre a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Em uma entrevista à revista The Economist em novembro, Macron afirmou que a Otan está em “estado de morte cerebral” pela falta de coordenação estratégica entre aliados europeus, de um lado, e de Estados Unidos e Turquia, de outro.
Além disso, o francês criticou e chamou de “louca” a invasão da Turquia aos territórios curdos na Síria em outubro, para combater o Estado Islâmico (EI) e o Exército de Proteção Popular (YPG). A ação de Ancara ocorreu dois dias após o início da retirada de tropas americanas da região, ordenada por Trump.
“Acho muito ofensivo”, declarou Trump durante coletiva de imprensa com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, antes do início da cúpula do 70º aniversário da organização em Londres.
“Ninguém precisa mais da Otan do que a França. É uma declaração muito perigosa para eles”, disse. “Eles têm uma taxa de desemprego muito alta na França. A França não está indo bem economicamente”, acrescentou.
Trump se encontrará com Emmanuel Macron nesta terça para discutir com o presidente francês as queixas contra a organização.
Sublinhando o tamanho da desavença no bloco transatlântico, louvado por seus apoiadores como a aliança militar mais bem-sucedida da história, Trump voltou a exigir que a Europa pague mais pela defesa e que também faça concessões a interesses comerciais dos Estados Unidos.
Ligando explicitamente sua queixa de que a Europa não paga o suficiente pelas missões de segurança da Otan à sua defesa firme dos interesses comerciais de Washington, parte de sua política “América Primeiro”, Trump disse que é hora de o continente “tomar jeito” nas duas frentes.
“Não é certo ser abusado na Otan e também ser abusado no comércio, e é isso o que acontece. Não podemos deixar isso acontecer”, disse ele a respeito das disputas transatlânticas, que vão do setor aeroespacial a um imposto de serviços digitais europeu sobre gigantes de tecnologia americanas.
Minimizando os sinais recentes de que a Alemanha está disposta a fazer mais para cumprir a meta da Otan de gastar 2% do produto interno bruto (PIB) com a defesa, Trump acusou Berlim e outras capitais que investem menos do que a meta de serem “delinquentes”.
O ataque de Trump veio poucas horas depois do surgimento de divisões entre outros membros da entidade — a Turquia prometeu se opor a um plano da Otan para defender países bálticos a menos que esta a apoie reconhecendo a milícia curda YPG como um grupo terrorista.
Os combatentes da YPG são aliados de longa data dos Estados Unidos na luta contra o Estado Islâmico na Síria. Ancara a considera uma inimiga devido aos seus laços com insurgentes curdos no sudeste turco.
Além do encontro com Macron, Trump irá ao Palácio de Buckingham nesta terça para participar da recepção oferecida pela rainha Elizabeth II aos líderes que participarão da cúpula, com a qual recordarão a fundação da Otan para garantir a segurança da Europa e da América do Norte depois da II Guerra Mundial.
A rainha Elizabeth II receberá os líderes no Palácio de Buckingham, mas mesmo os anfitriões britânicos, que há gerações estão entre os defensores mais entusiasmados da Otan, estão desunidos a respeito de seu projeto de saída da UE e distraídos com uma eleição agressiva que acontecerá na semana que vem.
(Com Reuters)